30 de out. de 2013

Lembra Dele? Herói em 90, Fernando aposta no Fla: 'Deixou chegar...'

Flamengo e Goiás só se enfrentaram em uma edição da Copa do Brasil. Justamente a de 1990, em que fizeram a decisão da competição. E o Rubro-Negro levantou o caneco com vitória por 1 a 0 no primeiro jogo e empate na finalíssima, por 0 a 0, no Serra Dourada. Autor do único gol do embate, o ex-zagueiro Fernando, perguntado se acredita no tri, disse apostar num famoso mantra oba-oba da torcida. (veja em vídeo ao lado o gol do título de 1990)
- Não tenho como comparar histórias (entre os elencos de 1990 e o atual), cada um tem sua grandeza. Certamente esse elenco atual, com a camisa que veste, vai sentir a força do Manto. Só digo o seguinte: deixou o Flamengo chegar, é difícil parar - avisou.
De reconhecida qualidade técnica e "artilheiro", Fernando, que hoje vive em Santos e anda afastado do futebol desde 2009, trata o gol do título de 1990 como algo inigualável em sua trajetória.
- Postei o vídeo do gol no Facebook, e o pessoal do Flamengo está fazendo uma festa lá (risos). É histórico. O que mais vale na nossa vida é ficar marcado para sempre, ainda mais num clube como o Flamengo. Tive grandes momentos e não classifico qual é o mais importante, o mais importante é a história que você constrói. Agora, um gol pelo Flamengo numa decisão de Copa do Brasil é incomparável e é para poucos. Agradeço ao Homem de lá de cima por ter me dado essa oportunidade.
Fernando Matos (Foto: Divulgação)Fernando exibe certificado ganho em curso ministrado por Vanderlei Luxemburgo (Foto: Arquivo pessoal)
Curioso é que, no jogo do gol de Fernando, a torcida compareceu em número reduzidíssimo. Com o Maracanã interditado, a diretoria mandou a partida em Juiz de Fora-MG, onde o contingente de rubro-negros é muito grande. Porém, a data e o horário foram fatores complicadores, segundo o ex-atleta. E o público foi de apenas 2.437 pagantes.
- O jogo foi numa quinta-feira à tarde (em 1º de novembro de 1990), o Maracanã estava em reforma (uma ventania próxima à data do jogo causou danos ao estádio, o que acabou resultando na interdição). Isso tirou um pouco do brilho. Uma das coisas absurdas do nosso futebol brasileiro foi marcar um jogo desses numa quinta-feira à tarde. Foi complicado, com o público muito pequeno inclusive. Foi muito inexpressivo em relação ao jogo no Serra Dourada, com quase 60 mil pessoas, numa quarta-feira à noite.
Na finalíssima, dia 7 de novembro daquele ano, em Goiânia, Fernando não pôde jogar, pois foi expulso no fim do primeiro jogo. Resultado: virou torcedor e viveu momentos de enorme tensão até o apito final.
- Foram dois jogos extremamente complicados. O Goiás tinha um timaço, com Túlio, Luvanor, o Batata. O nosso gol aconteceu aos 16 minutos do segundo tempo. O Djalminha cruzou a bola pela esquerda e me antecipei ao Batata. Infelizmente, nesse jogo fui expulso e não pude participar da final, mas viajei com a delegação. Sofri pra burro, ficar fora é muito difícil. Os melhores momentos daquele jogo mostram o quanto o Goiás bateu na porta da nossa defesa. O Zé Carlos foi fantástico, mas também atacamos com o Renato e o Gaúcho.
Fernando Matos, ex-zagueiro de Flamengo e Vasco (Foto: Arquivo Pessoal)Fernando tem foto do jogo em que Bujica ofuscou a estreia de Bebeto pelo Vasco. Em pé: Junior, Zé Carlos, Josimar, Fernando, Aílton, Leonardo. Agachados: Alcindo, Luís Carlos, Zico, Bujica e Zinho (Arquivo Pessoal)
Hoje com os clubes que disputam a Libertadores de volta à Copa do Brasil, a segunda competição mais importante do calendário nacional voltou a ser muito valorizada. Em 1990, ainda embrionária e em sua segunda edição, ainda sofria certa resistência. No caminho do Flamengo só apareceu um campeão brasileiro, o Bahia, nas quartas de final. Os outros adversários foram Capelense-AL, Taguatinga-DF, Náutico (semifinal) e Goiás.
- Vendo a nossa campanha, realmente alguns clubes não tinham tanta expressão no mercado brasileiro. Só a partir das quartas de final que fomos enfrentar clubes mais conhecidos, mas isso não tira a grandeza do nosso título. A final foi contra o Goiás, que tinha um grande time e valorizou demais a nossa conquista.
Gol na despedida de Zico
O ano de 1990 não foi especial para Fernando apenas pelo gol do título da Copa do Brasil, mas também por outro feito: fez o primeiro do empate por 2 a 2 entre Flamengo e World Cup Masters no dia 6 de fevereiro daquele ano, data que marcou a despedida de Zico com a camisa rubro-negra.
- São essas coisas que marcam. Apesar de ter sido uma passagem curta, de apenas um ano pelo Flamengo, foi muito marcante. Na despedida do Zico, fiz dois gols com dois passes do Zico, mas um o juiz anulou. No fim, dei a camisa para o Bruno, filho dele, e disse: "Não tenho outro presente para o seu pai que não seja a camisa do gol da despedida (risos)". Isso foi muito legal.
Fernando Matos Lembra dele (Foto: Arquivo Pessoal)Afastado do futebol desde 2009, Fernando vive hoje em Santos (Foto: Arquivo Pessoal)
Interessante é que Fernando, antes de iniciar sua curta passagem pela Gávea - compreendida entre agosto de 1989 e dezembro de 1990 -, marcou seu nome no Vasco. Bicampeão carioca em cima do Flamengo, destacou-se com grandes atuações e acabou sendo chamado de "Pelé da Zaga", apelido que o enche de orgulho até hoje.
- Quem fez essa matéria foi a Rádio Globo. Quando o Vasco entrava em campo, um vascaíno assumido (Áureo Ameno) lia uma espécie de poema que me comparava ao Pelé. E a torcida adotou e passou a cantar isso. Acho que o triênio 1986/87/88, em que fizemos três finais com o Flamengo, resultou nessa cultura de reconhecimento da torcida do Vasco. Quem sou eu para ser comparado ao nosso rei? Mas é um reconhecimento fantástico.
E como conquistou a torcida rubro-negra depois de tanto sucesso em São Januário? Segundo Fernando, a receita foi simples: sempre evitou juras de amor a qualquer clube.
- Saí do Vasco em 1988 para Portugal (onde jogou pelo Louletano). Lá não deu muito certo. Em 1989 o Vasco tirou o Bebeto do Flamengo, e aí o Fla resolveu montar um timaço. Trouxe Renato e Junior, que estavam na Itália, Josimar, Zanata e me contrataram também. Com essa equipe a gente obteve o título (da Copa do Brasil). Eu tinha um histórico muito bom com o Vasco no Rio, tive uma passagem muito boa por lá, mas nunca vendi essa história de pele ou de amor por um clube. Sempre fui muito profissional. Honrava da melhor maneira possível a camisa que vestia. Fui para o Flamengo jogar o meu melhor futebol e foi muito marcante (a passagem). Honrei a camisa do Flamengo e a do Vasco da mesma maneira.
Fernando Matos, ex-zagueiro de Flamengo e Vasco (Foto: Arquivo Pessoal)No Vasco campeão carioca de 1987, em pé: Paulo Roberto, Acácio, Fernando, Henrique, Mazinho e Donato. Agachados: Tita, Geovani, Roberto Dinamite, Luís Carlos e Romário (Foto: Arquivo Pessoal)
No Vasco: 'Pelé da Zaga' e entrada em Márcio Nunes
Ainda com a camisa do Vasco, Fernando acabou protagonista de um lance que vitimou um "algoz" rubro-negro. No ano de 1988, numa dividida, ele contundiu Márcio Nunes, do Bangu, o mesmo que deu violenta entrada em Zico num Fla x Bangu de 1985 e que provocou séria lesão no joelho do Galinho, obrigado a passar por artroscopia. Fernando disse que a sua jogada foi ocasional (veja os dois lances no vídeo abaixo).
- Outra grande passagem da história da minha vida e da história do futebol. O lance do Márcio (no Zico) foi uma jogada inconsequente, ele foi com o pé alto contra o Zico. Foi um crime aquilo lá, dava para ser evitado. Ao contrário do que aconteceu comigo. Ele foi lançado nas costas do Mazinho, saí na cobertura e o Márcio veio para cruzar. Estiquei a perna e ele veio chutando. A perna dele dobrou sobre a minha, foi uma total fatalidade. Conversei com ele depois no vestiário. Ele sabia que eu não tinha maldade. Depois nos encontramos num shopping e nos falamos numa boa. Acho que ele teve a mesma lesão que o Zico, sei lá se isso é o destino. Mas nunca fui de fazer faltas dessa forma e não consigo imaginar que outros jogadores pensem em machucar um companheiro de profissão.
Como o assunto principal é a Copa do Brasil, Fernando, fora do futebol desde 2009 - quando deixou a gestão do futebol da Portuguesa Santista -, encerrou a conversa falando do quão importante foi para si fazer parte do elenco campeão de 1990, que considera qualificadíssimo.
- Só tenho elogios à qualidade técnica que nós tínhamos no elenco. Era Leandro (se aposentou no primeiro semestre de 1990 e não conquistou a Copa do Brasil), Zinho, Renato Gaúcho, Gaúcho, Zé Carlos, Piá, Junior, Leonardo... Trabalhar com atletas desse nível só nos engrandece. Foi um orgulho ter jogado com eles - concluiu.

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