16 de jun. de 2011

Juan de olho no futuro sem esquecer o passado: Roma, Fla e Copa 2014

Uma tarde de boas lembranças. Quando viu os dois times de botão na mesa, Juan deu o eterno sorriso de menino e se lembrou dos saborosos duelos com o pai, Roberto, na boa infância vivida no Humaitá, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro. E não teve dúvidas: escolheu o do Flamengo, apesar de o outro ter as cores do Brasil. Sem pegar em uma palheta há quase 20 anos, o zagueiro aceitou o desafio do GLOBOESPORTE.COM no futebol de mesa e viajou nas lembranças e no tempo para falar sobre passado, presente e futuro. Uma história que se confunde com o clube da Gávea, o Roma e a Seleção.
- Se eu pudesse escrever o meu futuro, eu colocaria: ganhar um título italiano com o Roma e em dois anos voltar ao Flamengo. Se jogar bem, conseguir ganhar um título com o Roma e também voltar ao Flamengo, acho que fica mais perto voltar para a Seleção – disse

Juan esteve perto de retornar ao time do coração recentemente, mas decidiu cumprir o contrato com os italianos até 2013. Um sonho adiado, mas que pretende realizar em breve. De preferência após conquistar o Scudetto com o Roma depois de bater na trave em 2007/2008 e 2009/2010 com o vice-campeonato. Para Juan, cumprir essa “missão” o deixaria próximo da Seleção e de mais uma Copa do Mundo, agora em casa.
A paixão pelos botões nasceu praticamente junto com a mania pelo Flamengo. Acordado pelo pai de madrugada para ver a final do Mundial Interclubes contra o Liverpool em 1981, quando tinha apenas dois anos, Juan cresceu dividido entre as peladas na rua e na mesa. Na adolescência, o futebol de verdade ganhou a preferência, e o zagueiro “pendurou a palheta” com 12 anos.
No reencontro com a antiga brincadeira, empatou por 1 a 1 com a reportagem do GLOBOESPORTE.COM. Mostrou que ainda leva jeito, mas usou de artimanhas que nem sempre são bem-vindas no botão. Quando tentou usar o “dedinho” (colocar o dedo ao lado da bola) para dar um chute, ouviu reclamação do adversário.
- Meu pai também reclamava disso - lembrou o zagueiro, aos risos.
Nas outras lembranças do passado surgem Gamarra e Lúcio, os melhores companheiros; Aldair, o ídolo; e Adriano, o amigo que não deu certo no Roma. Para falar de presente Juan comenta a nova fase do Roma; a evolução dos zagueiros brasileiros; e o carinho dos rubro-negros. Sobre o futuro, os temas preferidos são Luis Enrique, novo técnico do time italiano; oportunidade com Mano Menezes na Seleção Brasileira; a volta ao Flamengo; e a missão de ensinar o filho João Lucas a jogar botão.
- Lá na Itália não tem isso. Na casa da minha mãe tem uma mesa, ele viu e gostou. Mas hoje é difícil, com esse monte de videogame...
Confira abaixo a entrevista completa de Juan:
GLOBOESPORTE.COM: Afinal, houve proposta do Flamengo para você voltar?
JUAN: Não, em nenhum momento falamos de proposta. Nem Flamengo com Roma, nem eu com contrato. Nada. Foi só especulação. Nem especulação. Foi algo que poderia ter acontecido, mas com a decisão do Roma não aconteceu. Quando eu estava na Itália, um diretor antigo do Roma disse que queriam marcar uma reunião com ele, mas que não poderia resolver nada, pois estava saindo. Com a nova diretoria, não teve nada.


Quando surgiu essa hipótese de jogar no Flamengo, você chegou a se imaginar com a camisa rubro-negra de novo?
Isso aí eu sempre imagino. Foi o único clube em que eu joguei no Brasil, tenho uma ligação muito forte desde criança. Inconscientemente, de vez em quando me pego imaginando jogando no Flamengo. Ficou um pouco mais forte por causa dessa possibilidade, pelo fato de o Ronaldinho ter voltado. É um amigo que eu tenho, um jogador em situação parecida com a minha, que estava na Europa e optou jogar no Flamengo.
A volta do Ronaldinho repercutiu muito na Itália e fez você pensar seriamente em voltar?
Quando um jogador do nível dele toma uma decisão de voltar ao Brasil e escolhe o Flamengo... Isso fez o nome do Flamengo ficar muito forte lá, até meus companheiros de time que sabem que eu joguei no Flamengo brincavam com essa possibilidade. Deu um sinal forte na Europa do mercado brasileiro, foi muito bom. Viram o contrato que o Ronaldo fez, que o mercado brasileiro é forte.
O Ronaldinho mudou a imagem do Flamengo lá fora?
O Flamengo sempre foi um time respeitado. Se você falar que jogou no Flamengo, vão te falar o nome de muitos jogadores que jogaram no Flamengo. No Roma teve Andrade, Aldair, Renato Gaúcho. Talvez eles não soubessem que em nível econômico se paga bem no Brasil. Alguns ficaram surpresos com as cifras que foram divulgadas. O Flamengo é um nome forte em qualquer lugar.
Você só admitiria voltar para o Flamengo?
Eu só gostaria de jogar no Flamengo. Respeito todos os clubes. Mas se for decisão minha, eu gostaria de jogar no Flamengo. Por isso quero cumprir o contrato, estar bem, e quando tiver essa possibilidade de voltar dar um retorno técnico ao Flamengo. Não só ficar ali antes de encerrar a carreira, pra mim isso não significa nada. Significa voltar e jogar num nível alto. Claro, um jogador diferente daquele que saiu pelos anos que passaram, com alguma coisa para dar ao clube ainda
Seu contrato no Roma é até 2013. Renovaria?
Eu vejo muito o que tenho de concreto. Hoje, tenho dois anos de contrato. Até agora não me procuraram para renovar ou rescindir. Com a mudança de diretoria poderia acontecer algo, mas o pensamento deles é o mesmo comigo. Se amanhã ou depois eu conversar com o Roma sobre renovação, vamos ver o que é melhor pra mim.
O que você espera do Luis Enrique, novo treinador? Ele disse que espera montar um Roma no estilo do Barcelona. Mais chances de título?
Foi um grande jogador. Lembro dele jogando. Pelo que fiquei sabendo, fez um grande trabalho no Barcelona B. Uma pessoa que tem a mentalidade vencedora. Vai ser importante para o Roma e para o futebol italiano, pois vai dar uma mentalidade nova naquilo que estava caindo na rotina na Itália. Ele vai tentar implantar uma nova filosofia. Espero que tenha pelo menos 50% do sucesso que teve o Barcelona.
Por que o Adriano não teve sucesso no Roma?
Primeiro de tudo, ele teve muito azar. Nem ele sabe dizer um ano que ele tenha se machucado tanto, com contusões tão longas para recuperação. Quando voltei da Copa, ele já estava treinando, com disposição, sendo elogiado. Na semana do primeiro jogo do Italiano, se machucou, ficou um mês e meio fora. O clube também, no meu modo de ver, foi infeliz... Trouxe ele do Flamengo, quando estava bem, fizeram algumas promessas e na última semana de mercado compraram o Borriello. Outro grande jogador, mas com características semelhantes às do Adriano, canhoto, de força. Foi um pouco de falta de oportunidades. Virou segunda opção. Quando voltou, teve período de adaptação, o Adriano é um cara pesado, grande, que parado ganha peso. No momento que estava voltando, bem, pronto para disputar a posição, tomou uma pancada no tornozelo no treino... Depois, mesma coisa, teve o ombro.
Como ficou a imagem dele na Itália?
A imprensa é um pouco sensacionalista. Tinha a imagem dele no Inter, coisas extracampo aqui do Brasil. Mas no clube ninguém tem nada a falar dele, uma pessoa sensacional, todo mundo viu o empenho dele. Teve muito azar, três contusões sérias em um ano. Depois, como já tinha feito no Inter, foi mais uma vez muito honesto e sincero em relação ao sentimento dele para o clube, não se sentia bem mesmo estando ali ganhando um bom salário. Para algumas pessoas pode passar como coisa de maluco, mas foi sincero, não estava se sentindo bem como queria estar. E optou por rescindir o contrato.
O Roma bateu na trave nos últimos anos no Italiano. Agora, mudaram os donos do clube. O que você espera da nova diretoria? Mais investimentos, por exemplo?
Achamos que haverá mais investimentos, vão comprar novos jogadores. Em quatro anos que estou lá, fomos vice duas vezes, ganhamos uma Copa da Itália e uma Supercopa. Os dois anos foram iguais: no último jogo, a gente vencendo o jogo e o Inter ficando com o título. Falta um pouco de sorte.


Você se encaixa nessa nova era da Seleção com o Mano?
Eu me vejo sempre na Seleção. Enquanto jogar futebol vou pensar em Seleção. Sempre respeitando a opinião do treinador. O que posso fazer é tentar estar bem no meu clube. O ano depois da Copa é sempre complicado para quem foi, sem férias, mas joguei quase todos os jogos. Só fiquei fora de seis. Estou aberto. Entendo que por todos esses anos de Seleção eu não seja um jogador que precise ser testado. Se ele precisar de mim, estarei à disposição.
O que mudou no seu futebol nesses anos todos na Europa?
Em relação ao que eu jogava no Flamengo, hoje sou muito mais defensor do que era. Sou menos atacante do que era. Se eu ficasse duas partidas sem chutar no gol, ficava maluco. E me cobravam isso também. Era o diferencial do meu futebol ir pra frente. Hoje, depois de muito tempo na Europa, faço isso, mas muito poucas vezes. Em compensação, tenho mais prazer em defender, em não deixar chutar no gol.
Como você vê a evolução do Thiago Silva?
É uma evolução natural. Ele já estava muito bem no Fluminense. A qualidade não se discute. Foi para um grande time, que sempre teve boa harmonia com brasileiros. Ele evoluiu o que se esperava dele. Pelo campeonato que fez.
O que você ainda quer na carreira?
Sonho, de pensar todo dia, não tenho mais. Quero conseguir coisas naturalmente pelo trabalho. Vencer um título italiano pelo Roma. Por tudo que vivemos, os dois vices, por bater na trave, por ser uma cidade boa de viver, e o clube ter uma torcida fanática. Quero jogar bem. Se eu pudesse escrever o meu futuro, eu colocaria: ganhar um título italiano com o Roma e em dois anos voltar ao Flamengo.
Ser campeão, voltar ao Flamengo... Não tem um terceiro capítulo na Seleção? Estar em 2014 é muito difícil?
Não acho muito difícil. Já fico feliz de ver que outros companheiros de 2010 estão voltando para a Seleção. É sinal que tem espaço. Se eu jogar bem, conseguir ganhar um título com o Roma e também voltar ao Flamengo, acho que fica mais perto voltar para a Seleção (risos). Essas duas coisas dependem mais de mim, Seleção depende também do treinador.
O Aldair abriu o caminho para os zagueiros na Europa?
Em Roma, para mim foi. O nome que ele tem em Roma... No Brasil pensam muito em Falcão, mas em Roma é ele. Há pouco tempo fizeram uma pesquisa com a torcida sobre os jogadores mais queridos e ele só ficou atrás do Totti e do De Rossi, dois romanos. A camisa dele está aposentada. Todo mundo que jogou com ele diz que era impressionante. Por coincidência, eu sempre falei dele. Ele jogava no Flamengo, tinha mais ou menos o estilo parecido com o meu. Sempre gostei dele. E acabei indo para o Roma.
Dos jogadores que fizeram dupla com você, quais você citaria?
Tive sorte de sempre ter tido grandes jogadores ao lado. O momento que eu cresci mais foi o que eu joguei com o Gamarra no Flamengo, jogamos um ano e meio mais ou menos. Depois dele o Lúcio. Atuamos dois anos no Bayer Leverkusen e duas Copas juntos.
Os torcedores do Flamengo falam com você nas ruas como se você ainda fosse do Flamengo, não é? Consegue explicar isso?
Acho que porque mesmo jogando fora eu fora eu sempre tive o nome muito ligado ao Flamengo. Sempre que estou na Seleção falo de Flamengo, me perguntam de Flamengo. Por tudo que vivi lá dentro, cheguei lá ainda moleque. Voltando, queria voltar num nível alto, não para decepcionar ou ser um peso para o clube.

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