Rússia grandiosa, mas com falhas, é apresentada na cerimônia de abertura

FALHAFloco de neve que viraria anel olímpico 
não abre

VERDE E AMARELOBrasileiros entram de mãos dadas no estádio olímpico de Sochi

COMEÇOUVeja os melhores momentos da cerimônia de abertura

Uma Rússia gigante, formada através de sonhos, muito trabalho, da cultura de seu povo, se esqueceu por algumas horas da crise, dos problemas de segurança e da intolerância. Os 50 bilhões de dólares, que transformam as Olimpíadas de Sochi nas mais caras da história, começaram a ser justificados. Com uma festa grandiosa, porém marcada por algumas falhas, os 22º Jogos de Inverno começaram oficialmente nesta sexta, com a cerimônia de abertura no Estádio Olímpico de Fisht.  

A falha que mais chamou a atenção aconteceu na apresentação dos anéis olímpicos, quando um deles não abriu. Durante o desfile dos atletas, a delegação brasileira foi recebida com carinho, como as ex-repúblicas soviéticas. Os russos foram apresentados com a trilha sonora da dupla t.A.T.u, que fez sucesso na década passada pelo apelo lésbico, mas que depois se revelou uma jogada de marketing. A cerimônia teve como fio condutor a menina Lubov, que significa amor em russo. Ela passeou por belas paisagens russas e pelas representações da formação do país, como a Revolução de 1917 e o sonho socialista. Após passar pelas mãos de Maria Sharapova e Yelena Isinbayeva, a tocha olímpica foi acesa pelos ex-atletas de inverno Irina Rodnina e Vladislav Tretyak. 

Apesar de ter ocorrido com tranquilidade, durante a cerimônia surgiu a notícia de que um homem com uma bomba teria sequestrado um avião, obrigando-o a desviar para Sochi. Porém, antes do fim da festa tudo foi esclarecido. Tratava-se apenas de um passageiro bêbado.  

Confira a galeria de fotos com as melhores imagens da cerimônia de abertura de Sochi

Pira acesa em meio ao show de fogos: Olimpíadas de Inverno de Sochi oficialmente abertas (Foto: AP)

Cantores do programa "The Voice" russo deram início à cerimônia. Um vídeo repleto de recursos gráficos apresentou a Rússia de A a Z. Seus grandes nomes, como Dostoiévski, Nabokov, Kandinsky, Chagal, Eisenstein, e as grandes invenções, como a tabela periódica, a estação espacial, o satélite Sputnik, o balé russo, a televisão e o paraquedas. 

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 Depois dos fogos do lado de fora, a menina Lubov foi alçada aos céus por entre nuvens. Ao som de "Voando nas asas do vento", de Aleksandr Borodin, ela passeou por paisagens russas, em ilhotas também suspensas por cabos, como os Montes Urais, montanhas símbolo que separam a porção asiática da europeia do país. O estádio é coberto, mas parecia nevar. Um coral ao redor da pista anunciou os anéis olímpicos, que surgiriam de flocos de neve. Um deles, porém, não abriu. E os fogos de artifício que se seguiriam também não estouraram. O presidente do Comitê Olímpico Thomas Bach e o presidente russo Vladimir Putin foram anunciados na tribuna de honra para a execução do hino da Rússia e o hasteamento da bandeira do país. Um clip resumiu o revezamento da tocha e em um mapa mundi foi projetado na pista do estádio. Era chegada a hora dos principais artistas. 

Uma rampa no meio da pista se abriu para a o início do desfile das delegações. Como sempre, a Grécia, berço dos Jogos, foi o primeiro dos 88 países a serem apresentados. A delegação brasileira, com 21 pessoas, entre atletas e membros de comissão técnica, foi a 15ª a desfilar, entre a Bósnia e a Macedônia, e foi bastante aplaudida. Jaqueline Mourão, do biatlo, levou a bandeira e alguns dos atletas desfilaram de mãos dadas. 

- Eu já participei de outros quatro Jogos Olímpicos, mas nunca vou me esquecer deste dia. Fiquei nervosa no início do desfile. Eu tentei passar a minha energia para todo mundo dentro do estádio, por isso balancei bastante a bandeira. Achei que passou rápido. Com a energia que eu estava, dava mais umas três voltas no estádio - disse Jaqueline.

Jaqueline Mourão comanda a delegação do Brasil na abertura da Olimpíadas de Inverno (Foto: AP)

O desfile reservou várias curiosidades. Um atleta da Áustria levou um tombo ao entrar. Bastante empolgado, o porta bandeira da Venezuela saiu correndo e cativou o público ao lado de seus dois colegas de delegação. Sua felicidade tem motivo. Aos 8 anos ele foi diagnosticado com um tumor no cérebro e desenganado pelos médicos. Todas as ex-repúblicas soviéticas foram bastante aplaudidas. Mesmo a Georgia, que ameaçou não participar das Jogos de Inverno devido aos conflitos armados em 2008, e a Ucrânia, que passa por uma crise econômica com a Rússia. As numerosas e poderosas delegações da Alemanha e do Canadá chamaram a atenção. Os 230 atletas americanos também levantaram o público com seu casaquinho estilo "tricô da vovó". Atletas das Ilhas Cayman desafiaram os 3 graus e se apresentaram em simplórios chinelos e bermudas. A delegação de Bermudas fez jus ao nome do país e entrou no estádio olímpico de bermuda. Um atleta indiano, cujo comitê do país está suspenso, desfilou sob a bandeira do Comitê Olímpico Internacional.  

Dow Travers, porta bandeira da Ilhas Cayman: chinelo e bermuda sob 3 graus (Foto: Reuters)

O presidente François Holande aplaudiu os franceses, os eternos simpáticos jamaicanos foram recebidos com carinho e os japoneses entraram com bandeiras de seu país e da Rússia. Última delegação a desfilar, os donos da casa foram recebidos com a vibração de um gol. Os 270 atletas desfilaram ao som de "Nas ne dogoniat" ("Eles Não Nos Pegarão"), da dupla t.A.T.u. As moças surgiram nos anos 2000 após se beijarem no clip da música "All The Things She Said". A pecha de grupo lésbico, porém, era marketing. Como possivelmente o uso da canção nesta sexta para demonstrar uma aceitação aos gays.

Mais um espetáculo pirotécnico deu início à segunda parte da cerimônia. Versões gigantes das mascotes passearam pela pista: o leopardo, a lebre e o urso polar, que lembra o Misha dos Jogos de Moscou 1980, ambos sem nomes. Um vídeo sobre o descobrimento da Rússia terminou com mais uma conquista, a construção do parque olímpico de Sochi. 

Catedral de São Basílio transforma o estádio olímpico na Praça Vermelha de Moscou (Foto: Reuters)

Os cavalos de Tróia entraram no estádio e sob o sol quebraram a gigantesca geleira até os castelos da catedral de São Basílio avançarem em formato de peixe. Lubov reapareceu e o estádio se transformou em uma imensa e colorida Praça Vermelha de Moscou em meio aos dançarinos cossacos. 

Em seguida, o estádio se transformou no Mar Negro para a entrada do navio de Pedro, o Grande. O romance Guerra e Paz, de Tostói, foi representado por um batalhão que desfilou sobre as projeções das batalhas, pela dança dos casais e as disputas amorosas da obra máxima da literatura russa. A Revolução de 1917 entrou no estádio representada por uma locomotiva gigante sobre uma fábrica. E chegava o sonho socialista. Prédios se ergueram e o espaço sideral foi conquistado. Entraram o jornal Pravda e os carros. Uma foice e um martelo gigantes sobrevoaram o estádio e carinhos de bebês representaram o nascimento da Rússia. A menina Lubov foi suspensa novamente aos céus por uma bola vermelha e pairou sobre outra maior, azul.

Foice e o martelo passeiam na abertura dos Jogos de Sochi: o sonho do socialismo (Foto: AFP)

O momento do acendimento da pira se aproximava com um vídeo exibindo o passeio da tocha pelo país. Nos discursos oficiais, o presidente do Comitê Organizador de Sochi, Dmitry Chernyshenko, disse que os Jogos serão "quentes em nossos corações e frios para heróis e novas marcas". Presidente do Comitê Olímpico Internacional, o alemão Thomas Bach lembrou que os Jogos Olímpicos são pontes para unir os povos: 

- É um festival que abraça a diversidade humana. Líderes políticos, seus atletas são os melhores embaixadores de seus países. Tenham a coragem de tratar seus desacordos diretamente, e não nas costas deles - disse o dirigente, para em seguida Putin, sempre sério, declarar abertos os Jogos de Sochi. 

Ao som do "Lago dos Cisnes", de Tchaikovsky, bailarinos representaram pombas da paz. A bandeira olímpica chegou conduzida por oito celebridades russas, como Valentina Tereshkova, primeira mulher a ir ao espaço, e hasteada. Após a execução do hino olímpico, foi feito o juramento dos atletas, juízes e treinadores. 

As 15 modalidades de sochi representadas por 'constelações' na cerimônia de abertura (Foto: AP)

Na última parte da cerimônia, o estádio olímpico virou um gigantesco ringue de gelo com 220 patinadores representando os deuses olímpicos. As 15 modalidades dos Jogos foram apresentadas como constelações, preparando o ponto alto da cerimônia. Um puck de um "jogador hóquei" acendeu a chama olímpica, conduzida ao estádio pela tenista Maria Sharapova. A tocha passou pelas mãos da saltadora Yelena Isinbayeva, do ex-lutador Alexandr Karelin, da ginasta Alina Kabaeva e finalmente encontrou Irina Rodnina e Vladislav Tretyak. A dupla deixou o estádio, cercada por todos os participantes da cerimônia, e acionou um dispositivo que acendeu a pira olímpica em meio a mais um show de fogos de artifício. A "Sagração da Primavera", de Stravinski, encerrou a festa. 

As Olimpíadas de Inverno ocorrem entre os dias 6 e 23 de fevereiro, e o SporTV.com fará cobertura diária em Tempo Real. A cerimônia de abertura será no dia 7. O SporTV e a TV Globo transmitem algumas provas ao vivo.