A CEF e o Flamengo chegaram a um acordo, que ainda deve ser referendado pelo Conselho do Flamengo: por R$ 25 milhões anuais, o banco estatal patrocinará o Flamengo, com sua marca estampada no peito das camisas.
A assinatura desse acordo deixa claro que a ação movida por um torcedor do Rio Grande do Sul não deverá prosperar, como, aliás, não deveria mesmo. Legalmente não há porquê impedir que a empresa patrocine ou deixe de patrocinar quem bem entender.
Ideológica e eticamente, porém, a questão é diferente, pelo menos é assim que eu penso e já havia me manifestado em outras oportunidades, não só em relação à presença da CEF no Corinthians, como também em relação à Petrobras no mesmo Flamengo, à Eletrobras e Eletrosul no Vasco e no Avaí e Figueirense, e ao Banrisul nos times gaúchos.
E, por favor, senhores, sei das minúcias e diferenças teóricas entre as diferentes formas com que o Estado se faz presente nas empresas. E, justamente por isso, ignoro-as por irrelevantes que são. A existência e a opinião de acionistas privados, pessoas físicas ou jurídicas, não são levadas em consideração pelo Estado quando seus interesses – que no Brasil raramente são do Estado e quase sempre do grupo no poder – estão em jogo.
Baseado nisso, penso que empresa do Estado não deve investir em futebol, esporte profissionalizado com alto grau de renda e profissionalismo. E deve menos ainda escolher um time e patrociná-lo. Porque um time de futebol tem íntima ligação com uma parcela da sociedade por meio da paixão, da identidade que as pessoas têm com esse time. Ora, ao patrocinar um, ou dois, ou quatro ou mesmo um monte, teremos sempre um órgão do Estado privilegiando uma parcela ou mais de uma da sociedade em detrimento de outras. Inclusive aquela parcela dos que não têm time.
Isto posto, volto à velha realidade: a empresa existe de forma legal, está no mercado e depende do mercado para obter resultados. No sistema capitalista e no regime de livre mercado, isso pressupõe a liberdade básica de disputar clientes e mercados com as empresas concorrentes, usando para isso de todas as ferramentas possíveis colocadas à disposição, nesse caso, pelo marketing e propaganda.
Partindo dessa premissa, ou melhor, partindo da realidade, está fazendo a CEF um negócio excelente. Por um valor razoabilíssimo, até um pouco abaixo do que eu mesmo considerava como adequado, o banco aumentará muito sua exposição de mídia e, dependendo do que passa pela cabeça de seu pessoal de marketing, reforçará sobremaneira sua marca e sua presença nos corações e mentes de milhões de pessoas.
Por apenas 55 milhões de reais anuais a CEF terá um grande retorno em visibilidade e, se trabalhar em linha com o que se faz hoje em outros países, consolidará de forma marcante sua presença no mercado.
Eventualmente, inclusive, não é de se descartar a possibilidade de outras empresas do setor financeiro reforçarem suas presenças e imagem no mundo do futebol.
Rejeição?
Dificilmente teremos. Há pesquisas que apontam que o torcedor brasileiro tem um baixo nível de rejeição às marcas em concorrentes. A última, por sinal, realizada no final de 2012 pela Stochos, aponta que 96,6% dos torcedores não deixariam de comprar um produto ou serviço porque é de uma empresa que patrocina um time rival.
Trocando em miúdos, de acordo com essa pesquisa apenas 3,4% dos torcedores rejeitariam algo de uma empresa ligada ao adversário
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