Lionel Messi pode ser a grande estrela da seleção argentina na Copa América. Mas Carlitos Tevez é, de longe, o mais amado pelos hermanos. Convocado por Sergio Batista depois de forte apelo da mídia e dos torcedores, o ex-corintiano é chamado de “jogador do povo”. E um dos motivos para essa paixão é o fato dele ser de origem humilde, criado em um dos bairros mais pobres e violentos do país: o Forte Apache, na periferia de Buenos Aires.
Fundado em março de 1978 para abrigar moradores desalojados de regiões onde foram erguidos estádios para Copa do Mundo da Argentina, o local, cujo nome oficial é “Complexo Habitacional Exército de Los Andes”, ocupa uma área de cerca de nove mil metros quadrados na região de Ciudadela e conta com uma população de aproximadamente 35 mil pessoas. Com o passar dos anos, o bairro ganhou o apelido de Forte Apache, devido aos vários prédios que circundam o lugar. Mas também se tornou bastante perigoso e temido, com alta taxa de criminalidade.
GALERIA DE FOTOS: veja as imagens do bairro onde Carlitos Tevez nasceu
Por conta disso, visitar o lugar onde Tevez nasceu e morou até os 18 anos não é uma das tarefas mais fáceis. São raros os taxistas que se dispõem a ir. Guia turístico como acontece em algumas favelas do Rio de Janeiro? Nem pensar. As duas opções são: ser amigo de algum morador ou conseguir a escolta da Gendarmeria Nacional, uma espécie de força de segurança nacional. A reportagem do GLOBOESPORTE.COM optou pela segunda.
Ao todo, nove guardas, armados com armas de grosso calibre e com coletes à prova de bala, acompanham toda a movimentação. Em um primeiro momento, parecia até uma cobertura de guerra.
- Na verdade, 90% das pessoas que vivem aqui são boa gente. O problema são os outros 10%... – disse um oficial, sempre atento aos pontos mais altos dos prédios em ruínas que norteiam o Forte Apache.
Tio sobre Tevez: ‘Garoto humilde’
Aos poucos, o clima de tensão era deixado de lado. Em um dos quarteirões, cercado de muita sujeira, um prédio especial chamava a atenção com uma enorme pintura de Carlitos Tevez em uma das fachadas.
- Ele morava ali – apontou Vítor Romano, de 61 anos e morador do local desde sua construção, chamando um tio de Carlitos, que estava em uma obra próxima.
Aos 49 anos, Daniel Tevez vive e trabalha como pedreiro no bairro.
- Ele (Tevez) não mudou nada depois que ficou famoso. É claro que não consegue vir sempre aqui por causa do trabalho, dos compromissos. Mas sempre que dá, aparece. E nos ajuda também na medida do possível. É um garoto muito humilde e de ótimo coração. Não é a toa que todos argentinos gostam dele – salientou Daniel, torcedor do Boca, time de coração de Carlitos.
- Mas mesmo quem é River gosta dele – observou Daniel, apontando para Patrício, de 12 anos, “hincha” dos Milionários, que concordou.
- Tevez é o melhor. Maior que Messi. Quero ser como ele – afirmou, empolgado.
Orgulho do El Apache
E a pouco menos de duas quadras da “casa de Tevez”, Patrício tentar seguir o caminho do ídolo no campo do Clube Atlético El Apache, time amador local onde o número 32 do Manchester City deu seus primeiros passos no futebol.
Presidido pelo simpático sessentão Roger Ruiz, ou melhor, “Didi”, como é conhecido por todos no bairro e cujo apelido foi inspirado no ex-jogador brasileiro campeão do mundo em 58 e 62, o modesto clube conta com cerca de 200 crianças em diversas categorias de base.
- Lutamos para tirar os pequenos das ruas. É um trabalho social acima de tudo. E contamos com a ajuda de Tevez. Ele que nos deu dinheiro para fazer esse campo, que antes era de terra batida e, e construir nossa sede – contou Didi, mostrando, orgulhoso, a “cancha” e a pequena casa ao lado.
Nela, alguns troféus e várias fotos de quando Tevez ainda não era famoso.
- Ele merece tudo o que conquistou. E merece muito mais. É um exemplo para o povo – sentenciou Didi.
- O fenômeno que gera Carlos deveria ser estudado por sociólogos. É incrível o sentimento que tem a torcida com ele. Não há dúvidas de que eles se veem representados nele, em sua origem humilde, na sua maneira de falar e no seu modo de ser – afirmou Gabriel Miadosqui, jornalista do diário portenho “Clarín”.
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