O currículo repleto de passagens por grandes clubes do Brasil, como Cruzeiro, Vasco, Santos, Atlético-MG e Internacional, não impede Dorival Júnior de dizer que treinar o Flamengo é a realização de um objetivo profissional. Mesmo tendo chegado à equipe em meio a uma forte turbulência e ainda estar recuperando a imagem do time após a má campanha no Brasileiro do ano passado, a satisfação é grande.
Em entrevista ao Esporte Espetacular, o comandante rubro-negro diz que se sentiu "preenchido" ao receber a chance de assumir o time, mesmo sabendo que colocar tudo nos eixos demandaria muito suor.
- O Flamengo sempre foi objetivo da maioria, senão de todos os atletas do futebol brasileiro. Eu nunca tive essa oportunidade, então você não tem ideia do quanto eu me senti preenchido em poder estar à frente de um clube como o Flamengo hoje. Sinto que é um desafio muito grande.
Se 2012 terminou com a equipe sob desconfiança da grande torcida, a atual temporada ainda não trouxe tristezas: o Flamengo tem a melhor campanha do Campeonato Carioca até o momento, com 22 pontos em oito jogos. Nenhuma derrota em 2013.
O bom momento faz Dorival valorizar a existência dos criticados Campeonatos Estaduais, aos quais se refere como "laboratórios com nível de exigência", onde as equipes podem se preparar para um torneio mais exigente. Segundo o técnico, foi o que aconteceu com sua equipe, que recebeu reforços e vem conseguindo crescer.
- Não tínhamos alguns jogadores que precisávamos, basicamente de velocidade, e de repente nessa passagem de um ano para o outro, nós recebemos alguns jogadores que pedimos para tentar mudar esse perfil. Para, nós lá dentro, mantínhamos a mesma condição: cobrando dos jogadores, incentivando, mostrando que nós poderíamos chegar, independente do que viesse a acontecer. O que nós precisamos agora é essa sequência, essa busca por um equilíbrio da equipe.
Trabalho com jovens
O estilo de trabalho de Dorival Júnior é marcado, principalmente, pelos jovens jogadores que conseguiu lançar nas equipes por onde passou. O técnico gaba-se por ter lançado promessas que vieram a fazer parte de times vencedores de Figueirense, Fortaleza, Sport, Cruzeiro, Vasco e Santos. No entanto, deixa claro que sua participação ocorre apenas no final do ciclo de formação dos garotos.
- Na verdade o treinador profissional não lança, ele apenas proporciona. Quem forma realmente são aqueles que não aparecem. Um trabalho moroso, lento, contínuo, que vai acontecendo dentro de um clube. E os louros muitas vezes caem em cima do treinador da equipe. A gente observa sempre que possível as equipes de base. Eu gosto de olhar os treinamentos de um contra o outro, percebendo ali a personalidade de um atleta ou outro - afirma.
Com propriedade para falar do assunto, o paulista aponta diversos problemas na política de revelação de jogadores no Brasil. Dorival acredita que a pressão de empresários é o principal deles, já que o lucro visado com jovens talentos é cada vez maior. E os defeitos na formação dos novos talentos podem falar muito sobre o mau momento do futebol brasileiro.
- Está acontecendo principalmente uma pressão de empresários, às vezes de diretorias, para que você lance garotos de um modo geral. Porque o garoto tem que aparecer para ele virar dinheiro rapidamente. Pequenos erros que fazem com que paguemos um preço muito alto. O meu temor é porque nós nunca fomos grandes formadores. O Brasil nunca se preocupou, porque jogador brotou aqui, brotou ali em quantidade. A partir do momento que os países europeus passaram a se preocupar um pouco mais e prestar atenção... Hoje em dia quem pratica o melhor futebol do mundo? Nós estamos aí na 17ª, 18ª colocação do ranking da Fifa.
Neymar: amadurecimento após polêmica
Um dos jovens com quem Dorival Júnior teve oportunidade de trabalhar foi Neymar. Grande astro da seleção brasileira atualmente, o atacante do Santos começava a entrar no caminho para se tornar uma estrela em 2010, quando o treinador estava na Vila Belmiro. E durante um jogo contra o Atlético-GO, pelo Campeonato Brasileiro, o atleta discutiu com o técnico dentro de campo: a origem de uma polêmica que culminaria na demissão de Dorival, que decidiu punir o jogador por conta própria.
Mais de dois anos depois do episódio, o atual técnico do Flamengo crê que toda a polêmica gerada na época acabou trazendo consequências positivas para a carreira de Neymar.
- Houve um amadurecimento muito grande por parte do Neymar. Para mim foi fundamental aquilo lá. Logicamente que eu gostaria de ter finalizado meu contrato com o Santos, ainda tínhamos o Campeonato Brasileiro correndo. Era um trabalho que ainda estava muito no início, e eu gostaria muito de finalizá-lo. Mas não podemos deixar de reconhecer que o Neymar cresceu muito, amadureceu muito, é um jogador diferente. Podem ter certeza de que quando a Seleção for mais coletiva, também com a ajuda do Neymar, o próprio futebol do Neymar vai crescer na Seleção, e ele será um diferencial.
Questionado o que falaria para Neymar hoje, Dorival crava:
- Você não quer vir para o Flamengo? (risos). Não tem muito o que falar. A evolução, o amadurecimento dele, já é um comportamento satisfatório.
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