6 de out. de 2013

Solidariedade de Daniel Alves não se limita a Abidal: ‘Eu daria meu fígado ao Neymar’

Daniel Alves acha que Barcelona errou por não ter renovado com Abidal: ‘Faltou sensibilidade’
Daniel Alves acha que Barcelona errou por não ter renovado com Abidal: ‘Faltou sensibilidade’ Foto: Ivo Gonzalez
Marluci Martins
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Nenhuma das roupas espalhafatosas de Daniel Alves surpreendeu mais o mundo do que uma nobre decisão tomada na surdina. Há 20 dias, o lateral francês Éric Abidal, recuperado de um câncer, anunciou que o brasileiro, seu ex-companheiro de Barcelona, lhe oferecera parte do fígado. A ideia não foi levada adiante devido a algumas incompatibilidades, mas, em entrevista exclusiva, Daniel Alves garante que repetiria a oferta a alguns amigos, ainda que o gesto colocasse em risco o futebol que estará mostrando, com a camisa da seleção, nos amistosos do próximo sábado, contra Coreia do Sul, em Seul, e no dia 15, contra Zâmbia, em Pequim.
Você está ao lado do Neymar na pré-lista da Bola de Ouro da Fifa. Quem tem mais chance?
É um pouco injusta essa forma de disputa. Um defensor nunca vai competir com um atacante. Neymar tem mais chance do que eu, por sua qualidade. Não posso ser comparado a um jogador como o “Ney”. Ele agora vive o que não vivia no Brasil. Está no foco. Está provando que pode ser o melhor do mundo.
Como é o convívio entre Neymar e Messi, que parece sempre tão arredio?
Messi é assim aos olhos dos demais. Internamente, é fantástico. Neymar veio para o lugar certo, está feliz e mora perto de mim.
Qual é o seu papel na adaptação do Neymar?
Ele é um garoto fantástico, que tem facilidade em se adaptar. Aqui não há estrelismo. Ele é um fenômeno e a galera tem a mesma "vibe". Eu explico como funciona tudo. Por onde deve avançar ou não. Passo a ele minhas experiências de vida.
Vocês já conseguiram fazer o resto do time gostar de pagode?
Ah, eles não gostam, mas têm que aturar, porque a gente também atura a música deles. Messi também não gosta, mas é obrigado a escutar porque sou eu que escolho as músicas. Sou eu que levo o Ipod para o vestiário.
Você tem moral para ser o DJ do Barcelona?
Fui conquistando essa posição. Eles têm que escutar o que gosto, mas tento ser eclético para que todos entrem motivados no jogo. Mas tem sempre um reclamão. Boto Thiaguinho, Ivete, Arlindo, Mumuzinho, Revelação, mas tem que ter uma ‘cumbia’, né? O Messi gosta. E o presidente tem que estar bem servido.
O francês Abidal revelou que você ofereceu parte do fígado para ele. Por que fez isso?
Tenho uma relação maneira com a família dele. Quando vi que o câncer voltou, depois de ele ter extirpado inicialmente o problema, me ofereci. Para mim, o futebol é secundário. É uma profissão. Não pode ser considerado mais importante do que a vida de alguém. Não sou um cara estudado, mas Deus me deu inteligência para que eu me saia bem de outras formas se tiver que pôr em risco a minha carreira.
Como você chegou à conclusão de que deveria oferecer seu fígado?
Pesquisei sobre o assunto nos livros. Não conversei nem com o médico do Barcelona, porque não queria que ninguém soubesse. Vi que havia um risco de eu não poder mais jogar, mas estava em jogo a vida de um amigo. Eu era casado, e minha mulher concordou com minha opção. Como Abidal estava isolado, sem poder ter contato com ninguém, comunicamos minha intenção à esposa dele.
Por que a ideia não foi adiante?
Por algumas exigências... Teria que ser alguém do mesmo biotipo. Até o fato de eu ser mais baixo atrapalhou. Um primo dele foi doador. Deu tudo certo.
A quem mais você daria parte do seu fígado?
A familiares, amigos... Eu daria meu fígado ao Neymar. Faria isso pelo Messi, pelo Adriano (do Barcelona), um cara que conheço desde que cheguei no Sevilha.
O Barcelona foi correto com o Abidal?
No meu modo de ver, faltou sensibilidade por parte do Barcelona, que não renovou o contrato. O pior já tinha passado, e ele já estava recuperado. Tanto que está no Monaco jogando.
O Barcelona não costuma implicar com suas roupas exóticas?
Eu já era assim com menos possibilidade... Não é agora que estou rico (risos)... Não é agora que tenho mais possibilidade que vou deixar de usar o que sempre gostei. Desde pequeno, nunca quis ser igual a ninguém. Sempre quis ser diferente. Defendo minha personalidade e acho isso bacana. Vaidade não é coisa só de mulher. E eu não tenho que me molestar com a opinião de ninguém. Defendo a minha verdade. Esse é o Dani. A diferença em relação ao Brasil é que aqui (na Europa) a gente respeita o próximo. Mas não vá pensar que vou à praia de terno e gravata.
Como era o seu estilo na infância e adolescência?
Nas fotos, meus irmãos estão sempre arrumados e acanhados. E, eu, todo babado, com a chupeta torta na boca e a mão no bolso. Eu usava óculos extravagantes. Mas não tinha recurso. Hoje, graças a Deus tenho a possibilidade de realizar essas minhas vontades.
Qual é a roupa mais extravagante do seu armário?
A que mais causou impacto foi minha calça preta de bolinhas brancas que comprei em Londres. O brasileiro tem medo da crítica. Quando você vem para a Europa, perde esse medo.
Gostou do terno de bolinhas que o Messi usou ao receber a Bola de Ouro?
Acho que ele se inspirou na minha calça, pois comentou comigo que eu ia gostar da roupa que usaria. Os patrocinadores dele foram inteligentes. Eu adorei e pedi: “Meu, quando você cansar dessa p..., dá pra mim”.
Ele te deu?
Infelizmente, não. Acho que ele vai usar de novo (risos).
Por que o cabelo do Neymar está mais discreto? Exigência do Barcelona?
Aqui não há regra para isso. A questão é que as pessoas do nosso time são tão simples, que você se sente até mal em fazer algo diferente.
É verdade que nas férias você surfou escondido, em Búzios?
Não foi escondido. Teoricamente, o Barcelona pede que não se pratique esporte que cause lesão. Mas acho que a felicidade está no risco. Você tem que arriscar e ser feliz, mas sempre tomando cuidado, pois há uma profissão em jogo.
O Barcelona é ainda o melhor time do mundo? E a seleção brasileira é melhor do que a espanhola?
O Barça continua sendo o melhor do mundo. Tem os melhores jogadores e é o time mais equilibrado. A seleção brasileira é, historicamente, a melhor. Mas, no momento, não é. O título está com a Espanha e, para conseguir isso, o Brasil tem que ganhar a Copa


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