Cerca de um ano após deixar o Botafogo rumo aos Emirados Árabes, Fellype Gabriel já se sente em casa no Oriente Médio. Com a fase de adaptação ao clima e ao idioma ultrapassada, o meia comemora o fim de temporada com resultado além do esperado no Al Sharjah e aproveita as férias no Rio de Janeiro para ficar em tempo integral ao lado da família. Sempre acompanhando de longe os jogos de seu último clube no Brasil e também do Flamengo, onde foi revelado, ele não esconde que existe um planejamento de retornar ao futebol brasileiro, para sonhar com uma chance na Seleção - a última oportunidade aconteceu no Superclássico das Américas, ainda com Mano Menezes, em 2012.
De férias em casa no Rio de Janeiro, Fellype Gabriel posa com a camisa 11 do Al Sharjah (Foto: GloboEsporte.com)
Com 28 anos, Fellype pretende seguir longe de casa até os 30. Em sua terceira experiência internacional - jogou no Nacional-POR em 2008 e passou duas temporadas no Kashima Antlers-JAP antes de chegar ao Botafogo -, o jogador revela que ponderou lados positivos e negativos antes de deixar o Alvinegro carioca.
- Penso sim em voltar ao Brasil, mas tenho mais dois anos de contrato com o Al Sharjah e a tendência é cumprir. Depois disso, quero voltar e aí sim tentar buscar de novo meu espaço para ser convocado. Estando em um centro sem muita mídia é mais difícil, quase impossível de aparecer. Mas foi uma opção que fiz, e a situação econômica do Botafogo fez com que eu fosse negociado. Fiquei mexido porque tinha um grupo legal, que eu gostava muito, mas pensei financeiramente e seria bom para mim.
Capitão do Sharjah durante a maior parte do campeonato, o meia teve que se adaptar a uma posição diferente da que vinha atuando antes de deixar o Brasil. Mais centralizado como armador do time comandado pelo brasileiro Paulo Bonamigo, foi um dos líderes de uma campanha acima das expectativas. Promovido de volta à elite do futebol dos Emirados no início de 2013, o objetivo do clube era principalmente o de permanecer na primeira divisão. Porém, após apresentar boas atuações e alternar entre a terceira e quarta colocações, o saldo foi um sétimo lugar.
- Lá eu joguei bem diferente do que no Botafogo. Aqui no Brasil eu jogava pelos lados do campo e às vezes até de segundo volante. Nos Emirados passei a fazer mais a função que o Seedorf fazia, no meio, como armador. Só no último jogo o Bonamigo me colocou de segundo volante, e gostou. Aí não sei como vai ser na próxima temporada. Fui capitão praticamente o ano todo, é uma responsabilidade grande, ter influência com jogadores e o diálogo com diretoria e treinador.
Apenas um brasileiro é seu companheiro de clube atualmente: o zagueiro Maurício Ramos, ex-Palmeiras. Como adversários, porém, outros jogadores se tornaram mais próximos, como Grafite (Al-Ahli), Ricardo Oliveira (Al-Wasl), Léo Lima e Eder Luis (Al-Nasr). Mesmo assim, a intenção é de manter-se bem próximo também dos locais.
O contato com os ex-companheiros de Botafogo é mantido. Por telefone ou pela internet, Fellype Gabriel sempre procura saber como andam as coisas pelos lados de General Severiano.
- Falo com o Dória, o Sassá, mantenho o contato com os meninos. O próprio Jorge Wagner (que não chegou a atuar com ele no clube), mora perto de mim aqui no Rio de Janeiro e converso com ele. Fui muito feliz e tive um grande momento lá, e torço pelos meus amigos. Assisti aos jogos da Libertadores, e o time teve dificuldades de montar e entrosar a equipe após as saídas de algumas peças. Mas espero que a situação melhore após a parada para a Copa do Mundo.
Fellype Gabriel em ação pelo Al Sharjah(Foto: Reprodução / Instagram)
Confira outros trechos da entrevista de Fellype Gabriel ao GloboEsporte.com:
Chegada e primeiros momentos nos Emirados Árabes
- No começo foi difícil pela cultura diferente, cheguei na época do Ramadã. Para quem é de fora é complicado pela questão do jejum. Mas depois que isso passou, foi bem tranquilo. Fizemos a pré-temporada na Alemanha, o que deve se repetir neste ano. Nos Emirados faz muito calor nessa época, você já sai do aquecimento suado. As crianças (tem dois filhos) se adaptaram bem, e lá não temos tantos jogos quanto no Brasil. Sempre tem um dia de folga e podemos passar juntos, passear. Coisas que não fazíamos aqui.
Futebol local e diferenças em relação ao Japão
- Lá ainda não é profissional. Tem jogador do meu time que trabalha na polícia. Trabalha de manhã e treina no fim da tarde. Às vezes isso cansa, e tem que ter jogo de cintura também. É um futebol menos evoluído do que eu vi no Japão, porque os jogadores da seleção ainda não saíram para jogar na Europa. Lá eles ainda investem muito em estrangeiros. Temos atuando o Caicedo, destaque do Equador, no Al Jazira, e o Asamoah, de Gana, do Al Ain e que foi artilheiro do último campeonato.
Situação do Flamengo
- É um clube que eu também acompanho. Fui criado lá desde os nove anos de idade. Sou profissional, mas a gente tem amizades. Parece que a diretoria que está lá hoje é séria e estão tentando mudar. Tenho ouvido de fora, mas os salários estão em dia, coisa que na minha época não tinha. Como todo time grande, tem pressão. Joguei pouco com o Ney Franco (em 2006), mas é um grande treinador e espero que dê jeito nas coisas.
Fellype, ao lado da esposa Carine e dos filhos Yasmin, de 6 anos, e Yan, de 7 (Foto: Divulgação)
Copa do Mundo de 2022 no Oriente Médio (Catar)
- Não sei se vai dar certo por causa do calor. Nessa época, lá está fazendo cerca de 50 graus. Não sei como vai ser por causa disso. Por mais que o estádio tenha ar-condicionado, você vai ter que passar um dia inteiro trancado no hotel. Até a água da praia é quente, e os pontos de ônibus têm ar-condicionado.
Férias e momento com a família
- Tenho aproveitado, vamos fazer a festa de aniversário da minha filha. No ano passado, acabei perdendo por ter que viajar pela manhã do dia da festa para acertar coisa da negociação. Esse ano, nas férias, marcamos com antecedência para ter a certeza de participar desse momento juntos.
* Por Thiago Benevenutte, estagiário
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