3 de set. de 2012

Deivid dá adeus com certa tristeza: 'Não foi o que todo mundo esperava'


Coletiva Deivid Flamengo (Foto: Richard Souza / Globoesporte.com)Deivid concede última coletiva no Flamengo
(Foto: Richard Souza / Globoesporte.com)
Da chegada com pompa, em agosto de 2010, à saída discreta nesta segunda-feira. Depois de acertar a rescisão de contrato com o Flamengo na última sexta, Deivid esteve no Ninho do Urubu para se despedir dos companheiros. De camiseta branca e calça jeans, o atacante conversou com os jogadores à beira do campo principal do CT durante o treino. Depois, se despediu dos amigos, de funcionários e do diretor de futebol Zinho. Em seguida, rumou para a sala de entrevistas, a mesma onde tantas vezes falou em nome do grupo em momentos difíceis. O mesmo espaço em que em alguns momentos teve de justificar gols inacreditavelmente perdidos. O jogador, de 32 anos, preferiu não dizer qual será o próximo clube, mas já entrou em acordo com o Coritiba por três temporadas - ele chega ao clube nesta terça-feira, quando assinará o contrato e será apresentado, e a estreia deve ser exatamento contra o Flamengo, sábado, no Couto Pereira..

Com 99 jogos, o atacante não chegou a ter qualquer movimentação para festejar a marca de 100 partidas que se aproximava.

- Infelizmente não pude fazer o centésimo jogo pelo Flamengo, mas acho que as coisas correram tudo bem. Chegou a hora. O mais importante foi ter feito o acordo, sair numa boa, pela porta da frente, sair sem rancor.

Com 31 gols em dois anos, Deivid ficou 24 meses sem receber seus direitos de imagem, que eram a maior fatia do seu alto salário. Por isso, entrou na Justiça ainda com contrato em vigor para cobrar cerca de R$ 8 milhões. Para ser liberado antes do fim do vínculo, que terminaria em dezembro, Deivid abriu mão de parte do valor a que tem direito. Segundo ele, o clube ainda tem de quitar algumas parcelas, mas ele preferiu encerrar o processo para receber a quantia de forma imediata.
- Eu decidi sair, até pelo fato de a dívida ser muito alta, por ter ido à Justiça. Só com um clube que eu tive um probleminha no início da carreira, que foi no Santos, mas foi resolvido. Não seria uma coisa boa ficar dez anos, cinco anos, esperando. Foi bom tirar essa ação, até com todos os problemas que tivemos aqui o clube sempre me tratou com respeito. Fico triste por deixar os companheiros. Como sempre costumo dizer, dinheiro acaba. A amizade verdadeira, não. Depois de dois anos deixar o clube para quem eu torcia desde pequeno me deixa um pouquinho triste, mas faz parte do trabalho profissional, vou estar torcendo de longe.

Deivid é realista quando faz um balanço da passagem. E lamenta que não tenha repetido o sucesso alcançado por outros clubes brasileiros.

- Não foi aquilo que todo mundo esperava do Santos, do Cruzeiro, do Corinthians. Tive altos e baixos, mas mesmo assim fui o terceiro artilheiro do Brasileiro do ano passado ao lado do Ronaldo e do Thiago Neves (todos com 21 gols). Às vezes você fica marcado pelos gols que você perde, mas não pelos 300 que fez. O gol que perdi contra o Vasco, que é um campeoato à parte, marcou (na derrota por 2 a 1 na semifinal da Taça Guanabara). Sempre procurei assumir a responsabilidade. Ter levantado todos os dias cedo, tentar fazer o meu melhor, ajudar a equipe, sempre olhando de frente para os outros. Isso eu levo de lição para a minha vida.
Abaixo, mais alguns trechos da entrevista de Deivid.
Razões para a passagem apagada

"O futebol está muito competitivo, quase todos os times jogam com dois pontas abertos e um jogador de área. Pelo fato de ter chegado aqui e o clube estar precisando de uma reabilitação por tudo que passou no segundo semestre de 2010, o caso Bruno, saiu o Adriano, saiu o Love, cheguei sete quilos acima do peso, fiquei sem jogar um tempo na Turquia. Não é desculpa, mas atrapalhou um pouquinho. Em 2011 e 2012 tive mais tempo para me recuperar, o Vanderlei (Luxemburgo) dava confiança para reencontrar meu futebol, mas não conseguia desenvolver. Acho que pelo fato de a velocidade não ser a mesma, perdi espaço, tentei recuperar. Perdemos o Brasileiro por detalhes, tivemos chances na Libertadores desse ano e deixamos escapar (eliminação na primeira fase). Aprendi bastante. Coisas positivas e negativas".

Chegadas de Liedson e Adriano

"Acho que a dívida pesou bastante, estava incomodando. Sempre gostei de cobrança, de jogar no limite. Via que as pessas às vezes não me cobravam por conta da dívida. As chegadas de Adriano e Liedson não foram o pivô da minha saída. Eu quis fazer a rescisão faltando três meses para acabar o ano, queria entrar de férias com algo definido. Foi por isso que decidi rescindir. O Zinho me ajudou bastante nessa rescisão, como não tinha diálogo com o Michel Levy (vice de finanças). O Zinho entrou no meio, acabamos nos acertando e estou saindo daqui bem".
Vitórias mais marcantes
"O jogo mais marcante foi aquele contra o Cruzeiro, no Engenhão (vitória por 5 a 1, em 6 de novembro de 2011). Nosso time sofreu um gol, o jogador do Cruzeiro perdeu um pênalti, conseguimos a virada e fiz dois gols. O jogo contra o Santos (vitória por 5 a 4, em 27 de julho), na Vila Belmiro, também foi muito marcante".

Relação com a torcida
"A ação que eu tinha contra o Flamengo não tinha nada a ver com a torcida. Era algo meu com o clube, uma insatisfação minha. Todo trabalhador quer receber. Eu soube separar. Em alguns momentos fui vaiado, com razão, não jogava bem. Quando fiz os gols fui aplaudido. A torcida vai ao estádio cobrar, quer ver a vitória do seu time. Saio sem mágoa, sem rancor da torcida. Sempre foi um sonho profissional vestir a camisa do Flamengo, isso aconteceu, sou um cara privilegiado, tenho só que agradecer ao que o futebol me deu, por tudo que acontece na minha vida. Saio de cabeça erguida por ter feito o meu melhor, mas triste por não ter conquistado um título de expressão. Vou estar em outra equipe, vou jogar bem e tentar vencer lá".

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