13 de mai. de 2013

Bate-bola em família: polêmicas e sucesso entre pais e filhos jogadores


marcelo moreno flamengo (Foto: Alexandre Vidal/Fla Imagem)Moreno teve que responder sobre o pai na sua
apresentação. (Foto: Alexandre Vidal/Fla Imagem)
Não basta ser pai, tem que participar. Mas, às vezes, atrapalha. A atuação de pais na gestão da carreira ou, simplesmente, no dia a dia de filhos jogadores de futebol tem casos de sucesso - como o de Neymar -, e outros que causam problemas, como aconteceu com Marcelo Moreno. Na sua chegada ao Flamengo, o atacante colocou um ponto final nas polêmicas declarações de seu pai sobre o Rubro-Negro. Agir com a emoção acima da razão, instinto de defesa e despreparo são algumas das explicações para casos que vão desde "cornetadas" até declarações que prejudicam negociações de suas crias.
Fabiano Farah é o empresário de Marcelo Moreno e precisou ter jogo de cintura para conduzir a situação quando Mauro Martins, pai do atacante, classificou Flamengo e Palmeiras como “equipes fracassadas”, justamente durante negociações do jogador para deixar o Grêmio. Farah assumiu a frente no episódio e aproveitou o bom trânsito de bastidores para conversar com dirigentes de ambos os clubes e contornar a situação, evitando um desgaste maior.
O empresário - que cuidou da carreira de Ronaldo durante dez anos, trabalhou com Fórmula 1 e tem cursos e mestrado na Europa - não se estende sobre o assunto, mas aponta uma fórmula para que a relação entre jogador, pai, empresários e clubes tenha sucesso:
- É extremamente necessária uma gestão de carreira qualificada. O mais importante no relacionamento entre gestor de carreira, cliente, no caso o atleta, e família (pai, irmão, sogro empresários) é ter a sabedoria e disciplina de sempre evitar situações de miopia, que impedem de enxergar o que realmente pode ser feito, o que é melhor, o que é necessário para a solução do problema. É de suma importância na execução de soluções e ações durante uma gerência de crise ou de interesse.
Na sua apresentação ao Flamengo, na última sexta-feira, Moreno pediu que separem sua imagem da do pai, mais um torcedor do que um gestor da carreira do atacante.
- Temos que separar um pouco. Se quiserem saber alguma notícia, eu estou aqui para esclarecer, para responder e saber onde eu quero jogar. Em momento algum, vocês ouviram da minha parte eu falar a respeito dos times que meu pai citou. Ele é tipo um torcedor. Não tem que confundir isso - afirmou Moreno.
Mauro Martins mora na Bolívia e costuma ligar a metralhadora giratória quando procurado por jornalistas. No último contato com o GLOBOESPORTE.COM, durante a negociação do filho com Grêmio e Flamengo, ele chegou a dizer que o filho ficaria em Porto Alegre e disparou:
- Jornalista escreve muita mentira.
Durante a crise de relação entre Moreno e o Grêmio, o clube gaúcho chegou a colocar declarações do pai do jogador - que chamou a equipe de "timinho" - como um dos problemas, deixando claro o prejuízo que a polêmica provocou e também a associação entre família e futebol.
Por fim, o atleta conseguiu chegar a um acordo com seu ex-time para receber o que lhe era devido e acertou com o Rubro-Negro, que tampouco recebeu bem as declarações do pai. No fim, com a intervenção de Fabiano Farah, o desfecho foi positivo, e os ânimos, serenados.
Emocional x Profissional
Entre agentes e empresários, é denominador comum que desde cedo os pais devem ser orientados sobre a longa e tortuosa carreira de jogador, dos possíveis problemas e soluções. E que as escolhas precisam visar a uma conjunção dos lados pessoal e profissional, além de contar com a participação de uma pessoa gabaritada no meio do futebol, com conhecimento de parte comercial e contratual. Excesso de zelo e proteção ficam fora de campo.
Um dos principais empresários de jogadores de futebol do Brasil, com cerca de 90 atletas e nomes de ponta como o técnico Mano Menezes, Carlos Leite diz que é comum a relação pai/jogador influenciar em algumas decisões e conta como age para evitar problemas.
- Quando um irmão, pai, alguém muito próximo acaba conduzindo a carreira, eu vejo que a grande maioria toma algumas decisões mais pelo lado emocional do que o racional, o profissional. É até uma coisa normal de acontecer. Particularmente, eu nunca tive problema em relação a isso. Mas, em alguns momentos, você sente que alguns pais acabam tendo influência sobre o filho. Num geral, acaba o lado emocional tomando conta. Procuro colocar a questão com os pais, explico o que está acontecendo para não ter problemas. E colocamos nosso ponto de vista. A decisão final, quem vai dar rumo à carreira, será sempre o atleta. Temos que orientar, como “acho melhor isso, dessa forma a gente conduz melhor” - afirmou o empresário.
Carlos Leite aponta uma relação que deu certo:
- Há casos de sucesso, como o Neymar. Ele (pai de Neymar) consegue conduzir bem a situação, não está o tempo inteiro falando, as decisões são tomadas como têm que ser. Não sei se pelo fato de ser o Neymar se torna mais fácil.
Staff por trás de Neymar. E do pai
Neymar e Pai (Foto: Reprodução / Instagram)Neymar, pai e filho, união que deu certo no futebol
(Foto: Reprodução / Instagram)
Neymar da Silva Santos, pai e responsável pela carreira do jogador, dita a regra e tem uma meta principal: deixar Neymar livre para jogar futebol. Gerenciar a vida do astro mais badalado do Brasil é seu trabalho, que conta com a ajuda de 22 funcionários, divididos entre Santos, NR Sports, empresa da família, e o Instituto Neymar JR. O empresário Wagner Ribeiro também teve papel fundamental na consolidação da carreira do craque santista.
Eduardo Musa, principal gestor, é o homem colado em Neymar durante quase todo o tempo e responsável por fazer a agenda do atacante. Ele diz que Neymar, o pai, sabe enxergar o lado profissional e pessoal sem que haja uma mistura explosiva e emocional, mas sim uma soma de fatores que mostra que o resultado dá certo.
- A soma disso é uma estrutura profissional administrada por um conceito familiar. Nem sempre se consegue, mas ele (Neymar pai) tenta separar a questão do pai e do empresário. Uma das coisas que faz dar certo é isso. Uma forma profissional, mas com a cabeça pensando na família - afirmou.
Eduardo Musa acrescenta que a missão dos profissionais também é deixar o pai de Neymar informado sobre tudo. Segundo ele, o fato de ter sido jogador ajuda na condução de todo o processo:
- Os profissionais em volta dele vão municiando de informações, e ele decide de acordo com a vontade do filho e da família. Ele foi jogador de futebol. Com os erros que cometeu, aprendeu, passou por tudo isso e sabe onde o filho pode chegar.
As cornetas de Romário e o pai de Kaká
Em defesa dos filhos, os pais também soam as cornetas e causam situações embaraçosas. Em fevereiro, ao cobrar mais oportunidades para Romarinho no Brasiliense, o Baixinho deu de bico e chamou o técnico Márcio Fernandes de "burro".
- Como um cara que jogou por vinte e poucos anos, eu acho que o Romarinho teria tranquilamente vaga no time e poderia estar servindo o Brasiliense muito mais do que vem fazendo. Mas eu também já tive treinador assim, burro, que não conhece futebol e não coloca aqueles jogadores que são os melhores - disparou Romário.
O melhor jogador da Copa do Mundo de 1994 já havia criticado o técnico dos juniores do Vasco, Sorato, quando seu filho trocou o clube de São Januário pelo Brasiliense.
- O atual treinador, Sorato, nunca jogou p... nenhuma. Sempre foi um jogador medíocre. Como nunca teve personalidade como jogador, hoje é um mandado pelo presidente do clube.
Kaká, do Real Madrid, usa a mesma fórmula de Neymar. Seu pai, Bosco Leite, é também seu empresário. Em 2009, na transferência do Milan para o Real Madrid, que pagou a quantia de 65 milhões de euros (cerca de R$ 178 milhões) na contratação, pelo menos 10% - cerca de R$ 17,8 milhões - seriam destinados a Bosco a título de comissão.
Diego, do Wolfsburg, é outro que tem o pai como agente. Djair Ribas cuida dos interesses e transferências do filho desde 2004, quando ele trocou o Santos pelo Porto.
Assis: problema com Flamengo e nova postura no Galo
assis e Ronaldinho Gaucho coletiva Copacabana Palace (Foto: Alexandre Durão / Globoesporte.com)Assis concede coletiva ao lado de Ronaldinho 
(Foto: Alexandre Durão / Globoesporte.com)
Além dos pais, amigos e irmãos também gerenciam carreiras de jogadores. Assis cuida de Ronaldinho Gaúcho. Quando o jogador, que perdeu o pai ainda criança e viu o irmão assumir a função paterna, saiu do Milan para voltar ao Brasil, o empresário foi criticado pelo leilão que teria feito entre Palmeiras, Grêmio e Flamengo, que acabou sendo seu destino em 2011.
Na relação de pouco mais de um ano com o Rubro-Negro, Assis passou a ter trânsito livre em todos os setores do clube e, com o atraso dos pagamentos de Ronaldinho, passou a travar uma guerra fria com os dirigentes da época, que culminou na saída do camisa 10, após colocar o clube na Justiça.
No Atlético-MG, Assis tem atuação bem mais discreta e sempre respeitosa com o presidente Alexandre Kalil.
O ex-diretor do Barcelona Ferran Soriano, autor do livro "A Bola Não Entra Por Acaso", conta, entre muitas outras histórias, a relação com Roberto de Assis Moreira. Soriano relatou que Assis pedia reuniões frequentes para discutir a remuneração de seu irmão agenciado. Foi assim até 2008, quando o jogador deixou o clube.
A "bomba" de seu Juarez, pai de Fred
Fred treino Fluminnese (Foto: Rossana Fraga / Photocamera)Fred teve nome envolvido em polêmica devido à
declaração do pai (Rossana Fraga / Photocamera)
No ano passado, Juarez Pinheiro, pai de Fred, do Fluminense, também causou rebuliço ao dar declarações públicas sobre o filho. Ele revelou que que o atacante simulara lesão para não servir à seleção brasileira comandada por Mano Menezes em amistoso contra a Argentina. Juarez afirmou que o jogador pediu para os médicos do Tricolor ligarem para os da Seleção dizendo que ele estava com dores musculares. Três dias depois da partida do Brasil, Fred atuou os 90 minutos do jogo contra o Bahia, pelo Campeonato Brasileiro.
O caso ganhou proporções e gerou mal-estar. O Fluminense divulgou nota oficial para explicar a situação de Fred, que orientou o pai para não dar declarações para a imprensa.
- Meu pai fala as coisas muito no calor. Ele também fala que eu sou melhor do que o Messi. E ai? É verdade também? Não - disse Fred, à época

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