17 de fev. de 2014

Fernandinho põe fim a estigma de brasileiros em Manchester e vira ídolo



Manchester, cidade industrial do norte da Inglaterra, pouco amada pelos sul-americanos, menos atraente ainda para jogadores brasileiros. Foram muitos os que já passaram por uma das metrópoles mais emblemáticas do futebol europeu: Robinho, Maicon, Elano, Kléberson, entre outros. Mas nenhum deles conseguiu exibir suas melhores qualidades com a bola nos pés. Alguns são até alvo de piada de certos torcedores pelo fraco rendimento em campo. Mas há um, nascido em Londrina, que está mudando a opinião dos britânicos. Fernando Luiz Roza, de 28 anos, chegou e conquistou a torcida com categoria e já é considerado o melhor brasuca da história do City.
- É um jogador top, dá muita qualidade ao time, segura a bola, dá estabilidade ao meio-campo. É muito bom. Sem dúvida é o melhor brasileiro que passou por aqui, os outros não foram bem. Eu me lembro do Jô e do Elano, que teve alguns bons momentos, mas Fernandinho é bem melhor - observa o operário de 56 anos, Dean Kirby.
Treino Manchester City Fernandinho , Clichy e Demichelis (Foto: EfeServicios)Fernandinho entre Demichelis e Clichy: boa fase de brasileiro em Manchester é coisa rara (Foto: EfeServicios)

A adaptação de Fernandinho correu tão bem que não só rendeu ao brasileiro uma oportunidade de representar a Seleção no amistoso de 5 de março, contra a África do Sul, como ainda a disputa pelo título de melhor jogador da temporada do City.
- É fantástico. Está aprendendo o inglês muito rápido. É inteligente, se entende perfeitamente com o Yaya Touré. O time melhorou muito com ele. Pode ser considerado o jogador do ano (Men of the Season, prêmio atribuído todos os anos a um jogador de cada time da Premier League) - afirma o assessor de imprensa Sam Cooke.
Quem faz coro aos elogios a Fernandinho é outro forte candidato ao prêmio de melhor do City na temporada. Volante que faz o revezamento com o brasileiro nas subidas ao ataque durante as partidas, o marfinense Yaya Touré diz que o jogo do companheiro encaixa muito bem com o dele.
- Jogar com Fernandinho facilita muito a minha vida, ele se antecipa muito bem aos atacantes adversários. Os brasileiros têm muita qualidade técnica. Estou muito contente por ele. É um jogador que tem muita qualidade e merece muito essa chance na seleção - afirmou Yaya Touré na entrevista coletiva na véspera da partida.
A expectativa é que Fernandinho possa ajudar mais o City nesta terça-feira. Recuperado de uma lesão muscular na coxa, o volante está no grupo convocado para enfrentar o Barcelona, pelas oitavas de final da Liga dos Campeões, às 16h45m (de Brasília) - o jogo tem transmissão em Tempo Real do GloboEsporte.com a partir de 16h.
CONCENTRAÇÃO NO TRABALHO

Manchester não é conhecida pela sua beleza, mas isso é só um detalhe para a maioria dos jogadores de futebol. Craques estrangeiros como Cristiano Ronaldo ou Erik Cantona que o digam. Os dois fizeram história com a camisa 7 do United e conquistaram o mundo como ídolos dos Diabos Vermelhos.
Com os brasileiros, porém, tudo foi diferente. A maioria se lamentava da cidade e sofreu com a difícil adaptação. Robinho, Elano, Maicon e Jô tiveram passagens apagadas pelo City e saíram sem glórias. Kléberson e Anderson também não foram lá muito bem no rival United. O time de Moyes ainda dispensou Fabio e mantém apenas Rafael no elenco, mas o lateral-direito está longe de ser um ídolo. Para Fernandinho, a cidade nunca foi um problema.
Como a Ucrânia não é considerada um país com um grande nível de futebol, imprensa e torcedor já olharam para mim de forma diferente. Depois, havia a dúvida se iria dar certo por ser brasileiro. Mas com trabalho e dedicação consegui superar todas essas barreiras"
Fernandinho
- Eu sempre estive focado, independentemente de onde vivesse. E isso é super importante para um atleta que gosta de vencer e conquistar títulos. Para mim, Manchester é tranquila, é uma cidade que te permite concentrar no trabalho - afirmou o volante na sua nova cidade.
Fernandinho desembarcou em Manchester em julho de 2013, depois de uma negociação difícil com o Shakhtar. Mal chegou à cidade, topou com várias barreiras. Desde cedo, sofreu com a má ligação entre brasileiros e os torcedores do clube e ainda sentiu algum preconceito por vir do futebol ucraniano.
- Como a Ucrânia não é considerada um país com um grande nível de futebol, imprensa e torcedor já olharam para mim de forma diferente. Depois, havia a dúvida se iria dar certo por ser brasileiro e porque os outros jogadores brasileiros não tinham ido bem no clube. Mas com trabalho e dedicação consegui superar todas essas barreiras - afirmou o volante.
Treino Manchester City Fernandinho (Foto: EfeServicios)Fernandinho treina antes de jogo contra o Barça: elogios ao ambiente do City (Foto: EfeServicios)
Fernandinho tinha ideias claras e Manuel Pellegrini também. O técnico chileno pediu ao jogador de Londrina que atuasse ao lado de Yaya Touré. Em pouco tempo, a dupla se tornou no cérebro do time. A tarefa do brasileiro era mais defensiva, enquanto o marfinense teria mais liberdade para atacar. Mas, em poucos meses, Ferna – como é conhecido em Manchester - demonstrou ao técnico o seu faro de gols. Demorou, mas chegou em dose dupla, em 14 de dezembro, no duelo contra o Arsenal pelo Campeonato Inglês. Os Citizens venceram por 6 a 3, ele balançou as redes duas vezes e venceu o prêmio de "Man of the Match" (troféu atribuído ao melhor jogador em campo). Hoje, coleciona três deles, e exalta a parceria com Touré.
- Nós nos damos superbem, encaixamos bem, e acho que o nosso jogo se complementa. Eu sou o primeiro volante na frente da defesa, mas os dois sobem para atacar. Quando um está cansado, o outro dá cobertura e fica atrás. Está tudo perfeito - afirmou.
Fernandinho manteve a regularidade, permaneceu entre os titulares e rapidamente se tornou uma peça imprescindível. Para o volante, o segredo é o bom ambiente do grupo. Embora não conviva com mais qualquer brasileiro, ao contrário do que acontecia em Donetsk, aprendeu a falar inglês e até espanhol para se relacionar com os companheiros.
- Fui muito bem recebido, temos um bom ambiente e esse é um dos motivos para o sucesso do time em campo. O Richards é o mais engraçado, tenho uma relação legal com os espanhóis, o Navas, o Negredo, o Silva, e também com o Nasri, que é gente boa. Falamos espanhol, inglês, mas o idioma é o que menos importa, nós nos entendemos muito bem - conta o volante.
CHORO NA CONVOCAÇÃO

A relação com Manuel Pellegrini também vai às mil maravilhas. O técnico chileno fez campanha para a convocação do volante à Seleção. Em 24 de janeiro, disse  que não compreendia a ausência de um "jogador top" como Fernandinho no time brasileiro.
E a esperada convocação aconteceu alguns dias depois. Na hora de falar do retorno à Seleção, a lágrima aparece no canto do olho de Fernandinho, que recorda as mensagens da família e do pai, a quem atribui ser o grande responsável pela ascensão como jogador profissional.
- O meu pai me ensinou coisas muito importantes. Foi muito difícil, eu tinha que pagar a condução até o campo de treinos, que era bem longe de casa, e o meu pai não tinha mais dinheiro para o ônibus. Reduzi os treinamentos, comecei a ir só uma vez por semana, e meu pai passou até a ir trabalhar de bicicleta para eu poder treinar. Até que o pessoal lá perguntou porque é que eu não ia sempre, e expliquei que não tinha dinheiro para comprar passagem. Depois eles passaram a me pagar - comentou Fernandinho, recordando emocionado o esforço do pai e o choro dele ao saber da convocação do filho no dia 9 de fevereiro (assista abaixo à reportagem do Esporte Espetacular sobre a carreira do volante e seu retorno à Seleção).

Finalmente, Fernandinho terá a chance que pediu a Felipão. Ele não esquece que foi a ida para Manchester que lhe permitiu alcançar o sonho.
- O principal objetivo era voltar à Seleção. Eu sabia que me destacando numa liga forte poderia ser chamado. O tempo era curto, a Copa do Mundo está aí. Consegui ser titular, me afirmar e conquistar o carinho e respeitos dos fãs num país importante no futebol como a Inglaterra. Agora quero disputar a Copa do Mundo e cumprir os cinco anos de contrato em Manchester, uma cidade que me recebeu superbem e me deu a possibilidade de crescer e disputar títulos importantes.
A odiada Manchester dos brasileiros, será amada para sempre por um deles. Foi nesta cidade fria, de muita ventania, chuvosa e pouco querida que Fernando Luiz Rosa começou a construir o sonho de disputar a Copa do Mundo. Esse sonho está agora mais perto. E para Fernandinho, Manchester será sempre bonita

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