Catimba, carrinho, pegada. Toda vez que ouve essas palavras, Victor Cáceres faz aquela cara de quem precisa com urgência de um dicionário ou de um tradutor. Elas fazem parte do vocabulário do jogador brasileiro, mas ainda soam estranhas e saem truncadas da boca do paraguaio. Há sete meses no Flamengo, o volante, de 27 anos, disse mais de uma vez que o idioma foi o maior empecilho para sua adaptação. Por vezes esteve em campo sem conseguir entender o que pediam treinadores e companheiros. Talvez por isso, o primeiro semestre no Brasil não tenha sido como ele e muita gente esperavam. Destaque e titular da seleção de seu país, Cáceres não conseguiu ser regular e não se firmou na equipe.
- Nas primeiras duas semanas, diziam para ficar mais perto dos zagueiros. Não entendia nada, não sabia o que diziam. Me falavam para dar carrinho, mas também não entendia (risos). Você tem que estar concentrado, tem milésimos de segundo para pensar e falar com os companheiros. Tenho que pensar rápido. Algumas palavras são muito diferentes do espanhol, não dá para entender quando falam muito rápido. Tenho companheiros que eu não entendia nada quando falavam. O Muralha falava muito rápido. O Início foi muito complicado. As gírias do futebol entendo muito pouco. Às vezes falam algumas palavras que não entendo. Ouvia "maneiro", achei maneiro e comecei a falar (risos). O grupo é muito bom, maneiro, boas pessoas. Isso me ajudou bastante. Peguei Bottinelli, Maldonado e González, que falam muito melhor que eu. O Fabinho (assessor) também me ajudou muito. Ainda não falo bem, mas entendo quase tudo. Espero falar legal até o fim do ano - contou o volante.
Mas 2013 começou diferente. Cáceres está entre os 11 de Dorival Júnior desde o início da Taça Guanabara. Mais confiante e à vontade, o paraguaio, em bom portunhol, conta que a música foi uma aliada para ajudar a aprender português. Principalmente o pagode.
- O Negueba (hoje no São Paulo) passou as músicas para o meu computador, músicas de todo tipo. Pedi para passar pagode, no vestiário se ouve muito pagode. Eles cantam mais devagar, dá para entender e aprender. Ajuda muito.
No computador, no som do carro de Cáceres e enquanto toma tereré em casa, as músicas do grupo Sorriso Maroto estão entre as mais tocadas. O GLOBOESPORTE.COM convidou o volante para um encontro com dois integrantes da banda. Rubro-negros, o vocalista Bruno e o percussionista Cris se impressionaram com o português do jogador, que deixou a timidez de lado em uma conversa descontraída.
- Não acho difícil aprender a cantar, mas é difícil compreender. A gente usa gírias nas letras, e o cara tem de conseguir associar. É muito rápido. Ele tem que traduzir a letra, está cantando, dançando. Mas mesmo assim ele diz algumas gírias, está colocando no vocabulário dele, entende muito bem - elogiou Bruno, um dos compositores do Sorriso.
Uma das canções do grupo está entre as prediletas de Cáceres: "Assim você mata o papai", que fez sucesso na novela "Avenida Brasil". O problema é interpretar a letra.
- Acho que quer dizer que eu vou matar meu pai (risos) - confundiu-se o paraguaio, que logo foi auxiliado pelo cantor para entender o refrão musical.
- Aqui seria uma mulher sensual, que ao passar na frente mata o papai de vontade de estar com ela - explica o vocalista, arrancando gargalhadas do volante.
Mas quando o assunto é entender o que orienta o técnico Dorival Júnior, Cáceres garante já ter aprendido a lição, apesar da velocidade do discurso do comandante. Satisfeito com as chances que tem recebido neste ano, o jogador aproveitou para agradecer o treinador, que assim como as músicas foi parte importante de sua adaptação.
- O Dorival fala rápido, mas fala muito bem. Diferente do que falam os companheiros, dá para entender. Eu acho que esse semestre começou muito melhor, tenho que agradecer ao Dorival pela chance. O jogo no Brasil é mais dinâmico, mais correria. Acho que agora estou melhor adaptado. Aqui sempre alguém liga a caixa de som no vestiário e coloca as músicas do ipod. Vários jogadores dançam. Eu fico sentando, olhando. O máximo é isso aqui (bate o pé no chão). Os jogadores são muito divertidos, o vestiário é muito mais animado. Já fico à vontade, já conheço as músicas. No Paraguai, os ritmos mais famosos são Cumbia e Latino. Não levei as músicas daqui para a seleção paraguaia porque lá tem outra tradição - contou.
Com o pandeiro em mãos, o percussionista Cris ajudou a marcar o ritmo do Sorriso Maroto e lembrou que a tarefa do paraguaio é tão difícil quanto a de um grupo musical que tenta fazer sucesso fora de seu país.
- É difícil vir para outro país, outro estilo de jogo, não fala o idioma ainda. Tem de ter o período de adaptação. Se adaptar ao clima, o jogo no campo é falado. Se ele não entender, é difícil. Como não vai entender o treinador?
Natural de Assunção, Cáceres é casado com Martha e pai de Mathias, de três meses, e Victor Manuel, de quatro anos. O filho mais velho em breve estará na escola e terá aulas em português. Hoje, a família só conversa em espanhol, mas isso vai mudar.
- Em casa só falamos espanhol. Falamos muito pouco em português, quase nada. Mas temos que aprender porque o filho está entrando na escola, vamos ter que falar português com ele. Aprendo com as músicas e no contato diário com os companheiros, não faço aulas. Meu empresário (Régis Marques) fala portunhol. Fala mal espanhol e mal português (risos) - brincou o paraguaio, fã de churrasco, mas que passa dificuldades em restaurantes por não sabe ler em português e, por isso, conta que come muita pizza por ser mais fácil de falar.
Pouco a pouco, Cáceres entra no ritmo. Fã de guitarra - apesar de não saber tocar -, só não peça para ele cantar ou se aventurar no pandeiro.
- Eu canto muito mal. Ainda estou falando pouco português, para cantar não dá (risos) - desconversou o volante, que só arriscou cantar o hino rubro-negro ao ser ajudado por Bruno e Criz. Mas, sem legenda, ainda tropeçou na letra.
- Sei cantar mais ou menos. "Uma vez Flamengo, uma vez até morrer" (risos).
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