30 de nov. de 2013

A NAÇÃO OFF-RIO VAI AO PARAÍSO

E agora, Botafogo? Até o Val já ganhou uma Copa do Brasil.
Em 2009 eu era o flamenguista mais importante das terras meridionais, porque só eu tinha aquilo que todos queriam: ingressos para a partida final contra o Grêmio.
Como se sabe e eu já toquei no assunto, existiam então 3 maneiras de conseguir comprar o passaporte para a final: a) encarar as gigantescas filas, onde Darwin podia comprovar sua teoria com mais eficiência do que na Ilha de Galápagos, ali o pote de ouro era privilégio dos mais fortes, no sentido literal e figurado da palavra; b) negociando com um cambista, com todos os riscos e custos daí inerentes; c) conhecendo alguém que tivesse as conexões certas no clube para interceptar os ingressos antes que eles fossem vendidos.
Está claro que as opções “a” e “b” eram de uso exclusivo de cariocas, porque por mais valente que fosse o torcedor de outras praças, ele estava fisicamente impedido de ir até o Maracanã durante a semana participar daquele rali. Só restava procurar quem pudesse intermediar a transação para ele – e eu era um desses caras, pois o clube, em ato de extrema boa vontade, concedeu aos responsáveis pelas Embaixadas o direito de fazer uma lista de pedidos. Fiz a minha com 40 ingressos, modestamente.
Meses atrás encontrei casualmente um cara que eu conhecia da academia e ele veio me agradecer, dizendo que graças a mim tinha vivido a maior emoção da vida dele, que era ver o Flamengo campeão ao vivo. Olha que coisa doida: o cara só teve como ir ao jogo porque, no intervalo do supino e do leg press, veio puxar assunto e calhou de encontrar a pessoa certa. Fosse ele cliente de outra academia ou treinasse em outro horário, iria ver o jogo pela TV.
A final da Copa do Brasil reservou múltiplas emoções, todas devidamente celebradas e comentadas, mas para mim tem uma em particular: foi lindíssimo ver a Nação Off-Rio desembarcar no Maracanã e abraçar o time.
Levantamos muitos títulos na NOSSA casa – é nossa mesmo, porque como se aprende nas primeiras aulinhas da faculdade, ter a posse às vezes pode ser mais relevante do que ter a propriedade. Em todos eles, uma característica bem comum: o público era quase todo carioca, exceto por alguns gatos pingados que tinham as conexões certas para descolar um ingresso antecipado.
Dessa vez, tudo diferente: o Rio de Janeiro foi invadido por gente de tudo quanto é canto do país, já que o ingresso estava ao alcance de um clique (e alguma dose de paciência, fica a dica aí para reforçarem os servidores para ano que vem). Definitivamente, o Maraca foi democratizado, aberto à frequência da imensa parcela da Nação que não tem a sorte de morar sob os braços do Redentor.
A vida inteira a gente passa dizendo que somos 40 milhões, que o Flamengo tem torcedor em tudo que é canto, blá-blá-blá. Se antes tinha sido feito quase nada por eles, a resposta agora veio em forma de viagens: o mais importante era justamente isso, dar a cada um o direito de vir ao Rio assistir o jogo quando der na telha, sem ter que conviver com a incerteza ou ficar devendo favores.
Eu sei que é caro, que as passagens estão pela hora da morte, que a maioria do povo não tem acesso a isso, pode ir completando o muro das lamentações que eu não tenho mais saco para isso. Mas eu também sei que as pessoas fazem escolhas na vida e muitas delas envolvem economizar bastante para realizar a viagem dos sonhos. Para alguns, pode ser ir a Orlando abraçar o Pateta. Para outros, pode ser ir ao Rio abraçar um desconhecido e chorar com ele na hora do gol do Brocador.
É lindo demais descobrir que o acesso ao sonho foi franqueado a qualquer brasileiro de bom gosto. E somos muitos e espalhados, como a história registra. Aliás, vou até permitir te dar um conselho…se você quer saber mais porque somos assim, maiorais mundo afora, não pode perder um evento singular.
Dia 07/12, o Luiz Hélio Alves, mais conhecido como Poeta, vai lançar na Gávea o livro “Mengo meu Dengo – Paixão sem Fronteiras”. Poeta é um desses exemplos de dedicação à causa rubro-negra, mora no Sertão e de lá espalha suas trovas que incendeiam a massa.
Os Off-Rio, que como eu não poderão ir ao evento de gala, farão como na final: podem comprar pela Internet sem sustos, o Poeta depois manda a dedicatória por email, ele se amarra em fazer amizades virtuais. O que faz dele uma espécie de hipster, porque afinal 2013 vai entrar para a história como o ano em que o Flamengo descobriu a Internet. Com um pequeno atraso, mas…quem nunca?
2014 promete. A Nação Off-Rio vai guardar o 13º no cofrinho, para voltar muitas vezes ao Paraíso. Bom demais ser Flamengo, melhor ainda quando o amor sobrevive à distância.
Walter Monteiro
Mengão Sempre!
Rubro-negro bem vestido, me ajuda a acabar com os perebas no time do Flamengo. Entra logo no sócio torcedor.

Nenhum comentário: