22 de set. de 2013

Há 50 anos, Madureira fazia visita inédita a Cuba e tirava foto com Che Guevara

Em 1963, Che Guevara recepcionou o time do Madureira em Cuba
Em 1963, Che Guevara recepcionou o time do Madureira em Cuba Foto: Arquivo pessoal
Rafael Oliveira
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Em maio de 1963, Cuba vivia um momento conturbado. Um ano antes, os Estados Unidos haviam decretado o embargo comercial que até hoje perdura. O Ocidente capitalista virara as costas para a ilha comunista. Menos o time do Madureira, que no dia 11 desembarcou por lá e se tornou o primeiro clube de futebol a pisar no país após a revolução de 1959.
A aventura caribenha teve escalas na Venezuela, Colômbia, Costa Rica, Cuba, México e El Salvador. Na ilha de Fidel, foram cinco jogos e cinco vitórias contra o Industriales (o campeão nacional), a seleção de Havana e combinados locais formados até por universitários. O último amistoso teve direito a encontro com o líder revolucionário Ernesto Che Guevara.
— Era uma simpatia. Os jogadores gostavam dele “pra burro” — disse Carlinhos Maracanã, presidente do clube na época.
Ex-presidente do Madureira, Carlinhos Maracana relembra encontro do time com Che Guevara
Ex-presidente do Madureira, Carlinhos Maracana relembra encontro do time com Che Guevara Foto: Rafael Oliveira
Além de fotos com o Che, os jogadores trouxeram histórias. Foram assediados por moradores dispostos a comprar suas roupas, já que muitos produtos não eram vendidos por lá. Ficaram hospedados em hotéis com gravadores escondidos pelo governo local. Antes de deixar o Brasil, o técnico Samuel Lopes reuniu o grupo para passar recomendações. Entre elas, não falar sobre política.
O Madureira tinha relações estreitas com o samba e com o jogo do bicho através de Natal da Portela, então diretor de futebol, e de Carlinhos Maracanã. Com o comunismo, jamais. Mas negócios são negócios. E quando o governo cubano quis trazer um time estrangeiro, o clube não pensou duas vezes.
— Para o Madureira, era importante aquela excursão. Em Cuba, quem financiou foi o próprio governo socialista — contou o historiador Ronaldo Luiz-Martins, que irá escrever um livro sobre o centenário do clube, em 2014.
Che Guevara recebeu a bola das mãos do empresário Zé da Gama
Che Guevara recebeu a bola das mãos do empresário Zé da Gama Foto: Arquivo pessoal
O responsável pela excursão foi o ex-presidente José da Gama. Com o mundo querendo ver de perto o futebol campeão em 1958 e 1962, ele negociou viagens de diversas equipes pelo planeta. O próprio Madureira já havia feito, em 1961, uma volta ao mundo de 144 dias que até hoje é recorde de permanência de um clube fora do Brasil.
— Ele (José da Gama) já tinha uma visão empresarial naquela época. Via mercado onde muita gente não via — disse Ronaldo.
Cinquenta anos depois, o clube guarda escassos registros dessa aventura. Dos jogadores ainda vivos, muito pouco se sabe. Mas a lembrança está lá, como diria o próprio Che, sem perder a ternura.
Um ano depois, grupo foi retido na China
Cuba não foi a única experiência comunista do Madureira. Em 1964, o time fez nova viagem pioneira. Desta vez, à China de Mao Tsé Tung. Detalhe: o Brasil já vivia sob ditadura militar, e a excursão foi feita sem a autorização da Confederação Brasileira de Desportos (CBD, a CBF da época), que não liberava os clubes para jogar em território chinês.
— A viagem à China não estava programada. No meio da excursão, o Zé da Gama surgiu com essa novidade que pegou todo mundo de surpresa — lembrou o radialista Deni Menezes, que acompanhou a delegação.
O time do Madureira é recepcionado na China pelo vice-primeiro-ministro, em excursão de 1964.
O time do Madureira é recepcionado na China pelo vice-primeiro-ministro, em excursão de 1964. Foto: Arquivo pessoal
Como o chefe da delegação, Jayme Teixeira, era militar, a excursão não criou nenhum mal-estar. Problema mesmo, só do outro lado do planeta:
— Justamente quando os jogadores estavam para retornar, 12 chineses foram presos no Brasil. Como retaliação, o governo chinês proibiu a delegação de deixar o país. E isso durou dez dias — contou Carlinhos Maracanã, que hoje lembra da história com bom humor. — Mas eles não ficaram presos. Foi só um susto.
Em 2014, comemoração do centenário
O cinquentenário da ida a Cuba acabou passando em branco no Madureira. Uma camisa comemorativa com a famosa foto do rosto de Che Guevara chegou a ser cogitada. Mas já não deve mais sair do papel. No entanto, outra data mais marcante não será esquecida: o centenário. Embora o clube tenha surgido nos moldes atuais em 1971, o ano de fundação adotado (1914) é o do Fidalgo Madureira Atlético Clube, embrião do Tricolor.
O time irá jogar em 2014 com um uniforme especial, idêntico ao primeiro usado pelo clube, que ao invés do grená atual usava o lilás. Embora ainda não haja uma data de lançamento definida, a promessa é de que a camisa seja usada no Estadual.
A diretoria contratou ainda os serviços de Ronaldo Luiz-Martins, historiador especialista em subúrbio do Rio, para se debruçar nos arquivos do clube e escrever o livro dos 100 anos, também ainda sem data para ser lançado.


Leia mais: http://extra.globo.com/esporte/ha-50-anos-madureira-fazia-visita-inedita-cuba-tirava-foto-com-che-guevara-10078555.html#ixzz2ffazDJQV

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