21 de abr. de 2012

A vitória simbólica do Real e de Cristiano Ronaldo


Os 2 a 1 no Camp Nou não devem ser analisados apenas pelo resultado em si que encerrou longo jejum de vitórias do Real Madrid no tempo normal sobre o arquirrival e praticamente define o campeonato espanhol. É uma vitória que tem muitos significados e sinalizações.
A mais óbvia: o time de José Mourinho aprendeu a jogar com baixo índice de posse de bola e apostar em concentração absoluta na marcação e objetividade máxima nas ações ofensivas. Sempre com bolas esticadas ou jogadas aéreas para aproveitar a zaga avançada e de baixa estatura do Barcelona. Terminou com 28% de posse, mas domínio nos desarmes (25 a 19) e nas conclusões na direção do gol: 6 a 3 (14 a 14 no total).
No escanteio, o gol de Khedira aproveitando rebote de Valdés após cabeçada de Pepe. No contragolpe decisivo, lançamento preciso de Ozil e gol de artilheiro de Cristiano Ronaldo: deslocamento para receber a bola às costas de Mascherano em condição legal, movimento para sair do raio de ação de Valdés e conclusão. Tudo perfeito.
O 42º de um craque que conseguiu o que faltava em sua trajetória em Madrid: ser efetivamente protagonista em um superclássico, com equilíbrio emocional e poder de decisão. Cada vez sobram menos argumentos para quem ainda torce o nariz para o português.
Defensivamente, o time merengue foi mais compacto, concentrado nos embates individuais. E o principal: Mourinho encontrou uma solução para complicar Messi. Sergio Ramos ficou mais plantado, cobrindo os companheiros. Arbeloa e Coentrão marcavam os jogadores abertos e Pepe saía, quase como um volante, para dar bote no argentino.
Sem as infiltrações em diagonal dos ponteiros do Barça, um dos zagueiros já pode avançar sem medo para caçar o “falso nove”. Pepe foi praticamente perfeito na execução. Um dos melhores em campo. Menção honrosa também para Fabio Coentrão, que novamente foi titular, mas justificou a confiança do treinador com atuação segura.
O Barcelona dá sinais de declínio técnico e tático. Não porque perdeu duas partidas seguidas e joga a temporada contra o Chelsea. O time brilha menos, não encontra alternativas para fugir da marcação e pena com os contragolpes dos oponentes. Pela excelência de um time histórico, não é absurdo dizer que a má fase chegou.
Pep Guardiola ousou com uma espécie de WM (3-2-2-3) moderno para duelar com o habitual 4-2-3-1 madridista. Puyol na direita para vigiar Cristiano Ronaldo, Adriano marcando, mas também aparecendo como lateral contra Di María. Busquets era volante com a bola, mas acompanhava Benzema e deixava Thiago Alcântara com Ozil e Mascherano na sobra.
Ofensivamente, abriu Daniel Alves e Tello pelos flancos para espaçar o campo. Não conseguiu e Xavi, Iniesta e Messi não levaram vantagem sobre Xabi Alonso, Khedira e Pepe. Faltava a jogada diferente.
Real no habitual 4-2-3-1, mas com Pepe saindo no encalço de Messi e deixando Sergio Ramos na sobra. Barcelona quase num WM (3-2-2-3), com Daniel Alves e Tello pelos flancos e Busquets atento a Benzema, mas saindo como volante.
Guardiola acertou quando trocou Xavi por Alexis Sánchez. Messi recuou para articular e fugiu de Pepe. Na primeira jogada, Messi criou, Tello perdeu o gol, mas Adriano pegou o rebote e chutou para Sánchez desviar. O empate parecia encaminhar a virada e a manutenção da hegemonia blaugrana.
Cristiano Ronaldo não deixou. O gesto do camisa sete na comemoração pedindo para a torcida culé se acalmar foi preciso. O gol com o estádio em chamas, confiante na reação, desmanchou o Barça mentalmente. Um lance que pode simbolizar a alternância de poder no futebol espanhol e mundial e até uma passagem de cetro de melhor jogador da temporada. Um triunfo histórico.
Com Sánchez na vaga de Xavi, Messi encontrou os espaços que Pepe negava. Mas Cristiano Ronaldo decidiu no contragolpe letal.

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