Os 2 a 1 no Camp Nou não devem ser analisados apenas pelo resultado em si que encerrou longo jejum de vitórias do Real Madrid no tempo normal sobre o arquirrival e praticamente define o campeonato espanhol. É uma vitória que tem muitos significados e sinalizações.
A mais óbvia: o time de José Mourinho aprendeu a jogar com baixo índice de posse de bola e apostar em concentração absoluta na marcação e objetividade máxima nas ações ofensivas. Sempre com bolas esticadas ou jogadas aéreas para aproveitar a zaga avançada e de baixa estatura do Barcelona. Terminou com 28% de posse, mas domínio nos desarmes (25 a 19) e nas conclusões na direção do gol: 6 a 3 (14 a 14 no total).
No escanteio, o gol de Khedira aproveitando rebote de Valdés após cabeçada de Pepe. No contragolpe decisivo, lançamento preciso de Ozil e gol de artilheiro de Cristiano Ronaldo: deslocamento para receber a bola às costas de Mascherano em condição legal, movimento para sair do raio de ação de Valdés e conclusão. Tudo perfeito.
O 42º de um craque que conseguiu o que faltava em sua trajetória em Madrid: ser efetivamente protagonista em um superclássico, com equilíbrio emocional e poder de decisão. Cada vez sobram menos argumentos para quem ainda torce o nariz para o português.
Defensivamente, o time merengue foi mais compacto, concentrado nos embates individuais. E o principal: Mourinho encontrou uma solução para complicar Messi. Sergio Ramos ficou mais plantado, cobrindo os companheiros. Arbeloa e Coentrão marcavam os jogadores abertos e Pepe saía, quase como um volante, para dar bote no argentino.
Sem as infiltrações em diagonal dos ponteiros do Barça, um dos zagueiros já pode avançar sem medo para caçar o “falso nove”. Pepe foi praticamente perfeito na execução. Um dos melhores em campo. Menção honrosa também para Fabio Coentrão, que novamente foi titular, mas justificou a confiança do treinador com atuação segura.
O Barcelona dá sinais de declínio técnico e tático. Não porque perdeu duas partidas seguidas e joga a temporada contra o Chelsea. O time brilha menos, não encontra alternativas para fugir da marcação e pena com os contragolpes dos oponentes. Pela excelência de um time histórico, não é absurdo dizer que a má fase chegou.
Pep Guardiola ousou com uma espécie de WM (3-2-2-3) moderno para duelar com o habitual 4-2-3-1 madridista. Puyol na direita para vigiar Cristiano Ronaldo, Adriano marcando, mas também aparecendo como lateral contra Di María. Busquets era volante com a bola, mas acompanhava Benzema e deixava Thiago Alcântara com Ozil e Mascherano na sobra.
Ofensivamente, abriu Daniel Alves e Tello pelos flancos para espaçar o campo. Não conseguiu e Xavi, Iniesta e Messi não levaram vantagem sobre Xabi Alonso, Khedira e Pepe. Faltava a jogada diferente.
Guardiola acertou quando trocou Xavi por Alexis Sánchez. Messi recuou para articular e fugiu de Pepe. Na primeira jogada, Messi criou, Tello perdeu o gol, mas Adriano pegou o rebote e chutou para Sánchez desviar. O empate parecia encaminhar a virada e a manutenção da hegemonia blaugrana.
Cristiano Ronaldo não deixou. O gesto do camisa sete na comemoração pedindo para a torcida culé se acalmar foi preciso. O gol com o estádio em chamas, confiante na reação, desmanchou o Barça mentalmente. Um lance que pode simbolizar a alternância de poder no futebol espanhol e mundial e até uma passagem de cetro de melhor jogador da temporada. Um triunfo histórico.
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