22 de fev. de 2013

O Dia Z



Quando vi o telefone tocar e o nome da irmã piscando na tela, o coração deu uma acelerada. Atendi o mais rápido que pude.
- Oi irmãzinha. Diz aí. – Oi. Tudo certo pra amanhã. Você vai poder vir? – Como assim eu vou poder ir? Pode estar estourando a terceira guerra mundial, bomba nuclear caindo do céu, radioatividade, efeito estufa, o escambau que estou aí! Só me fala que horas.
- Ele vai chegar por volta das dez. Chega por aí também. – Fechou! Beijo.
Desliguei e fiquei parado alguns segundos sem saber o que fazer. Corri pra chamar meu filho.
- Filhão, sua Dinda ligou. Tá tudo certo. Amanhã vou te levar pra conhecer o Zico! – Êêêêêêê
Sua empolgação durou alguns momentos e ele voltou ao seu mundo. A minha continuou na lua. Não é que eu iria encontrar o Papa ou o presidente dos Estados Unidos. Eu ia encontrar o Zico! E levando meu filho junto!
João tem cinco anos e adora futebol. Com dois anos, sob protestos e ameaças da mãe, foi ao Maracanã pela primeira vez. Uma indiscutível vitória de 1 x 0 sobre o Ceará. De uns tempos pra cá, maldita era digital, tem sido difícil enfrentar Messis, Neymares e Cristianos Ronaldo com Botinelli, Ibson e cia. Não me intimido. Conto pra ele histórias de batalhas, lutas, heróis e vilões, sofrimento e glória. De como um grupo vestido de vermelho e preto enfrentou a violência dos Andes para libertar a América. De quando um bando de tupiniquins subdesenvolvidos saiu do Rio para subjugar a coroa britânica e conquistar o mundo. Sempre comandados pelo Zico.
No dia seguinte, me acordou cedo.
- Papai, já está na hora de ver o Zico? – Quase, Filhão. Vai trocando de roupa e me espera.
Com tudo pronto, entramos no carro e partimos como quem parte rumo a Meca. Eu e ele, pai e filho, juntos como deve ser.
Passados nem cinco minutos e do banco de trás vem aquela frase que está gravada no DNA de todas as crianças do mundo.
- Papai, falta muito pra chegar? – Falta João. Dorme aí que passa mais rápido.
Ele obedeceu. Em pouco tempo dormiu, sonhando talvez com gols, dribles, aventuras, cavaleiros e piratas. Tudo narrado por Jorge Cury e Waldir Amaral.
Assim que chegamos, minha irmã nos recebeu e disse que o Zico tinha acabado de ligar. Estava chegando em dez minutos. João, um pouco tímido mas tranquilo, segurava a cartinha que tínhamos feito para ele entregar. Eu, nada tranquilo, me sentia como criança chegando na Disney pela primeira vez. Emoção e ansiedade misturadas.
Zicão chega. Apresentações feitas, João entrega a cartinha e sentamos numa sala para um café. Trocamos histórias. Ele do campo eu da arquibancada.
Conta do pai que não queria que ele fosse jogador, da seleção, do corte do Romário. João pergunta do gol de falta na final da Libertadores. Aquele que originou a melhor narração de gol da história do rádio. Ele conta como foi o gol e os três jogos. Eu conto do dia que paramos o trânsito da Francisco Bicalho para atravessar na contramão e chegar no Maracanã a tempo. Do dia que, para passar para o lado certo das arquibancadas (já lotado e com passagem fechada pelas obras), atravessamos pelo parapeito do anel superior. Um olho no abismo, o outro no PM que estava de vigia.
Durante pouco mais de meia hora, conversamos como amigos de longa data que somos. Eu torcedor, ele Zico. João escutou novamente parte daquelas historias que já conhecia, desta vez contadas pelo próprio herói de todas elas.
Fotos, autógrafos, agradecimentos e despedidas. Pai e filho, cada um à sua maneira, realizados no carro voltando pra casa. João pensava, perguntava e pedia que contasse novamente algumas historias.
Dessa vez não perguntou quanto tempo faltava pra chegar.
Rio, 31 de janeiro de 2013
Andre Portilho
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Mengão Sempre

Nenhum comentário: