É falta na entrada da área. Adivinha quem vai bater... Parecia um torcedor do Flamengo conversando com outro no estádio. Era assim nos tempos de Zico. E foi assim que Jorge Ben Jor começou "Camisa 10 da Gávea". A música acabou inspirada num lance que virou marca registrada do Galinho. O golaço de bola parada em questão foi num Fla-Flu de 1976. Nessa partida, o Galinho de Quintino marcou, simplesmente, os quatro no clássico. A partida nem valia nada, era amistosa. Disputou-se uma taça chamada Nelson Rodrigues. Foi mais uma celebração do troca-troca de jogadores realizado pelos dois clubes idealizado pelo presidente tricolor Francisco Horta, o grande condutor da Máquina que fazia chover nos anos 1970.
O título do "Jornal dos Sports" na época, "Zicovardia", procurou dar o tom do show de Zico. Acompanhado por Geraldo, o Assobiador, começou ali a inspirar músicas em sua homenagem feitas tanto por músicos rubro-negros como por torcedores de outros clubes.
É o caso do vascaíno Aldir Blanc, que em parceria com o rubro-negro João Bosco assinou "Gol anulado", música que conta a história de um torcedor do Vasco que descobre a paixão da esposa pelo Flamengo após um gol do Galinho. Um caso de traição punida até com violência: "Tirei sem pensar o cinto e bati até cansar."
Tão fanático quanto Jorge Ben Jor, Moraes Moreira traduziu a tristeza da torcida rubro-negra com a despedida do maior ídolo em 1990. Em "Saudades do Galinho", o baiano fazia a pergunta que todo "geraldino" e "arquibaldo" tinha na cabeça: "E agora como é que eu fico
nas tardes de domingo sem Zico no Maracanã?".
nas tardes de domingo sem Zico no Maracanã?".
João Nogueira buscou inspiração nos versos do também rubro-negro Wilson Baptista para exaltar o esquadrão que se formava no fim dos anos 70. Os versos originais "O Mais Querido tem Rubens, Dequinha e Pavão" do "Samba Rubro-Negro" gravado em 1955 deram lugar a "Zico, Adílio e Adão" na versão de 1979.
O time que encantou João também virou notas musicais pelas mãos do cantor Bebeto. Em "Flamengão", o "xará" do ex-atacante vibrava e já dava a coroa ao Galinho: "O toque de bola desse time é um encanto / Só existe gênio nesse meio de campo / (...) Na frente rei Zico, com toque desconcertante / Lançou o Cláudio Adão que colocou no barbante."
Coroa também exaltada por Alexandre Pires, que com "Zico é o nosso rei" faz uma verdadeira declaração de amor ao ídolo. Na letra, o ex-vocalista do Só Pra Contrariar conversa com seu filho, batizado Arthur em homenagem ao ex-camisa 10, e revela seu sonho: ser Adílio, para poder tabelar com o Galinho.
Em um breve resumo de sua vida em forma de rap, Marcelo D2 lembra em "1967", o ano em que nasceu, da herança do sangue rubro-negro de seu avô Peixoto e das tardes no Maraca vendo "Zico, Adílio e Júnior fazendo a bola rolar".
Até mesmo o pessoal do Casseta & Planeta, do saudoso rubro-negro Bussunda, lembrou de Zico ao fazer uma sátira ao samba-enredo. Em "Tô Tristão", os humoristas contam a vida de um azarado torcedor que foi ao Maracanã sem a esposa, mas o "Zicão saiu de maca" logo aos dois minutos, enquanto o "Ricardão fez gol de placa" na sua casa.
Mas uma escola de samba de verdade também se rendeu ao Galinho. Como falar do Flamengo sem falar de Zico? Impossível. E o maior ídolo rubro-negro fez parte do enredo "Uma vez Flamengo" da Estácio de Sá no carnaval carioca de 1995, ano do centenário da equipe. A letra de David Correa, Adílson Torres, Déo e Caruso cita vários atletas que marcaram seu nome na história do clube da Gávea e destaca a maior conquista da geração de 1981: "Será que você lembra como eu lembro o Mundial que o Zico foi buscar."
Até mesmo um membro daquela equipe se arriscou como compositor e lembrou do companheiro. Junior, jogador com o maior número de partidas pelo Flamengo, fez "Pagode do Mengão" com Alceu Maia e dividu os ídolos do clube em uma roda de samba. O Capacete se apresenta como o "partideiro", deixa Rondinelli com o violão, Tita no cavaquinho e Zico "batucando no caneco". "Nosso time toca bola e também toca bateria", finalizava o ex-lateral-esquerdo, que chama até Romário para a brincadeira.
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