Mario Balotelli tem muita história para contar. Seus 21 anos mal caberiam dentro de uma dessas biografias que são vistas nas livrarias mundo afora. Seu jeito polêmico, que geralmente passa - e muito - dos limites não agrada a todos, mas é inegável que o camisa 9 da Itália tornou-se uma ilha de personalidade em um meio cada vez mais controlado por empresários e assessores de comunicação. E um novo capítulo está prestes a ser escrito. No trecho que conta a história da Eurocopa de 2012, Balotelli é protagonista - seja para o bem ou para o mal.
Polêmicas são inevitáveis. O racismo, infelizmente, não fica fora. Mas tiveram também os gols - três, até agora. O primeiro, silencioso e belo, contra a Irlanda. Os dois últimos, mais do que decisivos, contra a Alemanha, na semifinal. Neste domingo, o atacante do Manchester City poderá ser campeão europeu: a Azzurra encara a Espanha, em Kiev, a partir das 15h45m (de Brasília), com transmissão ao vivo do GLOBOESPORTE.COM, TV Globo e SporTV.
Balotelli divide a artilharia da Euro com o russo Dzagoev, o croata Mandzukic, o alemão Mario Gomez e o português Cristiano Ronaldo. Só ele segue no torneio, mas Fernando Torres e Fàbregas, da Fúria, com dois até o momento, ainda podem estragar a festa na luta pela chuteira de ouro. O camisa 9 da Itália dificilmente será eleito o craque da competição, já que nem mesmo namelhor atuação da carreira (segundo as palavras do próprio) recebeu o prêmio de destaque do jogo, que ficou com Pirlo (veja o vídeo ao lado). Um "título", no entanto, não dá para tirar do atacante: ele é o grande personagem da competição.
O atleta do Manchester City coleciona uma lista de atitudes controversas, declarações quentes, gestos polêmicos (boa parte deles, segundo Balotelli, fantasiados pelos tabloides britânicos) e nem tantos lances geniais dentro das quatro linhas. Mas não dá para dizer que Mario, filho de imigrantes ganeses e adotado por italianos de Brescia aos três anos de idade, não tenha potencial. Abaixo, um resumo da conturbada epopeia e os “causos” do personagem que, com apenas 21 anos, parece ter vivido mais que qualquer veterano.
O atleta do Manchester City coleciona uma lista de atitudes controversas, declarações quentes, gestos polêmicos (boa parte deles, segundo Balotelli, fantasiados pelos tabloides britânicos) e nem tantos lances geniais dentro das quatro linhas. Mas não dá para dizer que Mario, filho de imigrantes ganeses e adotado por italianos de Brescia aos três anos de idade, não tenha potencial. Abaixo, um resumo da conturbada epopeia e os “causos” do personagem que, com apenas 21 anos, parece ter vivido mais que qualquer veterano.
Adoção, Lumezzane e rejeição no Barça
Filho de Thomas e Rose Barwuah, imigrantes ganeses que moravam em Palermo, Mario ganhou o sobrenome Balotelli aos três anos de idade, já na cidade de Brescia, quando os pais, sem condições financeiras para cuidar do filho, o entregaram ao casal Francesco e Silvia Balotelli.
Apesar de ter surgido no futebol com a camisa do Inter de Milão, Balotelli não foi revelado nas categorias de base clube. Sua origem está no modesto Lumezzane, da Terceira Divisão.
Sua estreia profissional foi aos 15 anos de idade, pelo Lumezzane. No fim de 2005, por intermédio de seu irmão de criação e empresário, Corrado Balotelli, fez um teste nas categorias de base do Barcelona, mas acabou reprovado.
Cidadania italiana e revelação nerazzurra
Em 2007, após passar seis meses atuando por empréstimo na base do Inter de Milão, foi contratado pelo clube nerazzurro. No mesmo ano, em 16 de dezembro, contra o Cagliari, estreou pela equipe que era então comandada pelo seu atual técnico no Manchester City, Roberto Mancini.
Cidadania italiana e revelação nerazzurra
Em 2007, após passar seis meses atuando por empréstimo na base do Inter de Milão, foi contratado pelo clube nerazzurro. No mesmo ano, em 16 de dezembro, contra o Cagliari, estreou pela equipe que era então comandada pelo seu atual técnico no Manchester City, Roberto Mancini.
Foi nessa época que surgiu a oportunidade de defender a seleção de Gana. Até então jovem revelação do Inter de Milão, ele recusou a proposta para não ficar impedido de defender a Itália. Daí por diante, passou a ser considerado a grande joia do clube e foi mais utilizado quando ganhou a cidadania italiana, aos 18 anos, sem precisar ser inscrito como extracomunitário.
Início das polêmicas em Milão
Início das polêmicas em Milão
Ao mesmo tempo em que dava seus primeiros passos com a camisa do Inter, Balotelli já começava a inflar sua extensa lista de problemas. E as primeiras polêmicas foram com ninguém menos que José Mourinho. Então treinador do time, o português constantemente reclamava do comportamento "relaxado" de Balotelli e rapidamente começou a puni-lo.
- Um jovem como ele não pode trabalhar menos que jogadores como Figo, Córdoba ou Zanetti. Não posso aceitar isso de um jogador que ainda não é ninguém no futebol, além de um talento e uma promessa. Tem de trabalhar melhor e compreender as coisas com mais clareza - disse Mourinho, em dezembro de 2008.
Foi nessa época que Balotelli começou a ganhar a atenção da mídia por suas atuações fora dos gramados. Afinal, não é nada normalum jogador do Inter de Milão vestir a camisa do Milan em um programa de televisão. Balo nunca escondeu sua admiração pelo maior rival. Tanto é que, ainda na época de Inter, ele já admitia torcer pela outra força do futebol milanês. O sentimento era mútuo, e os dirigentes rossoneros diziam que a jovem revelação italiana era um sonho de consumo.
A torcida do Inter, por sua vez, não perdoava e pegava no pé da jovem revelação. A relação era conflituosa, e Balotelli, em uma ocasião, atirou a camisa azul e preta no chão, além de fazer gestos obscenos aos torcedores, após ter sido xingado durante duelo contra o Barcelona pela Liga dos Campeões.
Respeito de Adriano e idolatria por Ronaldo
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Em meio às polêmicas, a relação com os companheiros seguia boa. O atacante Adriano, quando foi emprestado pelo Inter ao São Paulo, em 2009, elogiou a relação com Balotelli e disse que mantinha contato regular com a jovem revelação.
- Quando eu voltar à Itália, quero muito jogar com Balotelli e Ibrahimovic. O Mario me liga sempre, e tenho ótima relação com Ibra. Espero convencer o técnico a me escalar - disse o Imperador, que, na época, ainda tinha contrato com o clube italiano.
"Amigo de Adriano", Balotelli deixou por vezes transparecer sua admiração por outro atacante brasileiro: Ronaldo. Foram várias as vezes que o atual camisa 9 da Azurra usou a palavra ídolo para citar o Fenômeno. Mais recentemente, inclusive, o atacante do Manchester City disse que o campeão mundial de 2002 era "como um Deus para ele".
Garoto (problema) de Manchester e estrela dos tabloides ingleses
Com a imagem desgastada na Itália após inúmeras atitudes controversas, a solução encontrada pelos dirigentes do Inter foi a transferência do atacante. E o destino apontava para outro time azul: o Manchester City pagou 24 milhões de libras (cerca de R$ 72 milhões) no dia 12 de agosto de 2010 e levou Balotelli para o futebol inglês.
Quem achava que o novo camisa 45 do City (ele fez questão de manter o número) iria ficar longe das confusões, enganou-se totalmente. Foi justamente em Manchester, onde tinha fama e dinheiro de sobra, que ele virou presença constante nos tabloides da Terra da Rainha. Só não dá para falar que ele economizava no salário: além de gastar fortunas em bares, clubes noturnos e carros luxuosos (isso sem contar as multas), o camisa 45 chamava a atenção em atos inusitados, como na vez que deu uma esmola de R$ 2,5 mil para um mendigo.
Quem achava que o novo camisa 45 do City (ele fez questão de manter o número) iria ficar longe das confusões, enganou-se totalmente. Foi justamente em Manchester, onde tinha fama e dinheiro de sobra, que ele virou presença constante nos tabloides da Terra da Rainha. Só não dá para falar que ele economizava no salário: além de gastar fortunas em bares, clubes noturnos e carros luxuosos (isso sem contar as multas), o camisa 45 chamava a atenção em atos inusitados, como na vez que deu uma esmola de R$ 2,5 mil para um mendigo.
A lista de polêmicas é extensa: atirou dardos em um jogador das categorias de base do clube, invadiu uma escola para ir ao banheiro, incendiou a própria casa com fogos de artifícios (situação que fez com que a vizinhança não o quisesse mais no condomínio), envolveu-se em inúmeros problemas relacionados à vida noturna, brigou com os laterais Jérôme Boateng e Micah Richards, foi acusado de ligação com a máfia italiana e até deixou uma partida contra o Dínamo de Kiev, pela Liga Europa, por suposta alergia à grama.
Balotelli e Mancini: amor e ódio
A relação com o técnico Roberto Mancini merece uma atenção especial. O treinador que levou o jogador para Manchester chegou ao ponto de dizer que Balotelli não entraria mais em campo na temporada, após o cartão vermelho na derrota por 1 a 0 para o Arsenal, no dia 8 de abril.
- Não confio no Balotelli. Ninguém confia no Mário. É um jogador de alto nível. Ele pode fazer tudo. Na próxima semana pode marcar dois gols contra o Arsenal, mas também pode levar um cartão vermelho. Até agora ele esteve bem, e nos últimos oito jogos pode ser importante para nós. Mas confiar nele? Nunca! - disse Mancini, na semana anterior ao duelo contra o Arsenal.
A negociação acabou não acontecendo, e o episódio culminou apenas com um afastamento. Bom para Mancini, já que o camisa 45 tornou-se uma peça relativamente importante em campo - inclusive com dois gols na goleada por 6 a 1 sobre o rival Manchester United (com direito a uma camisa "Por que sempre eu?" na comemoração).
Para completar a temporada de ouro do City, o italiano deu o passe para o gol do título inglês, marcado pelo argentino Sergio Agüero na vitória por 3 a 2 sobre o Queens Park Rangers, já nos acréscimos do segundo tempo.
Na relação de amor e ódio com Balotelli, Mancini também expõe os defeitos do atacante na imprensa inglesa. O técnico revelou, por exemplo, que o jogador é fumante.
- É, eu sei que ele fuma. Para mim, isso não é legal, mas não sou o pai ou a mãe dele. Se ele fosse meu filho, eu lhe daria um chute na bunda. Mas ele não é meu filho! Eu falei para ele que seria melhor se não fumasse, sou sempre contra o cigarro. Há jogadores que fumam na Itália e aqui na Inglaterra também. Não acho que Mario fume muito, uns cinco ou seis cigarros por dia. Mas eu pedi para que parasse - disse Mancini.
Racismo, problema constante na carreira do atacante
Balotelli também nunca escondeu a mágoapor ser vítima de racismo. Por vezes, esse sentimento foi de raiva, como na ocasião em que disse que mataria quem o ofendesse na Eurocopa.
O destino tratou de mostrar que a ameaça ficou apenas nas palavras, já que o atacante foi alvo das provocações da torcida espanhola na partida de estreia da competição continental. Mas ele preferiu responder no campo. As federações de Espanha e Croácia acabaram punidas pela Uefa por causa de ofensas de seus torcedores em partidas contra a Itália (Balotelli foi o alvo principal).
A parte triste da história na carreira do atacante vem de longa data, desde a época de Itália. Na Velha Bota, Balo arrumou problemas com torcedores e até adversários por conta de racismo. As provocações foram constantes, e outros atletas mostraram solidariedade ao italiano, como o brasileiro Kaká e o francês Thuram.
Personagem famoso do mundo da bola
Mas nem só apoio Balotelli recebeu por parte dos colegas de profissão. Famoso por suas jogadas violentas, o holandês De Jong já criticou Balotelli por ter sido expulso em uma partida. Outros deram conselhos ao jovem atacante, como o argentino Tevez. O talento, entretanto, já foi celebrado pelo companheiro de Azurra Buffon e, saindo do mundo da bola, pelo líder da banda Oasis, Noel Gallagher, torcedor fanático do City. Até Beckham, ídolo maior do rival United, já pediu uma camisa de Balotelli.
Chance de consagração na Eurocopa
Polêmicas, racismo e gols: todos esses assuntos que acompanharam Balotelli durante a curta carreira chegaram à Euro. Após uma estreia apagada contra a Espanha, Balotelli foi obrigado a engolir as críticas e aceitar o banco de reservas na partida contra a Irlanda - a terceira na fase de grupos. Veio o gol neste mesmo jogo (veja ao lado), e a redenção começava a se desenhar.
Contra a Inglaterra, nas quartas de final, ele assumiu a responsabilidade e cobrou o primeiro pênalti da disputa. Vitória. Diante da Alemanha, dois gols, a melhor atuação da carreira e o passaporte carimbado para a final. O domingo pode marcar a consagração do jovem atacante, com a artilharia e o título. Falta agora o camisa 9 escrever o último capítulo.
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