Entre uma latinha e outra no Carnaval, parei para dar uma lida no Blog do Mansur, que citava algo alarmante: dados levantados pelo pesquisador Maurício Murad indicam que o número de mortes relacionadas ao futebol subiram 233% desde 2009, sendo que só em 2013 foram 30 homicídios, o que garantiu ao Brasil o recorde mundial de assassinatos de torcedores.
Vejam só que curiosidade…foi justamente em 2009 que a cerveja foi banida de vez dos estádios brasileiros!
O prefeito carioca, então recém eleito, adotou logo como uma de suas primeiras medidas a Lei Seca não apenas no Maracanã, mas também nos arredores dos estádios. Dizia nosso simpático alcaide que a medida por certo diminuiria a desordem e os conflitos constantes naquela região.
Como todos estão vendo, a medida do Sr. Prefeito e de seus congêneres Brasil afora deu muito errada: a cerveja proibida não teve qualquer efeito no ambiente violento dos estádios.
Eu não vou ser ousado a ponto de dizer que a proibição teve o efeito contrário – a escalada da violência – mas no fundo não há como descartar por inteiro essa hipótese.
Tudo o que você faz para interferir na rotina do cidadão comum acaba gerando uma espécie de seleção natural: a diversidade do público dos estádios é afetada, porque gente que tinha o estádio como um passatempo onde se podia tomar sua cervejinha em paz prefere ficar no bar ou em casa, deixando as arquibancadas para um tipo de espectador muito específico, mais fanático, mais destemido.
Uma das grandes covardias dessa estúpida proibição tem a ver com os estádios do interior. Imaginem um joguinho despretensioso entre o Bagé e São Gabriel, clássico do extremo sul do país. No domingo de sol a gauchada se mandava cedo para o estádio da Pedra Moura e se fartava na “copa” do clube, fazendo a alegria dos sofridos cofres jalde-negros, que arrecadavam mais no bar do que na bilheteria. O resultado contava menos que a confraternização da comunidade, afinal essas potências disputam a Terceirona do campeonato gaúcho. Tudo isso acabou, infelizmente. Agora, quando tem jogo, o negócio é chegar faltando dois minutos.
No Maracanã e em outros grandes estádios, vale dizer, o comportamento do torcedor é bem parecido: fica todo mundo se aglomerando a quarteirões de distância, fazendo a alegria dos donos dos bares fora da zona proibida e em cima da hora partem correndo para entrar, tumultuando as catracas.
O tapa na cara definitivo de nós, apreciadores pacíficos da santa loura, vai ser dado daqui a poucos meses: na Copa do Mundo, a cerveja estará 100% liberada. Ou seja, o sujeito que vai assistir um jogo de seleção é presumivelmente menos suscetível a se tornar um troglodita do que quem vai a um jogo do Flamengo. Depois que a Copa passar, o estádio voltará a ser reduto dos hooligans, mas purificado pelo cerco ao álcool.
Como está mais do que provado de que os verdadeiros apreciadores de cerveja não deixaram de beber em dias de jogos – apenas o fazem mais distantes dos estádios – vamos aproveitar os ventos da FIFA e adotar, quando menos, uma medida paliativa: fica autorizada a venda de cerveja dentro dos estádios, até 15 minutos antes da partida e logo após o seu término.
Assim quem quiser beber no tradicional “esquenta” poderá fazê-lo dentro do estádio, diminuindo o tumulto nas catracas nos minutos que antecedem o começo do jogo e estimulando alguns a permanecerem mais algum tempo lá dentro, desafogando um pouco o trânsito e os transportes públicos.
No mínimo, a gente deixa de ser hipócrita, o que já é um grande avanço. E ainda ajuda um bocadinho as finanças do Mengão, que tem participação na receita dos bares do Maracanã.
E quanto aos hooligans, os assassinatos, a violência latente, a solução está bem ao nosso alcance: punição severa e banimento. Mas isso parece difícil, mais ainda quando ninguém sequer se constrange de subir em um carro alegórico das escolas de samba deles…então, se preferirem, podemos continuar assim mesmo, a gente proíbe a cerveja fingindo que estamos combatendo a violência, eles seguem sambando fingindo que são cidadãos de bem e vamos juntos quebrar mais recordes de mortes de torcedores.
Como se diz por aí, parabéns aos envolvidos.
Walter Monteiro
Mengão Sempre
Rubro-negro bem vestido, me ajuda a acabar com os perebas no time do Flamengo. Entra logo nosócio torcedor.
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