Os sorrisos durante o treinamento da tarde desta terça-feira, em Crystal Palace, refletiam a satisfação pelas vitórias nas duas primeiras rodadas do handebol nos Jogos Olímpicos. Entretanto, a preocupação de membros da comissão técnica e de Mayssa era evidente. Um dia após ser o destaque em sua estreia no torneio, a goleira reserva do Brasil era o centro das atenções. O motivo? A exibição diante de Montenegro ficou em segundo plano diante das declarações em que assumiu sua bissexualidade em entrevista, nesta segunda-feira, ao Uol.
Com um batalhão de jornalistas à espera das entrevistas, Mayssa fazia alongamento com olhar de preocupação no momento em que a assessora de imprensa da Confederação Brasileira de Handebol e a chefe de equipe, Rita Orsi, se aproximaram. Depois de um rápido diálogo, a goleira se levantou, colocou a mochila nas costas e deixaria o local em silêncio. Mas os repórteres, que conversavam com o treinador Morten Soubak, voltaram-se para ela e a pergunta sobre sua declaração foi inevitável. Na resposta, ela foi objetiva: só os Jogos interessam.
- Eu estou focada. O que vale agora é o que eu quero. Se a imprensa tiver alguma pergunta, que seja sobre o handebol, para falar das Olimpíadas e do foco.
Aparentemente assustada com a repercussão, Mayssa sorriu sem graça ao ser perguntada se havia algum arrependimento por conta da revelação.
- Eu não quero falar sobre isso. Quero falar só sobre o handebol agora. Só perguntas sobre isso, não de outra coisa. Sobre a minha vida privada, não.
A estratégia de evitar o assunto foi repetida pelo treinador dinamarquês.
- Não entendi nada. Qual é a pergunta?
Diante da repetição, adotou discurso semelhante ao de Mayssa.
- Não sei. Não tenho comentários sobre esse assunto. Se você quer conversar comigo, eu respondo sobre Olimpíadas, handebol, jogo, tática.... Não há problema algum.
Diante da insistência, disse que não lera nada sobre a polêmica envolvendo sua goleira.
- Do assunto da Mayssa, não li nada. Nem aqui nem na Dinamarca. Estou focado nos Jogos. O que saiu ou não, não li e não tenho comentários.
Chana admite: ‘Nós a aconselhamos a não falar’
Rita Orsi, chefe do handebol brasileiro em Londres, fez questão de falar diretamente do assunto, lembrando que não há polêmica, já que se trata de uma questão meramente particular.
- Não estamos pensando em colocar pedra em assunto nenhum. Só achamos que não é o momento de darmos valor a um tipo de conversa que vai desfocar. A Mayssa é uma grande goleira, vive uma fase maravilhosa. Uma situação natural da vida particular dela não nos diz respeito. Essa é uma situação natural do cotidiano de qualquer pessoa. Ela é amada e muito querida, além de grande atleta.
Companheira de posição de Mayssa e jogadora mais experiente da delegação, a goleira Chana também encarou o caso de frente. A chateação com a repercussão era visível, assim como a exposição de um assunto que foge do que acontece em quadra.
- Ninguém perguntou sobre o fato de termos jogado contra a maior jogadora da história. Estamos dispostas a responder tudo, mas ficamos chateadas. Gostaríamos de falar de tudo que passamos para conquistar um respeito que temos fora e não no nosso próprio país. Por que o foco ser na vida privada e não na atuação? Nós a aconselhamos a não falar sobre a vida privada - afirmou.
Chana não acredita, porém, que a polêmica vá causar danos à equipe brasileira ou à paraibana, que joga na França há seis anos e foi surpresa na lista olímpica, levando a melhor sobre Bárbara, cortada.
- Não acredito que vá atrapalhar. Estamos muito unidas e fortes. Vamos dar todo apoio a ela, que é uma menina muito forte.
Com duas vitórias, o Brasil é o segundo colocado no Grupo A do torneio olímpico, e encara a Grã-Bretanha, lanterna, nesta quarta, às 12h15m (de Brasília), na Caixa de Cobre, a casa do handebol no Parque Olímpico.
O torneio de handebol feminino em Londres conta com 12 seleções, divididas em dois grupos de seis. As quatro melhores de cada chave passam para as quartas de final. A partir dessa fase, os jogos são eliminatórios: quem perder está eliminado.
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