22 de jan. de 2013

O Segredo do Sucesso do Basquete do Flamengo.


Apesar de toda a propaganda negativa que a invejosa e mal vestida arco-íris faz o Rubro-negrismo não é coisa de vagaba. É uma atividade de tempo integral que exige dedicação, fôlego e pontualidade. Toda dia tem evento, reunião, treino, jogo, regata, entre outros saudáveis folguedos onde a Magnética sempre está muito bem representada.
Vejam o caso do basquete do Mengão, passando o rodo de maneira impiedosa e com uma incrível série de vitórias que tem levado os revisores do Guiness Book of Records à exaustão física. Todo dia tem que refazer o verbete do recordista brasileiro de vitórias consecutivas na liga. Tinha um monte de gente cobrando de mim alguma menção aos nossos mulambos da bola laranja e eles estavam cobertos de razão. O estrago que os caras estão fazendo nas quadras é sensacional.
Como não me arrisco a fingir que sou especialista do basquete procurei alguém que pudesse me dizer com honestidade e sem mistificações baratas qual é o segredo do sucesso do nosso basquete. Fui logo em alguém que já foi campeão de basquete pelo clube, quando era conhecido como Pocotov e que calhou de ser atualmente o vice-presidente de Esportes Olímpicos, o Alexandre Póvoa. Lê aí o que ele tinha a dizer.

Póvoa é o último na fila da frente no time de 87.
Arthur Muhlenberg
21:56 (20 horas atrás)
para Alexandre
Meu amigo Póvoa,
imagino que você esteja soterrado de trabalho. Será que você tem um minutinho pra responder a essa micro entrevista que pretendo publicar no Urublog?
1. O Basquete do Flamengo está voando, quebrando recorde atrás de recorde, quanto desse sucesso tem a ver com o trabalho feito pela nova administração?
2. O basquete do Flamengo se sustenta ou ainda depende do futebol?
3. Em quais esportes olímpicos o Flamengo pode ter desempenho semelhante ao do basquete ainda em 2013?
grande abraço
srm
Caro Arthur,
A vida realmente não está fácil. Estou começando a minha empresa em parceria com sócios estrangeiros (que exigem muito) e ao mesmo tempo tentando ajudar a tirar a “empresa dos nossos corações”, o nosso Flamengo, do atoleiro que está. Só foi possível aceitar o desafio porque o grupo que assumiu encampou a ideia de profissionalizar o Flamengo de A a Z, sem concessões. Porém, nesse início, até arrumarmos a casa, todos estamos tendo que trabalhar junto com os profissionais que estão chegando. Mas depois, a ideia é que os vice-presidentes desempenhem um papel apenas de planejamento, deixando os profissionais cuidarem do dia-a-dia.
Como diria um amigo meu, o último amador que deu certo foi o Amador Aguiar do Bradesco. Mesmo assim já se aposentou há muito tempo. No nível que está o esporte hoje, profissional tem que conversar com profissional, dentro de um planejamento bem feito (realizado em conjunto com os vice-presidentes, que no nosso caso, modéstia à parte, conhecem bem do assunto por terem vivência empresarial importante). Enfim, temos bastante confiança que, em três anos, “a bola pode até não entrar”, “a cesta não cair”, mas o Flamengo estará arrumado e voltará a ser respeitado. Respondendo às suas perguntas.
Pergunta 1: O Basquete do Flamengo está voando, quebrando recorde atrás de recorde, quanto desse sucesso tem a ver com o trabalho feito pela nova administração?
No dia 4 de dezembro, no dia seguinte à eleição, liguei para o Neto (técnico) que estava na Argentina disputando o Sul-Americano para prestar todo o meu apoio. Infelizmente, durante a campanha, alguns boatos maldosos foram lançados dizendo que a Chapa Azul iria acabar com todos esportes olímpicos, inclusive o basquete. Temia que o anúncio de nossa vitória pudesse, por conta dessas mentiras, desestabilizar o time. Logo nesse primeiro contato, minha excelente impressão se confirmou.
Até por ser ex-atleta do esporte, já vinha acompanhando como torcedor o trabalho do basquete rubro-negro nos últimos anos. A insistência no trabalho do técnico anterior (o argentino Gonzalo Garcia) foi um erro e a chegada do Neto foi um grande acerto da diretoria anterior. A NBB estava começando e para mim era evidente que o trabalho tinha tudo para dar certo.
Quando o Neto voltou ao Brasil (perdemos o sul-americano por conta de 3 minutos infelizes contra Brasília, que fazem parte do esporte), tivemos uma reunião onde trocamos várias ideias e eu coloquei a filosofia da nova diretoria, reforçando o apoio. Com a perda do Marcelinho, foi pedido um reforço e, apesar das dificuldades financeiras, encaminhei o pedido é diretoria e foi aceito. O paraguaio Bruno Zanotti estreia nessa quinta contra o Paulistano, é um jogador de muita raça, acho que vai fazer sucesso com a torcida.
O trabalho da nova diretoria foi trabalhar junto ao comando do basquete para dar tranquilidade ao time, Havia salários atrasados de alguns jogadores (até de junho/2012), que foram colocados em dia. A falta de organização e de dinheiro colocava até em risco o pagamento de algumas despesas simples (federação, aluguel de ginásio, etc….) que poderia colocar o Flamengo em situações constrangedoras (até de WO). E a quantidade de jogos – 14 – era enorme em janeiro (por conta dos adiamentos, dado que jogamos o Sul-Americano), o que multiplicava o risco de problemas. Conseguimos equacionar os problemas e as demandas do comando do basquete.
Acho que a montagem do time (realizado pela diretoria anterior) foi muito bem feita. É lógico que nenhum time é perfeito, depois da contratação do Bruno Zanotti, se tivéssemos o Marcelinho em quadra e mais um pivô da posição 5 como suplente, do estilo do Caio, o time estaria próximo do ideal. Infelizmente, ainda perdemos o Shilton temporariamente por contusão. Mas nem tudo é possível na vida.
Portanto, o mérito da diretoria atual – juntamente com o comando do basquete que permaneceu da gestão anterior – foi dar tranquilidade ao grupo poder pensar só em treinar e jogar basquete. O trabalho dentro da quadra está sendo muito bem feito e os atletas individualmente está bem. Dirigente não ganha jogo, até porque a minha bola de três pontos já deixou de entrar há muito tempo (rs). Quem sabe somos um pouco “pé-quentes” também ?
Para completar, estamos implementando a passos largos a prometida estrutura profissional prometida. Contratamos o Marcelo Vido para o cargo de Diretor Executivo de Esportes Olímpicos, ex-atleta de alto nível também do basquete, que disputou duas Olimpíadas, três Mundiais e dois Sul-Americanos. Mais importante, quando parou de jogar, estudou no exterior a administração do esporte e está há mais de dez anos como dirigente esportivo, tendo passado os últimos sete anos em um dos nossos modelos a serem perseguidos, o Minas Tênis. O Flamengo não pode ser início nem final de carreira para ninguém. Tem que ser o auge.
Portanto, o nosso papo com o grupo ficou mais fácil, é de “basqueteiro para basqueteiro”. Agora, é muito legal essa invencibilidade para a nossa autoestima rubro-negra. É o Flamengo que dá certo, como nos velhos tempos. Mas não podemos nos iludir. A NBB é um campeonato muito difícil e obviamente vamos perder alguns jogos e isso deve ser encarado com naturalidade. O importante é chegarmos ao auge nos playoffs, quem sabe no Maracanãzinho ou no HSBC Arena lotados, esse é o nosso sonho, vamos trabalhar para isso. Mas antes temos a Liga das Américas, que queremos ganhar também.
Por enquanto, um recado final. A diretoria e sobretudo o time estão fazendo a sua parte. Está na hora da torcida comparecer em peso, até para ajudar com a receita de bilheteria, enquanto conversamos com patrocinadores. Jogo com o Paulistano na quinta, às 20 hs, e com o Pinheiros, no sábado, às 16 hs, sempre no ginásio do Tijuca. Dois jogos dificílimos, precisamos da nação para empurrar !
Pergunta 2: O basquete do Flamengo se sustenta ou ainda depende do futebol?
Infelizmente, a situação dos esportes olímpicos não é diferente do resto do clube. Assumimos com as receitas (escolinhas + patrocínios + Lei de Incentivo ao Esporte) não atingindo nem 20% das despesas. Apesar do futebol também não ser autossustentável, as receitas esmagadoramente vêm dele. Determinamos 3 regras que devem ser cumpridas para que um esporte olímpico permaneça no Flamengo em alto nível (veja bem, não estou falando de base nem escolinhas, que sempre existirão, estamos nos referindo a atletas de ponta):
1 – O Flamengo tem que entrar nas competições com plenas chances de ganhar. Para fazermos times sem chances, só para dizer que estamos disputando, preferimos não participar.
2 – Os atletas de ponta têm que servir de exemplo para as categorias de base, não somente em conduta como também treinando no clube para ser espelho para os mais jovens.
3 – Todo o esporte deve ser, a médio prazo, autossustentável.
O item 2 foi determinante para termos decidido não renovar com os atletas de natação de ponta. A degradação da piscina do Flamengo nos trouxe a constrangedora situação de não permitir que os atletas treinassem no clube. Portanto, demos prioridade para privilegiar a base e tentar reformar a piscina. Isso é muito mais importante para o Flamengo no médio-longo prazo do que ter uma equipe de natação.
Nosso trabalho será fazer com que os esportes olímpicos gradativamente se sustentem e deixem de depender do sucesso do futebol para sobreviverem (item 3). Com isso, teremos um grande trabalho pela frente na reconstrução das escolinhas, na captação de recursos da Lei de Incentivo e na busca de patrocínios.
Pergunta 3: Em quais esportes olímpicos o Flamengo pode ter desempenho semelhante ao do basquete ainda em 2013?
Temos 8 esportes olímpicos sob o nosso comando – basquete, , ginástica olímpica, judô, nado sincronizado e pólo aquático, tênis, natação vôlei. Os cinco primeiros têm atletas e técnicos olímpicos no Flamengo e esperamos que natação e vôlei se juntem a esse rol até 2016. Nossas prioridades:
1 – Construir, em cada esporte, projetos que consigam ser um sucesso em termos esportivos e que consigam auto-financiamento até o final de 2013. Vamos criar projetos que tenham ligação entre si, onde os profissionais interajam desde a escolinha até o esporte de ponta.
2 – Reconstruir a Gávea aproveitando os recursos que chegarão para a Olimpíada de 2016. Mais importante do que o evento no Rio, é deixarmos nossa infraestrutura pronta para voltarmos a fabricar grandes atletas para 2020, 2024, e assim por diante. Nossos modelos são o Minas e o Pinheiros. O primeiro, tem 14 mil alunos nas escolinhas (nós temos 2 mil). O Minas tem o dobro de orçamento do Flamengo para esportes olímpicos (100% autossustentável). O Pinheiros tem R$ 160 milhões de orçamento anual, sendo que R$ 100 milhões vêm de receitas 100% produzidas dentro do clube (sócios, escolinhas, etc…). O orçamento total do Flamengo é de cerca de R$ 250 milhões e nem 5% das receitas vêm de dentro do clube. Por isso que todos nós rubro-negros ficamos tão focados em patrocínios masters e afins. Temos que criar receita própria (clube, escolinhas, sócio-torcedor, licenciamentos, etc…).
Muita gente comenta que Minas e São Paulo não tem praia, por isso os clubes são fortes. Não aceito esse argumento, até porque em Minas e São Paulo não têm Leblon nem Lagoa, com o nosso clube encravado em um dos lugares mais belos do planeta. Precisamos transformar a Gávea. Conclamo os rubro-negros a se associarem o quanto antes, precisamos de todos !
Enfim, muito trabalho pela frente, mas estramos confiante que vamos conseguir, com trabalho profissional, fechar ao longo do tempo todos essas lacunas de atraso para que voltemos a ser um clube forte tanto na formação de atletas como também na conquista de títulos de ponta nos esportes olímpicos.
Abraços,
Póvoa

Mengão Sempre

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