Adriano tem faro para gol, mulheres e polêmicas. No lado esquerdo do peito, o lugar está reservado para a família, mas amor só se for de mãe ou do Flamengo, time de coração. O atacante saiu do clube em 2001 sem grandes amores da torcida, mas voltou aclamado em 2009, num dos momentos mais conturbados da sua vida. Foi artilheiro do Brasileirão com 19 gols e peça fundamental na conquista do título nacional. No retorno ao clube da Gávea, torcedores que vaiavam o jogador em outras épocas passaram a reverenciá-lo. Foi o último brilho antes de mergulhar em dois anos de decadência no Roma e no Corinthians, entre 2010 e 2012.
Em abril de 2009, depois de defender a seleção brasileira nas Eliminatórias da Copa do Mundo, Adriano não se reapresentou ao Internazionale de Milão. Viajou ao Rio e ficou três dias internado na Vila Cruzeiro, sem dar notícias. Ele só queria ser feliz, andar tranquilamente na favela onde nasceu. Mas não havia nada tranquilo em sua vida. Como em outras ocasiões, o Imperador estava com seu reino em ruínas, abusando do álcool.
Rosilda ficou desesperada quando o filho decidiu não voltar para a Itália. Adriano justificou dizendo que precisava retornar à sua realidade. Mais do que a realidade, ele buscou suas raízes. Bebeu em demasia, soltou pipa, andou descalço, patrocinou churrascos na Vila Cruzeiro e tirou suas próprias conclusões, sem recorrer à ajuda de um psicólogo.
- Quero é ser feliz, dinheiro não me importa. Felicidade não se compra nunca. Vou fazer e acabou – dizia Adriano.
Mas, nos momentos de lucidez, ele confessava:
- Bebida é uma fuga. Quando está triste, bebe, esquece, no outro dia é a mesma coisa. Quando vê, já está dentro e não consegue mais sair. Quando estava no limite, vi que tinha que voltar.
Na mesma época, o então empresário do jogador, Gilmar Rinaldi, confirmou que seu cliente enfrentava graves problemas particulares. Ainda em abril de 2009, o atacante anunciou que pararia de jogar futebol por tempo indeterminado. No mês seguinte, porém, acertou o seu retorno ao Flamengo. Começava uma nova fase de gols. E de problemas.
No Rio, ele voltava aos braços da família, perto dos amigos, com quem dividia farras, churrascos e noitadas.
- Adriano tem um coração enorme. Não sabe dizer não, e muitas vezes não tem limite: quando acha que está bem, bebe muito para comemorar; quando está mal, bebe para esquecer. Pelo porte físico, tem extrema resistência ao álcool – disse um dos amigos que por muitas vezes tiveram a missão de tentar acordar o jogador para que ele fosse treinar no Flamengo, em 2009.
Adriano foi artilheiro do Brasileirão, com 19 gols, e ajudou na conquista do título nacional. Porém, a temporada foi repleta de faltas a treinos. Em atividades pela manhã, muitas vezes o atacante se apresentava sem condições de ir a campo. Em uma delas, chegou completamente apagado, foi retirado do carro com dificuldades e colocado numa maca. Um funcionário do clube precisou recorrer a um pano banhado em amônia para reanimar o jogador.
Assessor de imprensa de Adriano de 2009 a 2010, quando os problemas se acumulavam, Thássilo Soares dá uma dimensão de tudo que envolve o jogador. E confirma que incursões noturnas do Imperador acendiam o sinal de alerta.
- Adriano tem um nome muito forte. Eu recebia ligações de jornalistas de Grécia, Itália, Holanda... muitos países. Muito do que se falava do Adriano era verdade, mas gente que não tinha acesso a ele chutava. Quando eu sabia que Adriano sairia à noite, eu não dormia, ficava preocupado, pois tudo tinha uma repercussão absurda. Muitas vezes acordava às 7h com Isaías Tinoco (então gerente de futebol do Flamengo) ligando para saber onde ele estava.
Pelo Flamengo em 2009, o resultado de uma das farras de Adriano teve sérias consequências. Às vésperas da importante partida contra o Corinthians, pela penúltima rodada do Brasileirão, o jogador resolveu dar um passeio de moto e queimou o tornozelo esquerdo. Alegou que o acidente acontecera ao pisar numa lâmpada do jardim de sua casa. E desfalcou o time num momento importante.
Salários atrasados no ano do hexa
Na caminhada para o título brasileiro, mais uma prova da pouca importância ao dinheiro e a confiança de Adriano no Flamengo.
- Até o fim do Brasileiro de 2009, ele foi o único jogador que ficou com o salário atrasado, e isso nunca vazou para imprensa. Pela relação de confiança, Adriano nunca questionou isso, pois ele sabia que o compromisso seria cumprido. Ele rasgou um contrato de 7 milhões de euros (com o Inter de Milão) e acertou com o Flamengo. Ele foi muito correto – afirmou Marcos Braz, vice-presidente de futebol do Rubro-Negro na ocasião.
Foi o dirigente que impediu que Adriano viajasse com o Flamengo para o jogo contra o Corinthians, em Campinas. Mesmo com a queimadura, o atacante queria estar com o grupo para, talvez, amenizar a pressão por sua indisciplina.
- Ele ficou de cara amarrada por uns dias, mas depois nos abraçamos – recordou Braz.
Adriano ficou fora da Copa de 2010 por causa das indisciplinas.
- Eu meio que esperava, dei umas vaciladas – admitiu.
Na mesma época, Adriano vivia uma relação conturbada com Joana Machado, apontada como grande amor e a mulher capaz de tirar o jogador do sério. O casal chegou a ficar noivo em 2010.
Entre tórrida paixão, houve muitas brigas. Quando Adriano se internava na Vila Cruzeiro, Joana não se furtava de ir até a favela e passar por traficantes para enquadrar o jogador. Em uma das vezes, em março de 2010, aconteceu o episódio conhecido como “Barraco da Chatuba”, quando a namorada ofendeu companheiros de time que acompanhavam o atacante e atirou pedras nos carros.
- Adriano é uma pessoa incrível, sempre foi muito fiel. O único problema é que a gente tinha um gênio muito forte, brigávamos muito. Não dava mais para continuar. Eu quis terminar – afirmou Joana, no ano passado.
Depois do episódio, Adriano não viajou com a delegação para a Venezuela, onde o Rubro-Negro enfrentou o Caracas, pela fase de grupos da Libertadores de 2010. Dias depois, Adriano apareceu na Gávea de mãos dadas com Joana.
- Adriano vai arrumar uma esposa bacana, que o ajude. A mãe não pode dormir ao lado – brincou Rosilda.
Longa lista de mulheres
Mas o desejo de Rosilda ainda não se concretizou. Volta e meia, os sites de celebridades estampam Adriano em companhia de morenas, louras, mulatas. Na lista do Imperador, figuram Dani Bolina, Dani Sperle, Luana Kisner, Cassia Menega, Mulher Moranguinho e outras frutas mais.
Adriano tem dois filhos com Danielle Carvalho, que é evangélica, discreta e caseira, e mora no mesmo condomínio da ex-sogra, Rosilda.
Em 2010, Adriano enfrentou ainda questionamentos sobre ligações com traficantes da Vila Cruzeiro. No Natal de 2011, uma mulher foi baleada dentro do carro onde estava o atacante.
Novamente, Adriano está perto da família, de novo no Flamengo; como em outras vezes, prometeu se controlar, mas escorregou e faltou a dois treinos. Abusou da bebida, trocou o Ninho do Urubu pela Vila Cruzeiro. Aos 30 anos, ele admite:
- É minha última chance, se errar, vou falar com a minha família e amigos: “Gente, parei, acabou”.
*Nesta matéria, há trechos de entrevistas inéditas de Adriano, de sua mãe, Rosilda, e de sua avó, Wanda, concedidas ao repórter Tino Marcos, da TV Globo, antes da Copa do Mundo de 2010
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