Não é exagero dizer que Lucas Piazon está na contramão dos jogadores de futebol de sua idade. Enquanto a maioria dos amigos sonha atuar um dia na Europa, o meia-atacante de 18 anos já recebe prêmios no Chelsea (ING), atual vencedor da Liga dos Campeões. A competição mais tradicional do Velho Continente é o objetivo de grande parte dos atletas. Piazon já está perto dela, mas deseja, daqui a dez anos, ter a chance de jogar a Libertadores.
O garoto está tão na contramão que teme entrar nela, literalmente. No início deste ano, tirou carta de motorista em Londres, onde mora há oito meses. Acostumado à mão inglesa, em que o motorista fica do lado direito do carro, ele não tem se aventurado nas ruas de São Paulo, agora que está de férias no Brasil.
Quero jogar a Libertadores, ganhar, brigar pelo título brasileiro. Estou num lugar maravilhoso, mas quero buscar as coisas aqui também"
Lucas Piazon, meia do Chelsea
- Para mim o normal é lá. Todas as ruas em Londres praticamente são de duas mãos, não existe contramão. Aqui tenho medo de entrar numa rua errada, acho meio perigoso. Vou tentar praticar um pouco com meu pai porque nunca fui de pegar o carro - afirmou.
Com semblante e tom de voz sempre tranquilos, o ex-são-paulino aparenta maturidade incomum para sua idade. E tem aproveitado as férias para matar a saudade de coisas do país: a música sertaneja, tanto que já foi fotografado curtindo em casas noturnas típicas da capital paulista, o assédio feminino, que ele jura ser maior pelas redes sociais do que pessoalmente, apesar de estar solteiro, e sobretudo as peladas e disputas de videogame com os amigos.
Lucas também circula tranquilamente pelas ruas. É abordado por um ou outro fã do futebol inglês, ou torcedor do São Paulo, clube onde despontou para o futebol e chegou a ter uma briga judicial, fruto do desentendimento entre seu empresário Giuliano Bertolucci e os dirigentes tricolores. Apesar do clima ruim e da venda para o Chelsea por 7,5 milhões de euros, o jovem gostaria de defender o São Paulo um dia, de preferência na Libertadores.
- Quero voltar daqui a uns dez anos, se tudo correr bem para mim, voltar para jogar bem. Cresci vendo o Paulista, o Brasileiro, a Libertadores... Quero jogar uma Libertadores, ganhar, brigar pelo título brasileiro. Estou num lugar maravilhoso e quero fazer minha carreira na Europa para buscar as coisas aqui também.
Lucas Piazon, do Chelsea, durante entrevista em SP (Foto: Sergio Gandolphi/Globoesporte.com)
O primeiro semestre foi melhor do que Lucas imaginava. Conquistou o respeito de torcedores, dirigentes e até dos mais experientes jogadores do Chelsea. Num jantar, que marcou o fim da temporada e premiou os destaques, o brasileiro recebeu o troféu de melhor jovem do ano. Muito por conta de ter sido herói na conquista da FA Cup para jogadores com até 18 anos. O desempenho lhe rendeu elogios até do capitão John Terry:
- Parabéns, foi merecido - disse o zagueiro
A partir de julho, o meia-atacante fará pré-temporada ao lado da equipe principal, nos Estados Unidos. Mais uma chance de se entrosar, missão para a qual tem a ajuda do zagueiro David Luiz e do volante Ramires. Além de brasileiros, o trio tem o mesmo empresário (Bertolucci) e um amigo em comum: o iraniano Kia Joorabchian, cujo restaurante em Londres já virou ponto de encontro dos atletas do Chelsea.
Lucas Piazon foi eleito o melhor jovem do Chelsea
A esperança de Lucas é fazer parte definitivamente do elenco, ficar no banco de reservas em alguns jogos, como já aconteceu na última rodada do Campeonato Inglês, e, quem sabe, ser inscrito no Mundial de Clubes da Fifa, em dezembro, no Japão.
Para isso, Piazon se oferece até mesmo para ser um “informante” do técnico Roberto Di Matteo caso Corinthians ou Santos vençam a Libertadores e disputem o torneio.
- Eu torço para que um time brasileiro ganhe, melhor do que se forem Boca ou La U. O Santos tem talentos individuais e o Corinthians um conjunto muito bom. Seria muito legal se houvesse esse confronto, espero estar lá pelo menos para ver de pertinho.
Um possível duelo entre Chelsea e Santos representaria o primeiro embate entre Piazon e Neymar. Embora não sejam grandes amigos, estiveram juntos no aniversário de 19 anos do atacante do Peixe e no sorteio das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2014. Mas a prova do fenômeno em que Neymar se transformou veio em Hong Kong, durante excursão dos jovens da equipe inglesa.
- Tinha uns moleques com camisetinha do Brasil, chuteira laranja e cabelo do Neymar. É impressionante. Acho que se deve ao estilo de jogo dele, de ir para cima, driblar, brincar, dançar... Isso conquista a molecada.
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