Rio de Janeiro e São Paulo monopolizaram os títulos do Brasileirão nos últimos nove anos. E têm, juntos, nove times dos 20 que disputam a edição deste ano. No entanto, o bom retrospecto recente e a quantidade de representantes não estão sendo suficientes para deixar cariocas e paulistas no alto da classificação. Apenas dois deles estão entre os dez primeiros colocados, com os outros sete ocupando a metade de baixo da tabela. E só o Botafogo vem frequentando o G-4: esteve lá em 13 das 16 rodadas. Ocupa agora o segundo lugar, atrás do Cruzeiro. Grêmio e Atlético-PR completam o grupo dos que se classificariam hoje para a Taça Libertadores.
É um sinal de que o eixo Rio-São Paulo enfraqueceu ou de que outros estados cresceram? As opiniões variam entre comentaristas esportivos e quem atua dentro das quatro linhas. Para o gremista Kléber, Corinthians e Fluminense passaram por um relaxamento natural após as conquistas de Libertadores e Mundial, no caso do primeiro, e do Brasileiro, no do segundo. A saída de jogadores importantes de Santos e Vasco também foi lembrada.
- Se pegar Corinthians e Fluminense, são elencos que conquistaram títulos importantes nos últimos anos. Pode ser que tenham relaxado. Isso é normal, às vezes. O jogador relaxa porque ganhou. Acontece mesmo, embora não deveria. O Santos perdeu o Neymar, que fazia a diferença. Teve o problema do Ganso antes. Está se reestruturando. O Vasco vive essa dificuldade de elenco faz alguns anos - opinou o Gladiador.
Bob Faria, comentarista do SporTV, acha que a mudança da cultura econômica leva a um receio menor dos jogadores de sair dos grandes centros, contribuindo para a descentralização do futebol brasileiro.
- Obviamente havia um desenvolvimento maior em alguns estados e, por consequência, um investimento maior. Como o país cresceu, a economia ficou mais globalizada, outras praças receberam e aprenderam a usar os recursos. Os grandes atletas já não têm mais receio de ficar em um mesmo lugar, e a coisa se expande - analisou Bob.
Os times de Rio e São Paulo apareceram 22 vezes no G-4 do Brasileiro deste ano. Os de outros estados, 42. Não é a primeira vez que acontece esse domínio. Em 2008, foram 43 aparições de outros estados no G-4 até a 16ª rodada, média de 2,7 times por rodada. Na reta final, porém, o São Paulo levou a melhor sobre o Grêmio. O ano de 2009 teve o melhor retrospecto da era por pontos corridos: 47 aparições no mesmo período (média de 2,9). Mas teve o Flamengo como campeão.
Histórico de domínio, mas sem títulos
Surge então o questionamento se, nesta edição, os clubes de fora do eixo terão fôlego para impedir a chegada de paulistas e cariocas na reta final. O Coritiba, que ficou no G-4 em 11 das 16 rodadas, três delas na liderança, começou a ter problemas depois que seus principais jogadores se lesionaram. Não vence há quatro jogos, acumulando três derrotas e um empate nos acréscimos com a Portuguesa.
- O Coritiba ter uma conquista é real. Tem que ter os pés no chão, pois principalmente o Brasileiro é um campeonato longo, com um equilíbrio muito grande. Como passamos por essa queda natural de performance, outras equipes também passarão. Isso vai fazer com que tenha um equilíbrio ainda maior - justificou o técnico Marquinhos Santos.
Na contramão do Coxa, estão Grêmio e o Atlético-PR. Os gaúchos venceram os últimos quatro jogos, três deles fora de casa. Chegou ao G-4, mantém-se lá há três rodadas e vê o líder Cruzeiro a apenas três pontos de distância. Os paranaenses só perderam um dos últimos 11 jogos e em pouco mais de um mês saíram da zona de rebaixamento para a de classificação à Libertadores. O técnico Vágner Mancini, que assumiu o cargo e deu início à virada, destaca a mudança de atitude dos jogadores.
- O Atlético-PR fazia bons jogos, mas faltava uma coisa que hoje tem de sobra, que é ganância de se vencer. Não podemos perder a gana de vitória desde que ela seja responsável e solidária dentro de campo - disse.
Raphael Rezende, comentarista do SporTV, vê boas possibilidades de o título nacional ficar fora do eixo Rio-São Paulo, o que não acontece desde que o Cruzeiro foi campeão em 2003. Ele vê a Raposa junto de Inter e Corinthians como os times mais preparados e cita o Atlético-PR podendo levar vantagem na questão física por causa da pré-temporada prolongada.
- Dos que estão lá na frente, os que têm os melhores elencos são Cruzeiro, Inter e Corinthians. A questão é quem vai conseguir prolongar a boa fase. O Atlético-PR teve uma longa pré-temporada, não forçou muito o elenco no primeiro semestre. O Coritiba depende do seu time titular e principalmente do Alex - analisou.
Se o Coxa depende de seu maestro, o principal representante do eixo Rio-São Paulo neste campeonato ainda terá de mostrar como vai reagir após a transferência de Vitinho para o CSKA, da Rússia.
- O Botafogo está bem, mas vendeu um jogador importante. Isso pode mudar, talvez. O Vitinho fazia a diferença. Até comentamos que pode ser bom para nós - disse o atacante Kleber, do Grêmio.
Metade de baixo
Cariocas e paulistas representam 70% da parte de baixo da tabela de classificação. E três paulistas - Ponte Preta, São Paulo e Portuguesa - ocupam a zona de rebaixamento, o que não acontecia desde a sétima rodada do ano passado. Na ocasião, entretanto, o Corinthians estava preocupado com a final da Libertadores, e o Palmeiras começaria a decisão da Copa do Brasil. O Santos, também recheado de reservas, fazia companhia aos dois no Z-4. A média de equipes do eixo rebaixadas no Brasileirão por pontos corridos é de uma por ano (nove paulistas e uma carioca em dez anos).
O campeonato ainda não chegou à metade, e matematicamente cariocas e paulistas têm chances de se recuperar. A dúvida fica na capacidade de melhorar a situação e se aproximar da briga pelo título ou por uma vaga na próxima edição da Libertadores.
- Ponte Preta e Portuguesa não têm chance de chegar. É um campeonato para ficar na Primeira Divisão, e isso não é demérito. Todos os outros têm estrutura para acordar de uma hora para outra e ter uma grande virada, inclusive o São Paulo. É claro que, quanto mais o campeonato passa, fica mais difícil de subir a ladeira - disse Bob Faria
- O Corinthians é tiro certo. É questão de ajustar a entrega dentro dos jogos. É um time que se afirma, mas que às vezes dá um apagão dentro das partidas. Dos que estão mal, nenhum tem chance de chegar. O melhor é o Botafogo, que tem um estilo de jogo definido. Tem que ver como vai ser agora sem o Vitinho. Também tem os desfalques por lesão. O time perdeu o Gilberto, e o Edilson está em um nível abaixo. E as convocações do Jefferson podem atrapalhar - finalizou Raphael Rezende.
* Colaboraram Hector Werlang, de Porto Alegre, e Gabriel Hamilko, de Curitiba
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