Um padrão na estratégia dos clubes brasileiros para buscar contratações ainda está sendo moldado. Há casos e casos - ou acasos. Mas a verdade é uma só: o futebol do país vive uma nova era. E o Corinthians representa bem esse apetite renovado dos clubes brasileiros no mercado. No ranking das cinco maiores contratações da história do futebol brasileiro, o Timão figura em quatro primeiras posições, sendo a compra de Alexandre Pato, ex-Milan, a segunda maior delas. O clube paulista desembolsou € 15 milhões (pouco mais de R$ 40,2 milhões, ou US$ 19,7 milhões) para ter o jogador, de 23 anos, a partir desta temporada. Tevez, no fim de 2004, foi o único mais caro - US$ 22 milhões, ou R$ 60,5 mi à época. Nilmar eMascherano, que a exemplo de Carlitos foram garantidos com dinheiro da MSI, entre 2005 e 2006, também figuram no Top 5.
Nos últimos oito anos, as contratações pomposas dos clubes locais fazem parte de um processo de mudança de rumos do futebol brasileiro, que deixou de ser simplesmente um mero exportador de talentos para investir em reforços de peso (sete das principais transações foram feitas entre 2011 e 2013). O Corinthians, baseado primeiramente no dinheiro fruto da polêmica parceria com o MSI, e agora com recursos próprios, após investimento em sua imagem, que começou com a contratação de Ronaldo, é o pioneiro nesta nova fase.
De acordo com Amir Somoggi, consultor de marketing e gestão esportiva, o segredo da notável vantagem do Timão no mercado é o bom proveito das receitas oriundas dos contratos de TV.
- O marketing está sendo mais bem explorado, além de programa de sócio-torcedor e sistema de venda de ingressos mais acessível. Mas o principal de tudo é a receita vinda da TV. Tudo isso começa a tornar o mercado importador. Por que o Corinthians pode contratar o Pato? Porque tem um contrato com a TV bem maior do que a maioria dos clubes brasileiros. O Flamengo poderia investir de forma parecida se não tivesse boa parte desta receita comprometida por dívidas.
O valor pago pela diretoria do Corinthians para repatriar Alexandre Pato fica próximo daquele que o empresário iraniano Kia Joorabchian desembolsou por Carlitos Tevez. Para tirar o argentino do Boca Juniors, ele gastou US$ 22 milhões (R$ 60,5 milhões, considerando o câmbio da época). Por Pato, o Timão pagou quase US$ 20 milhões, mais de R$ 40 mi pelo câmbio atual. Nilmar e Mascherano foram adquiridos junto a Lyon-FRA e River Plate-ARG por US$ 12,5 milhões (R$ 27,8 mi na ocasião) e US$ 9,6 milhões (R$ 25 mi, em 2005), respectivamente.
- O Corinthians tinha um potencial mal explorado até a chegada do MSI. A parceria teve coisas boas e alguns problemas. O maior deles foi o rebaixamento. Depois disso, com sua torcida gigantesca, o Corinthians soube explorar melhor a sua marca. Imagine se o Flamengo contratasse o Ronaldo. Talvez estivesse colhendo tudo que o Corinthians conseguiu. O Flamengo é um gigante adormecido, que não tem feito valer o poder de mercado que tem. Um jogador pode fazer total diferença na vida financeira de um clube. O Ronaldo viu no Corinthians uma oportunidade que não teve no Flamengo, mesmo sendo flamenguista - disse Somoggi.
Após a saída do fundo de investimentos MSI, o cenário não poderia ser pior para o Corinthians no fim de 2007. O time estava rebaixado para a Série B do Campeonato Brasileiro e ainda vivia sob o bombardeio de críticas em virtude da estranha associação com a antiga parceira e Kia. O futuro parecia cinzento, se comparado ao dos maiores rivais.
O Corinthians estava mergulhado no fundo do poço, mas teve a sorte de contar com a competência de um grupo de pessoas que conseguiu capitalizar essa paixão de forma a impulsionar o clube de volta ao sucesso. Caminho simbolizado pela chegada de Ronaldo. O Fenômeno fez explodir a receita e deu credibilidade internacional ao Corinthians. O resultado se revelou em títulos, especialmente a inédita conquista da Copa Libertadores e do bicampeonato mundial no ano passado, já sem o craque em campo.
- Estamos vivendo uma nova era. Passamos a vida inteira dizendo que os clubes tinham que vender jogador para sobreviver e agora as coisas mudaram. Os clubes perceberam isso de 2008 para cá e no ano seguinte com o efeito Ronaldo no Corinthians. É por isso que estamos repatriando vários atletas, como Pato.
Reforço do Corinthians para 2013, Alexandre Pato desembarca no Brasil com um preocupante histórico de lesões: foram 16 em seis temporadas pelo Milan. Pelo clube italiano, Pato disputou 150 jogos, marcou 63 gols e conquistou apenas dois títulos. Para Amir Somoggi, o acordo entre o jogador e o clube paulista é bastante temeroso.
- A contratação do Pato é uma atitude de risco. Mesmo que ele renda em campo, talvez ele não consiga pagar a conta. Por mais que consiga vender camisas e que os estádios continuem cheios, é um investimento muito alto (R$ 40 milhões por 60% dos direitos). Tem que usar o jogador para alavancar receita, exatamente como fez com o Ronaldo, que trazia muito mais visibilidade - concluiu.
O São Paulo é o único clube a se intrometer no domínio corintiano nas grandes contratações do país. A chegada de Ganso (em setembro do ano passado) é a quarta maior contratação da história do futebol brasileiro: US$ 11,8 milhões, ou R$ 23,9 milhões
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