25 de jun. de 2013

Do banco à artilharia: Torres escreve roteiro no Brasil parecido com a Euro

Quem acompanha a carreira deFernando Torres costuma se perguntar como um jogador eleito o terceiro melhor do mundo pode, em tão pouco tempo, ter desaprendido a tratar a bola com carinho. Abaixo apenas de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi em 2008 para a Fifa, o espanhol deveria ser sinônimo de técnica refinada, mas hoje não cultiva nem de perto a mesma fama. Ao menos pela seleção espanhola, sempre que chamado por Vicente del Bosque, entrou para resolver. Tem sido assim na Copa das Confederações no Brasil, como já havia acontecido há um ano, na Eurocopa da Polônia e Ucrânia.
Fernando Torres treino espanha (Foto: André Durão)Fernando Torres em treino da Espanha nesta terça-feira: atacante pode ser titular contra Itália (André Durão)
Dono da camisa 9, Torres começou o torneio no banco de reservas. Roberto Soldado, autor de 24 gols no Campeonato Espanhol com o Valencia, foi o escolhido. Rendeu o esperado na estreia, quando marcou na vitória por 2 a 0 sobre o Uruguai. Daí veio o confronto diante do Taiti. Del Bosque pôs em campo o seu time B, dando chances para outros candidatos ao posto. Torres, apesar de perder um pênalti, foi quem mais se destacou, com quatro gols nos 10 a 0 no Maracanã (assista aos gols no vídeo acima).
Contra a Nigéria, no domingo passado, em Fortaleza, Soldado não mostrou a mesma competência. Apareceu em boas condições em mais de uma oportunidade. Não aproveitou e deixou o gramado com um desconforto muscular no segundo tempo. Torres o substituiu e, de cabeça, fez o segundo no triunfo por 3 a 0. Artilheiro da Copa das Confederações com cinco gols, ele sabe que reiniciou o debate sobre quem deveria ficar com a vaga na semifinal de quinta-feira, também no Castelão, diante da Itália.
- Se vou ser titular? É para isso que treino todos os dias. É sempre bom que seja difícil eleger um nome para o posto. Isso mostra o nível que tem essa equipe. Estou tendo a oportunidade de participar, de fazer as coisas bem. Mas neste time sempre houve momento para todos. Não importa quem seja. Quando se está no banco e olha as pessoas jogando você diz: “jogue ou não”, vai ser o mesmo sempre – disse Torres.
No que depender de retrospecto, Torres já pode comemorar. A Azzurra é justamente o fator que remete à Eurocopa de 2012. Na finalíssima de Kiev, o espanhol novamente recebeu chance ao longo da partida e, nos minutos finais, marcou uma vez e deu passe para Juan Mata fechar a goleada por 4 a 0. Lances que acabaram decisivos a favor do jogador do Chelsea na disputa da Chuteira de Ouro. Mesmo sendo reserva, foi ele quem levou um dos prêmios mais cobiçados da competição nos critérios de desempate, superando nomes como Mario Gómez, Mandzukic e Cristiano Ronaldo.
Fernando Torres Espanha Taiti (Foto: Getty Images)Fernando Torres consola Roche, goleiro do Taiti: artilharia graças aos 10 a 0 (Foto: Getty Images)
Qualquer superstição à parte, Torres também conta com o apoio do povo. Uma enquete no site do jornal “Marca” apontou que El Niño, como é chamado, é o favorito da torcida para ser titular contra os italianos. Com 55,5% dos mais de nove mil votos, ele superou Soldado (26,6%) e David Villa (17,9%). Ao menos no discurso aberto para a imprensa, Del Bosque não tem preferência.
- Soldado fez um bom trabalho contra a Nigéria, se desmarcando em jogadas que o permitiram chegar na cara do gol por mérito seu. E no segundo tempo entrou Torres, que marcou um gol de centroavante puro. Estou contente com os dois.
Fernando Torres Chuteira de Ouro Chelsea (Foto: Reprodução / Site Oficial)El Niño posa com a Chuteira de Ouro conquistada
na Eurocopa 2012 (Foto: Reprodução / Site Oficial)
Del Bosque parece satisfeito, mas é fato que já poderia ter esta dúvida sanada há tempos. Uma das maiores revelações do Atlético de Madri, Torres encantou a Espanha no início de sua carreira. Participou de todas as seleções de base, desde a sub-15, em 2000, até chegar à principal em 2003, com 19 anos. Em 2007, já consagrado, transferiu-se para o Liverpool. Foi na Inglaterra que ele alcançou um status de grande astro ao marcar 81 gols - em 142 jogos -, muitos deles em brilhantes jogadas individuais (veja o vídeo no Brasil Mundial FC). Na Euro 2008, acabou como figura decisiva graças ao gol na final diante da Alemanha.
Suas atuações, mesmo após uma Copa do Mundo pouco empolgante em termos individuais e uma lesão delicada no joelho, renderam a El Niño o título de contratação mais cara da história do país. Tudo porque o Chelsea, em janeiro de 2011, resolveu pagar 50 milhões de libras (R$ 133 milhões à época) para tirá-lo do Liverpool. O seu futebol desapareceria ali, dando margem para os torcedores dos Reds acreditarem numa espécie de maldição.
Torres custou a ser notado novamente. Levou 14 partidas para marcar o primeiro gol, simplesmente não parecia estar à vontade em Stamford Bridge. No início do ano, um outro centroavante, o senegalês Demba Ba, acabou contratado. Ter alguém como sombra lhe fez bem: encerrou a temporada com 22 gols, seus melhores números com a camisa dos Blues.
Pela Espanha, o fim de 2012/2013 também parece promissor. Com os cinco gols marcados na atual edição das Confederações e outros três em 2009, ele está a apenas um de igualar o recorde histórico de Ronaldinho Gaúcho e o mexicano Cuauhtemóc Blanco, que balançaram as redes nove vezes na história do torneio. Como consequência, ficaria mais próximo de Raúl González na lista dos maiores artilheiros da seleção. O ex-jogador do Real Madrid soma 44 gols, contra 36 de Torres - David Villa, com 56, lidera com folga. Convém não duvidar.

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