O Grupo C da Eurocopa, com sede na Polônia, tem a principal equipe a ser batida no torneio: a Espanha. Como segunda potência da chave, pelo menos na camisa, vem a Itália, que aposta na força da zaga e na juventude para fazer uma boa campanha.
Como “zebras”, Croácia e Irlanda, que chegaram ao torneio através da repescagem, comem pelas beiradas para tentar avançar de fase e surpreender as gigantes campeãs mundiais.
Campeã em 1964 em casa, a Espanha demorou a voltar a fazer jus ao seu apelido de Fúria. Em 2008, sob o comando de Luis Aragonés, a equipe venceu a Euro, disputada na Suiça e na Áustria. Na final, bateu a Alemanha por 1 a 0 em Viena, com um gol de Fernando Torres. Quatro anos depois, já sob o comando de Vicente Del Bosque, a seleção mostrou que não conquistou o torneio por acaso e se colocou como a seleção número 1 do mundo, levando a Copa do Mundo da África do Sul em 2010.
- Os espanhóis se sentem favoritos, e não é para menos. É exatamente isso que eu tenho visto. Mas o Del Bosque tem trabalhado muito em cima disso. É inevitável esse sentimento no país. O grande adversário da Espanha na Euro é o favoritismo. Eles reconhecem que o Mundial foi tão brilhante quanto a Euro e precisam trabalhar este favoritismo. A Espanha vai ser a maior adversária dela mesma - comentou Marcos Senna, campeão da Euro em 2008 com a Fúria.
Para se ter uma noção desta evolução, a Espanha, antes de 2008, não tinha sequer chegado às semifinais de um grande torneio depois da conquista de 1964.
Apesar de duas goleadas sofridas em amistosos após o Mundial, para Argentina (4 a 1) e Portugal (4 a 0), a Espanha, cuja base é formada por jogadores dos arquirrivais Real e Barça (Casillas, Xabi Alonso, Iniesta, Xavi, Piqué, entre outros), não mostrou abatimento nas eliminatórias. O desempenho foi perfeito, com 100% de aproveitamento no Grupo I. Porém, para Marcos Senna, apesar das muitas opções, a seleção pode sentir a falta de Puyol na defesa e David Villa no ataque (ambos foram cortados por lesão). O segundo foi o artilheiro da Eurocopa de 2008 e da Copa da África do Sul.
- Com certeza vai sentir a falta de David Villa, ele é fundamental. Foi artilheiro da Euro 2008 e da Copa de 2010. Vai fazer falta com certeza. Mas a seleção está capacitada para superar essa baixa. É um sistema de jogo muito forte que o Del Bosque tem, com jogadores que fizeram uma grande temporada. Além do que, o atacante é mais um setor com muitas opções: Fernando Torres, Llorente, Soldado, Negredo, Adrián Lopez.... - completou o volante do Villarreal.
Desde que conquistou a Copa do Mundo de 2006, a Itália vive dias cinzentos. Na Euro 2008, foi eliminada nas quartas de final pela Espanha. E na Copa do Mundo de 2010 ficou em último lugar no Grupo F, atrás de Paraguai, Eslováquia e Nova Zelândia. Porém, com a chegada de Cesare Prandelli, o céu ficou mais claro para a Azzurra.
Com caras novas, a seleção se classificou sem sustos para a Euro, levando apenas dois gols nas eliminatórias – a defesa menos vazada. Os 26 pontos em dez jogos é um recorde para a seleção da Velha Bota em uma campanha de qualificação para um torneio. Para Lédio Carmona, comentarista do SporTV, Cesare Prandelli é figura essencial nesta “nova Itália”.
- A Itália continua sendo uma grande seleção, mas está mudando os seus conceitos. A escolha do Prandelli foi muito saudável, o time ficou mais ofensivo, menos arcaico. Há muito tempo a seleção não tinha uma fase classificatória tão tranquila como foi essa, apesar dos amistosos não terem sido tão bons. Não sei se é uma seleção que dá pra ser campeã, mas eu acho que pode honrar a Azzurra.
Para tentar o segundo título da Itália na competição (a única conquista foi em 1968), Prandelli aposta na juventude. O técnico chegou afirmar que só chamaria os atacantes Del Piero e Totti “em caso de emergência”. Balotelli, Cassano e Di Natale são as opções para a linha de frente da tetracampeã mundial. O brasileiro naturalizado italiano Thiago Motta também está na lista de Prandelli.
- Acho normais os nomes, dentro da normalidade, é uma boa seleção. Eu gosto do jogador Balotelli, mas não gosto da figura dele, do personagem que ele é. O comportamento dele é sempre inadequado. Se eu fosse italiano, não gostaria de pensar no futuro da Itália atrelado a ele. Sobre o Thiago Motta, apesar de ser temperamental, é um bom volante, com o padrão europeu de jogo. É uma ótima opção de jogo – disse Lédio.
Croatas posam para foto antes de amistoso
Na teoria, os croatas chegam ao Grupo C como terceira força. Para avançar em uma chave com duas potências (Espanha e Itália) e uma zebra (Irlanda), o técnico Slaven Bilic deve apostar nos contra-ataques, comandado pelo meia Modric, do Tottenham, a estrela da companhia. A dupla de ataque deve ser formada por Olic, do Bayern, e pelo brasileiro naturalizado croata Eduardo da Silva, do Shakhtar. Para Eduardo, um empate com a Itália e uma vitória contra a Irlanda são fundamentais para o time avançar para as quartas de final.
- Nosso calendário está como a gente queria. O último jogo é contra a Espanha, que temos que ter muita sorte para vencer, e o primeiro é contra a Irlanda. Acho que dá para classificar com quatro pontos. Uma vitória contra a Irlanda e um empate com a Itália vão ser importantes. Temos o grupo mais difícil da Euro. Acho que o mais difícil para nós vai ser avançar de fase. Se conseguirmos isso, vai facilitar e vamos ficar mais fortes. O jogo contra a Itália vai ser decisivo - afirmou Eduardo.
Desde que se filiou à Fifa e à Uefa em 1992, após se emancipar da antiga Iugoslávia, a seleção só não participou da Euro de 2000. E, na última, em 2008, esteve muito perto de chegar às semifinais. A Croácia vencia a Turquia na prorrogação ate os 13 minutos do segundo tempo, quando sofreu o empate. Abalada psicologicamente, foi eliminada nos pênaltis.
A classificação para a Euro 2012 veio com muita emoção no Grupo F, onde ficou em segundo lugar, com 22 pontos – dois a menos que a líder Grécia, e quatro a mais que o terceiro colocado Israel. Na repescagem, a coisa foi fácil. A seleção levou a melhor na “revanche” contra os turcos: 3 a 0 fora e 0 a 0 em casa, com boas atuações de Olic, que voltava a defender o país após um longo período de lesão e 13 meses sem ser titular da Croácia.
Irlanda nos jogos da repescagem (Agência AFP)
Não tem como negar: se a Irlanda avançar no Grupo C vai ser uma surpresa. Há dez anos longe de uma competição importante (desde a Copa do Mundo de 2002), o italiano Giovanni Trapattoni conseguiu levar a seleção à Euro de maneira até, pode-se dizer, tranquila. No Grupo B das eliminatórias, a seleção ficou em segundo lugar, com 21 pontos, dois a menos que a Rússia e quatro a mais que a Armênia. Na repescagem,passado o trauma da “mão de Henry” no jogo contra a França, que tirou os irlandeses do último Mundial, o time não teve dificuldades contra a Estônia: 4 a 0 fora e 1 a 1 em casa.
- O país está satisfeito com o Trapattoni. É a primeira competição importante que vamos disputar desde a Copa do Mundo de 2002. Quase não há críticas em relação a ele. Estamos felizes de estar participando da Euro. Talvez possamos sair na fase de grupos. Mas só de estarmos novamente no cenário mundial já é importante – analisou o jornalista David Hennessy, do diário irlandês “The Independent”.
Esta vai ser a segunda vez da Irlanda na Eurocopa. A única participação havia sido em 1988, quando foi eliminada na primeira fase. Para aprontar diante de Espanha, Itália e Croácia, Trapattoni aposta na mesma base que quase foi à Africa do Sul, em um time experiente, liderado por Robbie Keane (Los Angeles Galaxy), Damien Duff (Fulham), Richard Dunne (Aston Villa) e Shay Given (Aston Villa). A grande sensação, entretanto, deve ficar no banco. É o meia norte-irlandês James McClean, do Sunderland, que optou em defender a República da Irlanda. Após a lista oficial do técnico italiano, McClean foi ameaçado através de redes sociais por pessoas do seu país de origem.
Um desfalque de última hora para o técnico italiano foi o meia James McCarthy, do Wigan, que pediu para não ser convocado ao saber que seu pai está com câncer.
- A experiência deles (Duff, Keane e Given) pode ser fundamental na Euro. O país também aposta em Dunne, que jogou uma temporada fenomenal no Aston Villa. Acho que a seleção não vai sofrer com a ausência de McCarthy. A gente sabia que ia ficar gente de fora. Temos muita experiência no meio de campo. Sobre o McClean e as ameaças que ele recebeu, ele já sabia que iria lida com isso ao resolver defender a Irlanda em vez da Irlanda do Norte. Acho que ele tem muito a somar ao grupo, é uma ótima promessa, que pode entrar e decidir uma partida – completou David.
*Colaborou Jorge Natan
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