8 de mar. de 2014

Na Ucrânia, Danilo se assusta com crise: 'Vi caminhões de guerra'

O lateral Danilo trocou o Internacional pelo futebol ucraniano há quatro anos, viveu bons momentos, mas agora passa por uma aflição diária por causa da crise política no país. Escuta constantemente o pedido de familiares e da esposa para voltar ao Brasil, mas ele ainda acredita que tudo pode ser resolvido e terminar os dois anos e meio de contrato que restam com o Dínamo de Kiev. Já presenciou manifestantes pararem o ônibus do seu time com pedaços de pau e barras de ferro, viu caminhões 'tipo de guerra' e companheiros de clube irem às ruas protestarem junto com a população, até começarem as mortes.
O choque de realidade começou logo no primeiro jogo após a pré-temporada. Depois de um período de treinos na Espanha, a equipe voltou a Kiev para enfrentar o Valencia, no dia 20 de fevereiro, na partida de ida da segunda fase da Liga Europa. Mas os fortes protestos fizeram o duelo ser transferido na véspera, para outro país. Na volta, após a eliminação na competição, mais drama sofrido pelo brasileiro, que presenciou cenas assustadoras.
- O clima estava bem tenso há 15 dias. A Fifa e a Uefa transferiram o jogo para o Chipre. Viajamos tarde da noite, chegamos três da manhã e jogamos no mesmo dia (derrota por 2 a 0). Depois do jogo de volta (empate por 0 a 0 na Espanha), retornamos. Na entrada da cidade, tinham vários manifestantes com pedaços de pau, fogo e barras de ferro, olhando para todo mundo. Ameaçaram entrar no nosso ônibus para saber se era mesmo do nosso time. Vi caminhões tipo de guerra, não sei de onde tiraram aquilo - lembra Danilo.
Danilo Silva Dinamo de Kiev (Foto: Reprodução / Site Oficial Dinamo de Kiev)Danilo quer cumprir contrato, mas tem plano de fuga em caso de conflitos (Foto: Reprodução / Site Oficial Dinamo de Kiev)

Os companheiros de clube também foram às ruas quando começaram os conflitos, em novembro. Mas assim que o clima esquentou e as mortes começaram a acontecer, tiveram que tirar o time de campo.
- No começo, eu via até mesmo os jogadores do próprio Dínamo protestando. Depois, eles não foram mais por motivo de segurança - conta.
Um fato que chamou a atenção de Danilo aconteceu nesta semana. Um jogo pela paz realizado entre torcedores do seu clube e do Shakhtar Donetsk, no estádio do Dínamo, em Kiev, deixou o lateral esperançoso. A partida serviu para manifestar a insatisfação com a violência que hoje está tomando conta dos movimentos.
Dínamo de Kiev - jogo visto pela TV (Foto: Reprodução)Torcedores do Dínamo e do Shakhtar fizeram um jogo da paz (Foto: Reprodução)
- Aqui na Ucrânia, são dois lados. O oriental tem Donetsk, Dnipro, Crimeia, e é o lado mais próximo da Rússia. A maioria desse pessoal é russo ou descendente. Em Kiev, todo mundo é mais de cultura ucraniana, prefere falar o idioma ucraniano. Até aconteceu um fato interessante. Quando começaram as mortes, conflitos, o governo começou a matar os manifestantes, boa parte do lado oriental se uniu ao ocidental. Aconteceu há poucos dias uma partida entre torcedores do Dínamo e Shakhtar, pedindo paz, mesmo sendo de lados completamente diferentes - disse o lateral, elogiando a atitude.
Agora, Kiev já não é o foco dos protestos. As batalhas se concentram na Crimeia, e a capital ficou mais tranquila, mas sempre em estado de alerta. Danilo tem mais dois anos e meio de contrato com o Dínamo, está adaptado ao país, mas sabe que, se a situação piorar, vai precisar ouvir os pedidos da esposa Bruna e dos amigos no Brasil para deixar o país. Ele já conversou com o consulado brasileiro e sabe do plano de fuga em caso de reviravolta.
- Moro próximo de onde estavam tendo os conflitos e a base do CT fica a dez quilômetros, mas a saída não passa pela praça. É afastado. Então, não vou para o centro. Ultimamente tem sido treino e casa. Isso não afetou nos treinos. A Bruna chegou há pouco tempo, antes de as coisas ficarem feias na Crimeia. A vida dela está um pouco afetada. Minha mulher fala para voltarmos para o Brasil. Vamos ficando e, é claro, se acontecer qualquer começo de uma situação mais crítica, vamos embora. Pretendo cumprir meu contrato. Meus familiares e amigos pedem para irmos embora. Por enquanto está tranquilo, apesar de tudo. Estamos com o sinal amarelo, atento. Conversei com o pessoal do consulado, disseram que assim que tiver algum problema maior, vão dar aviso para determinar o plano de fuga - explicou.
Danilo do Dínamo de Kiev (Foto: Arquivo Pessoal)Danilo com a esposa Bruna, em Kiev (Foto: Arquivo Pessoal)


A crise também paralisou o Campeonato Ucraniano. Mas em uma reunião nesta quinta-feira entre os clubes e a federação ficou acordado que a competição será retomada na próxima semana. Apesar de o futebol ter dado um passo para voltar às atividades, Danilo acredita que o país viverá um clima de preocupação até as eleições, no dia 25 de maio.
- Essa parte da Crimeia, não tenho como saber, porque está bem intensa a situação. É uma questão de briga pelo território. Pode ser que aconteça uma coisa amanhã, ou pode ser que aconteça nada. Eu acredito que pelo menos em Kiev só vai acabar tudo depois das eleições. Por enquanto, vamos levando. Espero que dê tudo certo.
* Raphael Bózeo, estagiário, sob a supervisão de Felipe Barbalho

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