Turbulências são fenômenos que alteram a rotina de um voo e, figurativamente, a rotina de vida de uma pessoa ou de uma instituição. No ar, dependendo do que está à frente e do aparelho sob seu comando, o piloto faz um desvio e evita a área de turbulência mais forte. Algumas há que são tão fortes que o único jeito é evitar, mesmo, em nome da segurança. E muitas há que são inevitáveis e aí surgem os avisos luminosos para colocar o cinto de segurança. Logo depois, o desconforto das subidas e descidas súbitas, os solavancos, o olhar amedrontado da maioria e os que não demonstram o medo na face, tem-no bem escondidinho na barriga.
Na vida das pessoas e instituições não é muito diferente. Claro, as turbulências deixam de ser fenômenos meteorológicos para serem sentimentais, emocionais, financeiros… Estou quase para dizer que nos dias de hoje os financeiros são os tais nessa questão, mais que os sentimentais.
No caso do Flamengo desse início de 2013 é inevitável: turbulências serão comuns por algum tempo. Quanto? Difícil precisar, tanto para quem está fora como, também, para quem está dentro do clube, vivendo todo esse processo.
Em certo momento do post anterior sobre o clube – Bom começo para um novo Flamengo –, de 300 comentários liberados pelo menos uns 290, ou muito perto disso, eram de apoio total à gestão de Bandeira de Mello e às suas primeiras decisões. Foi um bom sinal, mas é fundamental que a torcida rubronegra continue apoiando sua direção e para isso é preciso que a gestão continue sendo transparente e mantendo sua credibilidade, pois o ano corrente será brabo, pelo menos em seu início.
Retomo esse tema e retomo o Flamengo em função de nova penhora de receitas – agora no valor de 3,8 milhões de reais – e do montante de receitas já penhoradas, que chega a 58 milhões de reais. Essa situação é complicada e difícil, quase impossível, de ser evitada. Na vida real, a saída é negociar com a Receita caso a caso, “perdendo” anéis, colares e o que mais for preciso, para salvar os dedos e todo o corpo.
Esse é um fato relativamente novo no mundo boleiro: o governo federal, mais precisamente a Secretaria da Receita Federal, parece ter endurecido o jogo. A verdade é que durante anos os clubes se financiaram através do não pagamento de tributos, como bem disse o novo presidente rubronegro, Bandeira de Mello. Os valores cresceram mês após mês e os juros cobrados sobre eles acabaram por levar os totais das dívidas a valores – muito provavelmente – impossíveis de pagar sem negociação.
Essa é a herança recebida pelo pessoal da Chapa Azul, essa sim, sem a menor dúvida, uma verdadeira herança maldita. Por isso é preciso que o torcedor entenda com clareza a situação, para poder compreender a necessidade e o alcance das medidas que foram tomadas e outras que, certamente, virão a ser tomadas, igualmente amargas.
Turbulência no gramado
Outro ponto que não deve surpreender o torcedor é a existência de alguma turbulência com o elenco, como foi noticiado em matéria do portal GloboEsporte anteontem. Uma das funções do diretor executivo de futebol Paulo Pelaipe é ser o membro boleiro da gestão. Pessoalmente, e sem saber de tudo que ocorreu nos bastidores, acredito que Zinho seria uma pessoa interessante para se ter no grupo justamente para essa função. Em sua ausência, talvez seja o caso do Flamengo trazer outra pessoa para trabalhar com Pelaipe e fazer o meio-de-campo entre elenco e direção. Embora Dorival Junior seja contratação da gestão anterior, não vejo porque não mantê-lo no cargo, afinal, é um treinador competente, com bons trabalhos e capacitado a dirigir o time tecnicamente. O foco, portanto, deve ser mesmo o elenco.
Que é bom, assim como a comissão técnica, e o time, uma vez entrosado e treinado, tem plenas condições de fazer uma boa campanha na competição mais importante do ano – o Campeonato Brasileiro. Eventualmente, poderá até ir longe numa das outras competições em formato mata-mata.
Os fatores mais importantes para que isso aconteça, entretanto, estarão fora do gramado: confiança na gestão por parte do elenco e da torcida, e apoio dos torcedores ao clube, portanto, à direção, independentemente das chuvas & trovoadas que o horizonte prenuncia.
Novo patrocínio traz céu de brigadeiro
O dia de hoje foi marcado pelas contradições entre o céu pesado e turbulento das penhoras e um belo e azul céu de brigadeiro, trazido de longe pelo novo patrocínio, o primeiro da nova gestão. Se o Conselho aprovar, o clube passará a contar com o patrocínio da Peugeot em sua camisa durante três anos, por 15 milhões de reais anuais, inicialmente.
Aqui tenho dois pontos: primeiro, é um excelente patrocínio, tanto pela empresa como pelo valor. Segundo, o Flamengo quer fazer um rodízio de marcas, uma a cada quatro meses na posição “máster”, cada uma pagando os mesmos 15 milhões. Contudo, mesmo dando certo e o clube auferindo respeitabilíssimos 45 milhões de reais, não é uma operação que me agrada, e falo isso pensando, justamente, no complexo de marketing e marcas.
Sou a favor que os clubes voltem a valorizar o patrocinador efetivamente máster, principal e único. De alguns anos para cá nossas camisas ficaram tomadas por uma enorme profusão de marcas e logos, alguns “brigando” terrivelmente com a camisa que, em tese, deveriam prestigiar e respeitar. E os donos dessas camisas aceitando qualquer coisa nelas estampada, desde que a troco de algum dinheiro.
Quando surgiu o primeiro festival de patrocinadores, no caso no uniforme do Corinthians em 2009, também critiquei e também disse que era uma medida compreensível, dadas as dificuldades financeiras do clube, mas que esperava fosse passageiro. Não foi passageiro. Então, sim, é compreensível que os patrocínios entrem nessa roda viva criada pelo futebol brasileiro, mas espero que não dure muito e as camisas voltem a valer pelo que são. Enquanto isso, a vinda de mais dois patrocinadores dará bom fôlego para o Flamengo nesse 2013 que anda precisando de mais céu de brigadeiro e menos tempestades.
Com dois lembretes finais: mesmo em céu de brigadeiro ocorrem turbulências, por vezes perigosíssimas. Não tenho nenhuma relação com a Chapa Azul ou qualquer de seus membros, e não gostei de uma coisa e outra em seu programa, como deixei claro em post nesse OCE. Se pareço estar defendendo-a agora como gestão, e estou mesmo, é porque acredito nas intenções de seus componentes e tenho profunda convicção que uma gestão bem sucedida será muito benéfica tanto ao futebol brasileiro como ao Flamengo.
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