Não basta dizer que o Grupo B é o "Grupo da Morte" da Eurocopa de 2012. Com cinco títulos da competição reunidos, duas das três melhores seleções da última Copa do Mundo, quatro no top-10 do ranking da Fifa e o segundo melhor jogador na atualidade, a chave é simplesmente muito mais do que a teoria sugere. Não à toa Holanda, Alemanha, Dinamarca e Portugal prometem parar as cidades de Lviv e Kharkiv, na Ucrânia, e atrair atenções de todo o planeta bola durante os dias 9, 13 e 17 de junho.
Apesar do favoritismo de holandeses e alemães, o discurso prévio é basicamente o mesmo em todos os países: avançar às quartas de final e aí tentar se aproveitar de um cruzamento mais favorável contra os representantes do Grupo A (Polônia, Rússia, República Tcheca Grécia) para se tornar um dos quatro melhores do continente. Resta saber se alguém terá esse privilégio.
A derrota na final da última Copa do Mundo para a Espanha só fez propagar o clichê de que a Holanda é o time do quase. Credenciada por eliminar o Brasil de Dunga, na África do Sul, e realizar ótimas eliminatórias, a seleção laranja aposta na boa fase de seus centroavantes para não bater na trave novamente e repetir a geração vitoriosa de 1988, liderada por Marco van Basten, Ruud Gullit, Frank Rijkaard e outros.
No que depender da pontaria afiada de Klaas-Jan Huntelaar, do Schalke 04, e Robin van Persie, do Arsenal, ambos de 28 anos, a campanha terá muitas comemorações - na qualificação, o time de Bert van Marwijk se classificou com nove vitórias em dez jogos e média de 3,7 gols por partida. Huntelaar, com passagens por Real Madrid e Milan, foi o artilheiro do Campeonato Alemão, com 29 gols (48 em toda a temporada). Van Persie conseguiu tal feito no acirrado Campeonato Inglês, com 30 gols (37 no geral).
Nem tudo, porém, é motivo de esperança aos holandeses. Van Marwijk tem sido pressionado a mudar o seu esquema, seja com a entrada de mais um volante fixo, De Jong, do Manchester City, ou a de Huntelaar para fazer companhia a Van Persie. O problema em questão é que a utilização de dois atacantes implicaria em possíveis mudanças também com Arjen Robben, do Bayern de Munique, e Wesley Sneijder, dono de uma temporada de altos e baixos no Inter de Milão. A ausência mais sentida será a do lateral-esquerdo Erik Pieters, do PSV.
- Por manter a base desde a Copa do Mundo desde 2010, praticamente o mesmo time, e pelo futebol ofensivo bem jogado, que eles têm como algo primordial, considero a Holanda favorita. Como o Van Marwijk passou a usar cinco no meio praticamente burlando a ideia de três atacantes, ele conseguiu tornar a Holanda também mais competitiva. É uma seleção que não apenas sai pro jogo, mas joga de igual para igual, e cria chances. É uma boa notícia para o Van Persie e Huntelaar, que foram muito bem na temporada, embora seja difícil imaginá-los juntos. Vai ficar principalmente em cima do atacante do Arsenal, que é mais técnico - avaliou Raphael Rezende, comentarista do SporTV.
Em 2006, uma seleção jovem surpreendeu e foi aplaudida com o terceiro lugar numa Copa do Mundo em casa. Dois anos depois, o passo foi maior: a final da Eurocopa, vencida pela Espanha. Na África do Sul, porém, nova eliminação na semifinal, dessa vez para a Fúria, colocou em dúvida o poder de decisão de uma geração que havia goleado Inglaterra e Argentina. É fato que o futebol vistoso do time de Joachim Löw encanta o planeta bola, mas ao mesmo tempo o jejum de 16 anos sem um título - desde a Eurocopa de 1996 - só faz elevar a pressão sobre os alemães.
Não há dúvidas de que Schweinsteiger, Müller, Özil, Gómez, Lahm, Neuer e tantos outros estão preparados, assim como a enorme responsabilidade que passaram a carregar após os bons resultados recentes. Desde a Copa, Uruguai, Brasil e Holanda foram superados até com alguma facilidade. E, nas eliminatórias, uma campanha impecável com dez vitórias em dez jogos (34 gols marcados e sete sofridos) apenas ratificou o momento de protagonismo da Alemanha.
Muito do sucesso pode cair na conta do técnico Joachin Löw, ex-assistente de Jürgen Klinsmann. O treinador de 52 anos caiu nas graças do povo e dos dirigentes e viu o seu contrato ser renovado até o fim da Copa do Mundo de 2014, no Brasil.
- A seleção alemã sempre se caracterizou por contar com muitos jogadores experientes e rodados, e hoje, se você tirar o Lahm, o Schweinsteiger e o Klose, a média deve bater na casa dos 23 anos. E tenha certeza de que não dá pra medir essa equipe pela carinha de garoto dos atletas. São jogadores já vividos, disputando grandes competições no futebol europeu. Não é à toa que despertam interesse nos principais clubes do mundo - disse o brasileiro Felipe Santana, zagueiro do Borussia Dortmund desde 2008.
Portugal posa para foto antes de jogos pelas
A falta de entrosamento talvez seja o maior inimigo de um craque consagrado quando ele se muda do clube para a sua seleção. Cristiano Ronaldo já fez boas partidas, anotou 32 gols por Portugal em 88 oportunidades, mas ainda deve uma grande conquista à sua nação. E se em 2004 ele não era maduro o suficiente para ajudar os lusos a serem campeões da Eurocopa, o atacante do Real Madrid chegará na Polônia e Ucrânia vivendo o auge de sua carreira.
Campeão espanhol, Cristiano marcou 63 gols em 66 jogos na temporada 2011/2012, computando números pelo time merengue e também por Portugal. Em média, o rendimento é visivelmente melhor no clube (60 gols em 55 jogos), o que condiciona as esperanças da seleção basicamente nas atuações do camisa 7, já que o restante do elenco é composto por bons coadjuvantes, como Nani, João Moutinho, Raul Meireles, entre outros.
Outro ponto favorável é a união do grupo. O episódio que envolveu o lateral Bosingwa, do Chelsea, e o zagueiro Ricardo Carvalho, do Real Madrid, ficou para trás, e o técnico Paulo Bento usufrui de uma boa taxa de aprovação da torcida e jogadores. Mas, por mais que ambos não sejam atletas incontestáveis, deixaram a defesa com menos opções em um grupo que praticamente não permite erros. Com a Dinamarca, durante as eliminatórias, não foi o suficiente e Portugal acabou tendo de disputar a repescagem diante da Bósnia.
- Existe sempre a esperança de que Cristiano Ronaldo apareça bem nesta competição depois da temporada fantástica com o Real Madrid. Todos acreditam que o desempenho de Portugal estará relacionado com o seu momento. Apesar do grupo, a esperança está centrada em avançar às quartas de final. Se Portugal conseguir atingir essa fase significará que deixou um dos concorrentes (Holanda ou Alemanha) fora - disse Nuno Dias, do jornal português "A Bola".
Considerada o "patinho feio" da chave, a Dinamarca chega à Eurocopa credenciada por uma classificação direta em uma chave justamente com um dos rivais. Nas eliminatórias, a campeã de 1992 mandou Portugal para a repescagem com uma vitória por 2 a 1 no último confronto, em Copenhague. A superioridade foi tamanha que o placar acabou injusto com o gol de Cristiano Ronaldo já nos acréscimos.
Os dinamarqueses sabem, no entanto, que precisarão jogar um melhor futebol para avançarem. A esperança passará pelos pés da promessa Christian Eriksen, meia de 20 anos do Ajax, e do atacante Nicklas Bendtner, que costuma ter melhores atuações pela seleção do que em clubes, seja pelo Arsenal ou o Sunderland.
Técnico desde agosto de 2000, Morten Olsen é quem está há mais tempo no cargo dentre os participantes da Eurocopa. O tempo é mais do que o suficiente para conhecer o material que tem em mãos, o que o levou a declarar que uma lesão poderá ser fatal. "Se alguém se machucar, não passaremos", disse, já sabendo das condições físicas ruins do zagueiro Simon Kjaer, do Roma.
- Temos um grande desafio pela frente, mas mal podemos esperar. As outras equipes em nosso grupo jogam um futebol fantástico, então sabemos que temos que ser muito competitivos. Mas, como a Dinamarca demonstrou quando ganhou em 1992, qualquer um pode ser campeão. Para começar, porém, só quero ver se podemos passar da fase de grupos - disse Bendtner à revista "Four Four Two".
*Colaborou Jorge Natan
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