Após o sufoco contra o Chile, a seleção brasileira não tem tempo para respirar. Na sexta-feira, pelas quartas de final, o time de Felipão terá pela frente a Colômbia, sensação da Copa até o momento. Do outro lado, um camisa 10 que vem encantando o mundo: James Rodriguez, artilheiro do Mundial, com cinco gols. Adversário que o volante Fernandinho conhece bem.
- Cheguei a enfrentá-lo na Champions League, mas acho que era a primeira temporada dele na Europa. Ele ainda não era titular (do Porto), mas entrou no decorrer da partida. Já na ocasião mostrou sua qualidade técnica com o pé esquerdo. Nesse Mundial, ele está mostrando a todo mundo por que o Mônaco pagou tanto dinheiro por ele. No jogo, o mínimo de espaço que ele tiver, melhor para o Brasil – disse o volante, em entrevista coletiva na Granja Comary, após o treino desta segunda-feira.
Fernandinho na coletiva da Seleção: jogador pede atenção a James Rodriguez (Foto: Gaspar Nóbrega / VIPCOMM)
O camisa 5, no entanto, alerta: James Rodriguez não é o único colombiano com o qual a seleção brasileira deve se preocupar no Castelão.
- Assisti ao primeiro jogo da Colômbia na Copa, contra a Grécia. O primeiro gol me chamou a atenção, com Cuadrado cruzando da direita, e o Armero finalizou na esquerda. Todo o time chega muito forte ao ataque ao mesmo tempo. Temos que ter muito cuidado. O James (Rodriguez) e o Cuadrado talvez sejam os principais articuladores da Colômbia e temos que tomar muito cuidado com eles.
Jogador pode mudar de função
Fernandinho ainda salientou que jogar com só com a camisa, em uma Copa do Mundo, não adianta. O volante citou o exemplo de sucesso Costa Rica, que surpreendeu e terminou na primeira colocação em um grupo com Inglaterra, Uruguai e Itália.
- Para mim, nessa Copa , a maior surpresa é a Costa Rica. Isso mostra que não existe mais bobo no futebol. Se não correr e jogar só com a camisa, não adianta. Tem que ralar e fazer valer o peso da camisa.
Após ganhar a vaga de Paulinho e começar como titular contra o Chile, Fernandinho pode ganhar uma nova função contra a Colômbia. Com a suspensão de Luiz Gustavo, por conta do segundo cartão amarelo, é possível que o camisa 5 seja recuado para atuar como primeiro volante. O atleta do Manchester City se diz preparado, caso seja essa a opção de Felipão.
- Encaro (a possível mudança) com naturalidade. No dia da convocação, fui chamado como primeiro volante. Assim joguei na Inglaterra em toda a temporada passada. Para mim, (atuar como primeiro volante) não é problema nenhum. Se o Felipão optar por outro jogador, para mim também não será problema. O importante é achar o equilíbrio para que possamos segurar esse meio de campo da Colômbia.
Fernandinho destacou que o grupo tem uma grande responsabilidade nesta Copa do Mundo em casa (Foto: AP)
Por fim, Fernandinho defendeu os jogadores brasileiros, alvo de críticas por conta do destempero emocional na partida contra o Chile. O jogador citou a concentração da equipe nas cobranças de pênaltis para ressaltar que o lado emocional não atrapalhou em campo.
- Temos uma responsabilidade muito grande, estamos representando uma nação, 200 milhões de pessoas que, pelo futebol, podem ter alegria, um dia a dia melhor, viver melhor. A gente sabe disso. Nós, como seres humanos, podemos sentir emoções, por mais que seja um momento crítico. Mesmo assim, mantivemos a concentração numa hora decisiva, na hora dos pênaltis. Talvez a pessoa que mais tenha se concentrado tenha sido o Julio César. Antes das cobranças, ele transmitiu confiança aos jogadores.
Brasil e Colômbia se enfrentam na próxima sexta-feira, às 17h, no Castelão, pelas quartas de final da Copa do Mundo. Quem avançar, jogará contra o vencedor de Holanda x Costa Rica nas semis.
Confira a entrevista de Fernandinho em tópicos:
Jogo contra a Colômbia
Eu acho que vai ser difícil como foi contra o Chile. Daqui apara frente, não adianta fantasiar e esperar jogos fáceis. O tempo vai passando, adversários vão surgindo, jogos tensos, vamos trabalhar visando isso. Esperamos um jogo difícil, adversário complicado, mas sabemos que temos de superar as adversidades.
Substituto de Luiz Gustavo
Encaro com naturalidade. Fui convocado como primeiro volante também, joguei a temporada passada toda como primeiro volante na Inglaterra. Se (Felipão) optar por outro jogador ali, não tem problema nenhum. O importante é que o time encontre equilíbrio para estar bem no dia do jogo. Os jogadores que entrarem precisam estar bem para tentarmos segurar o meio-campo da Colômbia.
Fernandinho no treino da Seleção na piscina (Foto: Ricardo Stuckert / CBF)
Muda o jeito de jogar como primeiro volante?
Cada jogador tem sua maneira. Quando sou primeiro volante, procuro fazer o trabalho de marcação, fechar espaços, não dar espaços aos meias. Cada um dos jogadores tem uma maneira. Se tiver de jogar com algum deles, faremos o melhor para suprir a ausência de Luiz Gustavo.
Características do time da Colômbia
Vemos esses jogadores nos times europeus. Vi o jogo deles contra a Grécia, o primeiro da Copa, e chamou a atenção. Cuadrado cruzou da direita, e Armero pegou na esquerda. Chegam com laterais, com meias, temos de ter atenção e cuidado. James e Cuadrado são os principais articuladores. Temos de ter atenção com esses jogadores.
As conversas com psicólogos foram muito boas. Agora, são entre atletas, no vestiário. Todo mundo é experiente, cascudo. Temos condições de analisar as coisas e tentar mudar o que está acontecendo. Todos sabem o que temos de melhorar e o que temos que manter. Isso é importante. Procuro ficar tranquilo nas partidas, me focar, mentalizar o que vai acontecer para tomar as decisões
Fernandinho
Emoção dos jogadores
O preparo vem sendo feito desde a apresentação, em 26 de maio. Trabalhamos com psicólogo, boas conversas, começamos bem preparados. Não é hora de trabalhar essa parte emocional. Todos sabem o que temos de fazer. É entrar em campo e justificar nossa presença aqui.
Brasil pode jogar mais duro?
Único jogador que não apanhou foi eu. Fiz várias faltas e não sofri nenhuma. Estava em cima dos adversários. Espírito de Copa é isso. Não vai existir pegar a bola e caminhar com tranquilidade, principalmente contra Sul-americanos, que jogam Copa América, Libertadores. A gente vai entrar para evitar as faltas que acarretem o desgaste excessivo.
Favoritismo abalado após drama contra o Chile?
Eu vejo de uma maneira positiva. Passamos de adversário difícil, temos de valorizar. Eliminou o atual campeão do mundo (Espanha). Não foi à toa que chegaram. Nosso time soube lidar com essa pressão, contra um time que não tinha nada a perder, que jogou para empatar ou levar para os pênaltis. Nosso time manteve o nível de concentração até o fim. É importante nessa fase de mata-mata. Se vão apostar no Brasil ou não nas casas de aposta, não tem diferença. O que importa é fazer o nosso trabalho.
Ainda é favorito?
Espero que sim. Na minha concepção, é.
Pressão
As conversas com psicólogos foram muito boas. Agora, são entre atletas, no vestiário. Todo mundo é experiente, cascudo. Temos condições de analisar as coisas e tentar mudar o que está acontecendo. Todos sabem o que temos de melhorar e o que temos que manter. Isso é importante. Procuro ficar tranquilo nas partidas, me focar, mentalizar o que vai acontecer para tomar as decisões rápidas.
Confiança da torcida
Eu espero que o “eu acredito” possa ajudar. Todos falaram que o Mineirão tem dado sorte para a Seleção desde a Copa das Confederações. Conversei com o Jô sobre a Libertadores, que eles ganharam nos pênaltis, naquele mesmo gol. O Mineirão, esse grito da torcida do Atlético-MG na Libertadores, talvez possa ajudar. Mais importante é nossa atitude dentro do campo, quando a gente tem a posse de bola, de maneira bem feita. E quando não tiver a bola, defender de forma aguerrida.
Fernandinho acredita que vitória contra o Chile ajuda a dar confiança (Foto: Reuters)
Eliminações nas quartas para França (2006) e Holanda (2010)
A gente não conversa sobre o que passou. A gente vive o presente, o momento maravilhoso da carreira de cada um. Até mesmo os jogadores que estiveram na última Copa. Evitamos falar no que aconteceu. Estamos focados no hoje, no presente. O jogo contra a Colômbia é o mais importante das nossas vidas e vamos fazer tudo para conquistar a classificação.
Excesso de cobrança
O Brasil sempre é favorito. Isso sempre aconteceu. Nós sabemos que temos um grupo forte, ótimos jogadores, crescemos muito desde o início da competição. Isso tem fortalecido a cada dia que passa. Sobre o choro, cada um reage de forma diferente. Cada um tem uma reação. Não adianta dar destaque a isso, talvez não leve nosso time a lugar nenhum. Nesse momento, nosso nível de concentração foi muito bom numa decisão por pênaltis. Qualquer erro colocaria tudo por água abaixo.
Marcação individual sobre James Rodríguez
Nos lugares por onde passei, isso não existe mais. Acho que última vez foi no Atlético-PR, em 2003. Nunca mais joguei dessa forma. Nos clubes e seleções que joguei, é todo mundo marcando por zona. Se o jogador leva o marcador, acaba ficando um espaço muito grande. A marcação tem que ser por zona.
Marcação mais frágil da Colômbia
Diferente do Chile, gostam de jogar mais para o ataque. Os laterais apoiam ao mesmo tempo, meias chegam para finalizar. As seleções sul-americanas são aguerridas, chegam firme.
Claro que vai. Ele não está machucado. O sentimento sobre ele é normal, vamos torcer para que se recupere o mais rápido possível e esteja preparado.
Fernandinho, sobre Neymar
Evolução dos outros adversários
O nível do futebol mundial está equilibrado, todas as seleções cresceram muito. A gente tem uma prova que foi o Chile, que bateu a Espanha. A Costa Rica se classificou num grupo em que era saco de pancadas. Está muito nivelado. Mas o Brasil, por toda a história, pelos jogadores, estilo de jogo, sempre foi considerado favorito. Isso pode ser bom e pode nos ajudar a crescer. Isso pode fazer com que a equipe renda muito mais.
Neymar vai jogar?
Claro que vai. Ele não está machucado. O sentimento sobre ele é normal, vamos torcer para que se recupere o mais rápido possível e esteja preparado.
Excesso de faltas sobre Neymar
Os jogos são dessa maneira. Neymar tem estilo de jogo que gosta de ir para cima do defensor, tentar o drible, às vezes dois ou três jogadores acabam chegando para fazer a marcação e cometendo as faltas. Os árbitros têm deixado o jogo correr um pouco mais. Evitam de dar amarelo na primeira, segunda ou terceira faltas. Só depois advertem os jogadores. Isso pode estar coibindo os jogadores que usem essa técnica.
Estilo da Colômbia parece com o do Brasil?
Não citaria o futebol brasileiro, mas o sul-americano, que é um futebol alegre. James Rodríguez tem se destacado com gols e assistências. Cuadrado é um dos melhores da equipe, começa todas as ações de ataque do time, fôlego muito grande.
Posse de bola menor contra o Chile
Acho que o jogo foi equilibrado. Até o momento do gol de empate, criamos algumas boas chances, poderíamos ter feito o segundo gol. Analisamos bastante a equipe deles, não tiveram a mesma performance de jogos anteriores. Isso pode preocupar, nosso time é acostumado a controlar o jogo, não conseguimos isso nesse jogo, mas também por causa da tensão, da pressão. Um erro poderia acarretar a eliminação. Isso pode ter contribuído para mudar o estilo de jogo que a gente vinha tendo.
Desconfiança é justa?
Cada um pode ter um conceito. Nós jogadores, nosso grupo, está focado, confiante de que temos condições de passar, precisamos acertar alguma coisa ou outra. Confiança está alta, está grande. Jogo do Chile foi fundamental para que a gente pudesse se fortalecer, chegar mais forte nas quartas. Nós e a comissão estamos focados em fazer um grande resultado contra a Colômbia.
Liderança do Paulinho
Nosso grupo está unido, fechado, trocamos ideias. Tive conversa com vários jogadores, não só com o Paulinho, todos me apoiando. A gente tem esse costume, um orienta o outro, se ajuda. Naquele momento, foi quando o time se reuniu, isso é tradicional, ele encorajou os batedores. Transmitiu confiança para dar segurança a todos. Esse tipo de coisa é o diferencial da equipe. No momento crítico, de tensão, sempre tem alguém que vai tranquilizar.
Pressão por jogar em casa
O estado emocional está bem, tranquilo. Naquele momento, o estádio todo ficou tenso. No fim, tudo deu certo. Estamos tranquilos, essa semana vamos trabalhar para ver o que a equipe da Colômbia tem de forte e de fraco para usarmos na partida. Não adianta dar destaque a isso e esquecer que temos um jogo muito importante na sexta-feira, que pode dar a classificação