27 de abr. de 2012

Veloz e magoado: Itamar quer sair do Fla e pegar a estrada com o ‘Dodjão’


O ronco do motor V8, que entrega 431 cavalos de potência, impressiona. A força é tanta que dá para sentir o carro balançar. Nas arrancadas, chega a levantar a frente. Em menos de cinco segundos, o velocímetro aponta 100 quilômetros por hora. As faixas pretas decorativas compõem o visual do esportivo que custa entre R$ 220 e 260 mil. Cor: laranja nada discreto. Piloto: Itamar Batista da Silva.

Jogador do Flamengo até o próximo dia 15 de maio, o atacante gosta de velocidade. Tem pé pesado e coragem para acelerar. Itamar está com pressa. Não para dirigir, mas para deixar o Rubro-Negro. Se aproxima do fim um contrato que ele cumpriu, mas não como gostaria. Não jogou. Em três meses de clube, vestiu a camisa do time duas vezes - contra Londrina e Corinthians, nos amistosos da pré-temporada. No total, foram 90 minutos em campo. Depois, não foi relacionado para uma partida sequer. Nem do Carioca.
- Por onde passei fiz gol. Só aqui no Flamengo não tive chance de jogar uma partida sequer. Fico magoado? Fico. Mas é seguir.
itamar flamengo seu dodge (Foto: André Durão / Globoesporte.com)Na praia da Barra da Tijuca, Itamar apresenta seu Dodge (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
O rumo que vai tomar ele não sabe. Certo mesmo é que será longe do Rio de Janeiro. Uma cidade que gosta e, graças ao GPS, conhece razoavelmente bem. O atacante diz que foi procurado por "dois ou três clubes" e decidirá em que estrada vai guiar os últimos dois anos da carreira. Aos 32, quer se aposentar aos 34.
O DODGE DE ITAMAR
O Dodge Challenger estreou em 1969, ficou apenas três anos em cartaz, sucumbindo à crise do petróleo dos anos 70, e voltou em 2008, na segunda geração.
Preço médio: entre R$ 220 e 260 mil.
O modelo do jogador é 2010 e vem equipado com um motor V8 6.1 que entrega 431 cavalos de potência.
O Challenger tem transmissão automática com cinco marchas.
Tem bancos de couro e computador de bordo com cronômetro, sensor de aceleração lateral e longitudinal e medidor de distância de frenagem.
Nas arrancadas, ele lembra os antepassados, levantando a frente graças à suspensão solta na vertical. Na hora de frear e de fazer curvas, se comporta equilibrado como um carro europeu.
O Challenger tem DNA alemão na plataforma, baseada no antigo Mercedes-Benz Classe E, produzido entre os anos de 1996 e 2002.
Acelera de 0 a 100 km/h em 4,9 segundos.
Faixas decorativas compõem o visual do esportivo.
Itamar foi contratado a pedido de Vanderlei Luxemburgo, com quem havia trabalhado no Palmeiras. Se integrou ao grupo ainda em Londrina, onde o time realizou pré-temporada. Num campo anexo ao de treinos do Rubro-Negro, o jogador mantinha a forma há um mês. E logo mudou de lado. Contratado pelo Rubro-Negro, disputou o segundo tempo contra o Londrina, dia 12 de janeiro, foi titular no amistoso contra o Corinthians, dia 15, viajou com a delegação para a Bolívia, mas ficou fora da lista de 25 jogadores inscritos para a fase classificatória da Libertadores. O motivo: a situação complicada de sua documentação.
- Foi uma questão de contrato com o Tigres, do México. Tinha feito um de dois anos com opção de renovação por mais um, mas esse mais um não valia. O Tigres pensava que sim. Fui lá, resolvi com o Tigres, eles me liberaram. Acertei com o Flamengo três meses, mas foram três meses em vão. Eles (mexicanos) queriam cobrar um valor "x". Ou eu pagava ou renovava. Mas entramos em acordo e decidimos que era para sair.

Itamar assinou com o Flamengo ainda vinculado ao Tigres. Antes disso, em 2007, atuou na Coreia, mas diversas documentações não constavam nos arquivos da CBF. A negociação com a equipe mexicana, por exemplo, não aparecia no sistema de Regulamento de Transferências da FIFA, que monitora a movimentação do mercado entre países e clubes espalhados pelo mundo para evitar corrupção, lavagem dedinheiro, entre outras coisas.
Na diretoria rubro-negra, existiu expectativa que a negociação melasse, ainda mais por ter sido indicação de Vanderlei, que estava ameaçado no cargo. Mas Itamar resolveu a sua situação no México, conseguiu que o Flamengo não pagasse os R$ 2,6 milhões que o Tigres pedia e acertou a documentação.

Enquanto Itamar tentava resolver o problema, o departamento jurídico do clube estudava uma forma de anular o contrato. Mas o nome do atacante apareceu no Boletim Informativo Diário (BID) da CBF, e o jogador fora registrado oficialmente como atleta do Flamengo, com contrato em vigor do dia 9 de janeiro a 15 de maio e salário em torno de R$ 40 mil. Ele retomou a rotina de treinos no Ninho do Urubu no dia 11 de fevereiro, mas algo estava diferente.
- O Vanderlei já não estava mais quando eu voltei, tinha sido demitido. Tinha uma semana que o Joel estava trabalhando. Imaginava que teria alguma chance, mas respeito o Joel, é um treinador que tem história, mas acho que deveria ter uma chance, jogado pelo menos uma partida para ver se presto ou não presto. É o meu pensamento.

A reportagem do GLOBOESPORTE.COM teve um encontro com o atacante na Praia da Barra daTijuca, na Zona Oeste. Por dois motivos: a passagem curta e frustrada dele pelo Flamengo e a história do Dodge laranja. Confira a íntegra da entrevista:

GLOBOESPORTE.COM: Houve uma conversa com a direção quando você conseguiu resolver a pendência no México?  

Itamar:
 Eu pedi para sair. Disse "vamos rescindir que vou procurar outro lado". Disseram que eu ficaria em observação. Observação de três meses até o contrato acabar, foi muito engraçado, mas é uma experiência para a minna vida. Graças a Deus termina nos próximos dias. Quero procurar outro lado. Estou contando os dias para terminar. Não é fácil ficar num clube só treinando, sem jogar, com 32 anos.

Quando você pediu para sair? Pediu para quem?
Foi logo que voltei do México e vi que o Vanderlei não estava. Pedi ao Isaías (Tinoco, ex-gerente de futebol) e ele disse que ia sair também, que era para conversar com a diretoria nova. Mas a Patricia (Amorim, presidente) mandou falar que ia me usar, que era para cumprir o contrato. O advogado do Flamengo me ligou e disse que tinha de cumprir o contrato. Fiquei. 
Eu pedi para sair. Disse "vamos rescindir que vou procurar outro lado". Disseram que eu ficaria em observação. Observação de três meses até o contrato acabar, foi muito engraçado"
Itamar
Seu salário está em dia?
Estão sendo corretos sobre pagamento. Isso, sim. Agora é procurar outros lados.

Acha que foi desrespeitado?
Foi um negócio meio estranho. Já que não ia me usar, me liberava. Me deixaram três meses só treinando. Eles não têm do que reclamar, cumpri meus horários. Jogar é consequência. Joel optou por isso, mas sei que tenho capacidade e vou mostrar isso aqui no Brasil.

Algum clube já te procurou? O que vai fazer depois do dia 15 de maio?
Vou sair do Rio. São dois, três clubes interessados. Terminando o contrato aqui, vou procurar o clube e mostrar quem é Itamar.
E quem é o Itamar?

Fiz 40 gols no México, vinha bem, sendo um dos artilheiros. Joguei por quatro anos lá, mas não quis continuar. Estava um pouco cansado. Não caí no Flamengo de paraquedas. Por onde passei fiz gol. Só aqui no Flamengo não tive chance de jogar uma partida sequer. Fico magoado? Fico. Mas é seguir. Tenho minha vida estabelecida e quero voltar a mostrar quem é o Itamar aqui no Brasil.
itamar flamengo x corinthians (Foto: Marcos Zanutto/VIPCOMM)Contra o Corinthians, os últimos 45 minutos pelo
Flamengo (Foto: Marcos Zanutto/VIPCOMM)
Como vai ser ter no currículo apenas 90 minutos com a camisa do Flamengo?
Nunca passei por isso. Minha família brinca comigo, diz que só fui passear e gastar dinheiro no Rio. O custo de vida aqui é alto. Mas estou tranquilo, minha família me apoia, tenho fé em Deus. Quero esquecer isso e procurar um clube para trabalhar.

Chegou a falar com o Vanderlei depois que ele saiu?
Não falei. Ele foi para outro clube (Grêmio), e a vida segue. Ele foi para o lado dele e eu continuei no Flamengo.

Deu para criar uma relação bacana com os jogadores?
O grupo todo é bom, especialmente o Ronaldinho, sou fã. Torci por ele em Copa do Mundo. Fico feliz por ter trabalhado com ele, me sinto realizado. Não por ter jogado no Flamengo, mas por ter jogado com o Ronaldinho.

E que impressão teve da 
torcida?
A torcida é muito bonita, deu para sentir em alguns jogos do Flamengo. Via Ronaldinho fazer algumas jogadas, e a torcida ia à loucura. Isso eu levo no coração, muito bonita a torcida.

Falando do Dodge. Qual a sua relação com esse carro? Como começou?
É um Dodge SRT 6.1, motor V8. Ele gasta muito, tem que ter um posto de gasolina junto com ele (faz cinco quilômetros por litro na cidade). Mas é um carro que gosto muito, aprendi a gostar nos Estados Unidos. Morei do lado, no México. É um carro muito potente, muito bonito. A cor também, laranja com preto, destaca um pouquinho. No Brasil, são só seis dessa série.
E quando comprou?

Vi nos Estados Unios policiais andando de Dodge e fiquei louco. Quando cheguei no Brasil, decidi comprar um. Encontrei um rapaz do Paraná que estava importando e consegui comprar. Foi em janeiro do ano passado que comprei esse carro. Eu tenho outro carro, tenho uma caminhonete, mas ela está na minha casa (em Santa Maria de Itabira-MG). O Dodge eu trouxe para o Rio para curtir um pouco.

E você faz muito sucesso com ele pelas ruas?
Brinco com meus filhos e eles falam: “pai, o carro é mais famoso que você. Você não joga no Flamengo, seu carro faz sucesso na rua” (gargalhadas)"
O carro é mais famoso que eu (risos). Quando estou passando, geral fica olhando. Às vezes me param e pedem para tirar foto. Brinco com meus filhos (João Itamaike e Italy Mara) e eles falam: “pai, o carro é mais famoso que você. Você não joga no Flamengo, seu carro faz sucesso na rua” (gargalhadas).
Gosta de chamar a atenção por onde passa?
É gostoso. Todo negão gosta de chamar a atenção (risos). Chega num lugar, com um carro desse, todo mundo olha. É muito legal.
E desperta interesse nos seus companheiros de Flamengo?
Alguns jogadores perguntaram onde comprei, o nome do carro. Acharam parecido com o Camaro, é um pocuo parecido mesmo. Mas no Flamengo é difícil chamar a atenção, são vários jogadores de renome lá.
Fez alguma mudança nele?
Está do jeito que comprei, mas quero rebaixar. Se eu mexer no motor ele só vai voar (gargalhadas). É muito potente, muito gostoso. Você pegar uma viagem com ele é um dos melhores carros. Já cheguei a andar a 220 (km/h). Gosto muito dele, gosto da minha caminhonete, mas o "Dodjão" na estrada não tem igual.
Matéria Jogador Itamar Flamengo (Foto: André Durão / globoesporte.com)Itamar chama a atenção por onde passa: 'Chega num lugar, com um carro desse, todo mundo olha' (Foto: André Durão / globoesporte.com)
Você entende de carros ou o que te atraiu foi o visual?
É mesmo visual. Não entendo de mecânica. Comprei meu primeiro carro, com 17 para 18 anos, com meu primeiro salário no futebol. É uma Parati 1990, tenho até hoje. Ficou de estimação. Domingo, quando vou para minha cidade, todo mundo fica louco. Parece que é zero de tão novinha. É um brinco, minha segunda esposa (Itamar é casado há 11 anos com Jussane).

E em Santa Maria de Itabira o 'Dodjão' faz sucesso?
Vou sempre para lá. Como não estou jogando, todo fim de semana vou para Minas. A cidade para quando chega o "Dodjão". Itamar chegou, Itamar está aí. Só eu tenho esse carro. A cidade para (risos).

E é você quem cuida do carro?
Gosto de lavar duas, três vezes na semana. Para ir par ao CT (Ninho do Urubu) suja muito. Tem que lavar com cuidado. Às vezes eu mesmo lavo em Minas. No CT tem um amigo que lava. E onde eu moro tem um rapaz também. Ia até pegar outro carro por conta das obras na Estrada dos Bandeirantes, mas não vou passar mais naquele lugar.

O que você vai levar do Rio?
A praia, né? Minas não tem praia. Se pudesse levar, seria a coisa mais linda. Tive várias amizades também, conheci muita gente. Fiquei muito feliz pela vida aqui, apesar da parte difícil no trabalho.
No jogo contra o Corinthians, você perdeu um gol feito (assista ao vídeo). Depois de um cruzamento do Deivid, ficou sozinho para cabecear, mas mandou para fora. Lembra sempre daquilo? Acha que sua passagem poderia ter sido diferente se a bola tivesse entrado?

Com certeza, acho que sim. Era meu primeiro jogo contra uma equipe grande pelo Flamengo. Primeiro gol que perdi, geral lembra. "Foi você!". Estava voltando ao Brasil, era uma partida amistosa. Acho que joguei bem, apesar de não fazer o gol. Dali tirei um pouco de experiência do que posso jogar no Brasil.
Qual o planejamento para o fim da carreira?
Quero jogar até 34 anos, dois anos mais, depois cuidar da família. Quero ficar com a minha família um tempo e pensar no que vou fazer.

Está ansioso para botar o 'Dodjão' na estrada de vez?
Com certeza. Tenho vontade de jogar, faz tempo que não jogo. Estou louquinho para meter o pé (risos).

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