5 de jul. de 2012

Fla-Flu do futuro: mirins driblam pressão e escrevem suas histórias


Sonho de gente grande, com calção que quase chega à canela. Dribles copiados de ídolos, dados por chuteiras tamanho 35. Gritos de incentivo das arquibancadas acompanhados de um "levanta a cabeça, filho". Um clássico de emoções, que vale um choro de mãe, um orgulho de pai. Afinal, é Fla-Flu, mas é sub-13.
No ano em que o confronto entre Flamengo e Fluminense completa cem anos, o GLOBOESPORTE.COM foi buscar o futuro. Na Vila Olímpica da Mangueira, sob a sombra do Maracanã, meninos de 11 a 13 anos disputaram a final do Campeonato Carioca de Futsal na categoria Mirim. O Tricolor entrou em quadra com uma faixa com a frase "a história começa aqui", e, assim como no primeiro Fla-Flu da história, o placar foi ao seu favor, 4 a 3, com gols de Kennedy (2), Felipinho e João Caetano. Pelo Fla, Michael marcou dois, e Rafael, um. Como já havia vencido o primeiro jogo da decisão por 7 a 3, o Flu levantou a taça.
fla-flu crianças futsal (Foto: André Durão/Globoesporte.com)Jogadores do Sub-13 entram em quadra com faixa comemorativa (Foto: André Durão/Globoesporte.com)
Ao apito final, uma cena aprendida com os maiores. Assim como o time profissional fez com Abel Braga, durante a coletiva do título estadual deste ano, os pequenos jogaram a água do cooler em cima do técnico Sergio Leiros. Travessura de criança inspirada em gente grande.
- A satisfação de ver esses meninos campeões não tem preço. É um grupo vencedor, com muita qualidade. Espero que o caminho deles seja muito próspero. A gente só dá o primeiro empurrão. O futuro está nas mãos deles - disse o treinador.
FlaxFlu 100 anos futsal crianças (Foto: André Durão / Globoesporte.com)Técnico leva banho após a vitória no jogo
(Foto: André Durão / Globoesporte.com)
Os meninos sabem da responsabilidade que carregam. Alguns, com apenas 13 anos, já têm até empresários cuidando de suas carreiras. O profissional dá R$ 500 por mês à família, mais um par de chuteiras novas, e tem o direito de representar o jogador se ele se profissionalizar. O Fluminense também dá uma ajuda de custo para o Mirim. Já o Flamengo, só a partir do Infantil (14-15 anos). Mas a cobrança vem mesmo é dos pais, como explica a psicóloga do Rubro-Negro, Gabriela Menicucci.
- Eles recebem pressão de todos os lados. Nessa idade, a gente trabalha mais a questão motora, a motivação. Mas, muitas vezes, os meninos chegam para a gente e falam dos problemas em casa, ou até a mãe vem comentar que um está com dificuldade no colégio. Então é importante fazer um trabalho de conscientização não só com os atletas, mas, principalmente, com os pais. Fazer com que eles entendam que não podem jogar tanta responsabilidade nas crianças, a coisa da chance de um futuro melhor. Mas é difícil, a realidade é mais complicada - lembrou Gabriela.
A rotina é pesada. A maioria dos atletas do futsal também é do time de futebol. No Fluminese, os treinos nas Laranjeiras são às segundas, quartas e sextas, por duas horas. Já no CT de Xerém, os meninos entram em campo de terça a sábado. Ou seja, em dois dias da semana, o período de treinamento chega a quatro horas por dia. Fora escola, cursos de inglês e outras atividades. No Flamengo, os treinos na Gávea são de terça a sexta, também por duas horas diárias.
Rosto de menino; moda e 'malandragem' de boleiro
fla-flu crianças futsal (Foto: André Durão/Globoesporte.com)Felipinho passa pela marcação rubro-negro
(Foto: André Durão/Globoesporte.com)
Autor de um gol e dos melhores passes do Fluminense na final, Felipinho é caçado em quadra. Mas o camisa 8 dá dribles com a mesma facilidade com que comemora um gol mandando um beijo para uma menina da arquibancada e responde a entrevistas com discurso de jogadores profissionais.
- Esse título é muito importante para o nosso grupo. Temos um time muito bom. O que eu quero agora é me profissionalizar e dar muitas alegrias para a torcida tricolor - disse.
A semelhança com os craques do presente vai além. Pouco mais de um minuto depois de marcar o primeiro gol do Flamengo, Michael sofreu uma falta e caiu em quadra. O menino rolou para um lado, para o outro, e fez uma expressão de dor que preocupou. Então, olhou para o árbitro. Sem resposta, levantou como se não estivesse mais sentindo nada. Pura catimba.
FlaxFlu 100 anos futsal crianças (Foto: André Durão / Globoesporte.com)Michael pede substituição depois de marcar o gol
(Foto: André Durão / Globoesporte.com)
Logo, o camisa 10 fez mais um gol. O placar já mostrava 2 a 1 para o Rubro-Negro, era a hora de pedir a substituição. No fim do jogo, se revoltou com a marcação e chutou um jogador adversário que já estava no chão. Cartão amarelo, saída de quadra e um semblante de frustração ao apito final.
- É, acontece. Agora é pensar no segundo semestre. Ver o que vem por aí. Na próxima a gente ganha deles - concluiu o menino.
Michael teve o apoio do técnico Antônio Iazzetti durante todo o jogo.
- Costumo dizer que sou um irmão mais velho. Ainda estou novo para ser visto como pai deles - brincou o treinador, que já vê a moda dos profissionais influenciando os meninos.
No lado tricolor, Claudio Vilela, Francisco Crescente e Elias de Assis controlam os filhos Lucas, Matteo e Wannder quando o assunto é imitar os boleiros.
- Eles já andam com aqueles bonés, fones de ouvido gigantes. É normal. Mas tem que ter o pé no chão. Saber que isso não é tudo - disse Francisco.
Sinal dos tempos: ídolos dos rubro-negros não estão no Fla
O meu maior sonho é ser campeão no Maracanã diante de 100 mil pessoas"
Kennedy,
do Fluminense
Apontado como um dos jogadores mais promissores pelo técnico tricolor, Kennedy mostrou a medalha de ouro com orgulho, ao lado do pai, o agente de segurança Orlando Lima. E com os olhos de menino ainda brilhando pela conquista, pensou no futuro:
- O meu maior sonho é ser campeão no Maracanã diante de 100 mil pessoas - disse o jogador de 13 anos.
O ídolo de Kennedy é Pelé, mas a maioria dos mirins tricolores aponta Deco como maior referência. No lado rival, porém, os atletas da casa não são os exemplos a serem seguidos. O engenheiro Jorge Thuler, pai do camisa 11 rubro-negro Ygor, tenta explicar:
- A situação está muito complicada para que a criança veja algum ídolo no Flamengo hoje em dia. Meu filho é fã do Neymar. O amigo dele é fã do Messi. E já vi alguns falando do Cristiano Ronaldo também. Ninguém do Flamengo. Quem sabe eles não podem mudar esse cenário no futuro? - concluiu.

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