15 de jun. de 2012

A Era Cristiano Ronaldo: muita histeria por nada


O repertório dele é vasto. Chuta com muita competência de vários lugares do campo, de várias formas diferentes, com a bola parada ou em movimento. Tem velocidade, tem drible. E até ajuda na marcação! Já foi eleito, com justiça, o melhor do mundo. Liderou o Manchester na conquista da Liga dos Campeões em 2007/2008. Brilhou também no Campeonato Espanhol. Este ano, fez uma grande partida, na casa do Barcelona, no jogo que, na prática, foi a final do campeonato. Entre outros feitos pelos clubes que defendeu…
Estes são os fatos e para um jornalista é a morte querer brigar com eles. Mas vou cometer um suicídio aqui: nunca acreditei muito em Cristiano Ronaldo. Pelo menos da maneira como muitos acreditam… Faz parte. Eusébio foi um monstro de jogador e opina que, na visão dele, Pelé não foi tudo isso. Deve ter lá os motivos dele, além da óbvia inveja.
Como nunca tive talento para ser jogador de futebol (e minha área de atuação é outra), decididamente não sinto o mesmo pelo português.
A qualidade técnica do Cristiano Ronaldo também é óbvia e não vou discuti-la. O que eu discuto é o que ela faz com ela. Algo que não se pode mensurar objetivamente. Mas Cristiano Ronaldo sempre me passa a impressão de que está mais preocupado com a imagem que vai ficar dele em campo. E não exatamente o que vai acontecer com o TIME que defende. E, como cada um analisa futebol do seu jeito, para mim isso faz o atacante português voltar cinco, sete casas. E também faz com que ele decida menos jogos do que poderia, para quem tem tanta capacidade.
Querem um exemplo? Termina o jogo com a Dinamarca (atuação muito ruim do craque e capitão da equipe, o pior em campo) e em vez de responder às críticas que recebia afirmando que o mais importante foi ver o time dele ganhar, chavão ao qual recorreriam 99% dos jogadores, Cristiano Ronaldo me solta uma infeliz comparação com o Messi. Lembrou que, no ano passado, nesta mesma época do ano (na verdade, a Copa América foi em julho), Messi estava perdendo uma competição continental dentro de casa.
Mas estamos falando de jogo, bola, e não de nariz empinado, rebaterão alguns leitores. Perfeito. Eu também. Isso faz toda a diferença, da maneira como eu assisto a este esporte. Messi “perdeu” a Copa América tentando fazer o sucesso do time dele. Como aliás sempre faz. Cristiano Ronaldo, ao contrário, parece estar muito mais preocupado com o prêmio de melhor do mundo.
Outros bons jogadores, como Rooney, sabiamente não aceitam comparações com Messi. É uma roubada querer ser comparado com o baixinho que, hoje, está em outro patamar, pratica o jogo em nível muito mais elevado que qualquer mortal. Cristiano Ronaldo, porém, insiste em querer ser colocado neste mesmo patamar. Quanto maior for a pretensão, maior a cobrança.
Não sou maluco de afirmar que Cristiano Ronaldo é mau jogador. É um grande atacante. Poderia ser muito mais, pela qualidade técnica (e física) com que foi abençoado. No par ou ímpar, ainda escolho outros nomes antes do dele… Gente que, para mim, joga mais para o time e decide mais. Como Rooney, Xavi, Iniesta e até o Drogba (quando está a fim). É só uma opinião…
PSICOLOGIA DE BOTECOVISK
O que não entendo é como uma simples opinião sobre um jogador pode despertar a ira de tanta gente. Antes, o que despertava a ira das pessoas no futebol era falar que o time delas não era bom ou algo do gênero. Mas talvez a “Era Cristiano Ronaldo” seja a era do individualismo e das superestrelas mesmo. Pelo menos na internet e nesse negócio frenético que é o Twitter, fazendo as pessoas xingarem antes de respirar.
Ao dizer essas coisas que penso de jogadores superbadalados (e engomados) como Cristiano Ronaldo e Van Persie (outro que para mim não passa de bom atacante), o Twitter sempre é invadido por gente que se sente ofendida (vai entender…) e em troca resolve ofender a mim e a outros profissionais que pensam dessa forma.
Deve haver uma boa explicação para isso (a qual minha psicologia de botequim não alcança) e aceito sugestões.
Aqui durante a Euro, nós do Sportv contamos várias histórias sobre intolerância entre povos (especialmente russos e poloneses) e de massacres que esta gente, que hoje sedia a competição, sofreu ao longo dos tempos. Também descrevi, mais de uma vez, como é duro ser negro e morar no Leste Europeu em vários programas que fizemos de Varsóvia. Estes casos (muito mais importantes que a opinião de um jornalista sobre Cristiano Ronaldo) renderam um punhado de “replies” de gente que ficou curiosa por mais informação ou se sentiu indignada. Mas falar de Van Persie e Cristiano Ronaldo, vejam só, isso sim é campeão de comentários e “indignação”.
Pena que Stalin não tenha jogado no CSKA e a Polônia não tenha nenhum time semifinalista da Liga dos Campeões. Talvez assim as grandes histórias dessa Euro chamassem mais a atenção de algumas pessoas. E a discussão (menor) sobre o que pensamos de Cristiano Ronaldo se desse como realmente deveria ser: dando risada e tomando vodka em algum “botecokski”.

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