12 de jan. de 2014

Dinheiro na Mão é Vendaval.

Brocador pode estar indo embora. Não, espera, me deixa reformular: Brocador deve estar indo embora. A oferta do Al Jazira de 6 milhões de Euros, quase 20 milhões de reais, é pornográfica. Para os mais conservadores e financeiramente pudicos é uma proposta irrecusável, posto que dinheiro não admite desaforos. Se pra mim, que não tenho nada a ver com o inquérito, a simples menção de tal dinheirama excita instantaneamente é fácil prever o estado priápico dos envolvidos diretamente na transação.
De um lado da mesa de negociação está o Al Jazira, presidido pelo Emir Hamdam Al Nahyan, que também controla o Manchester City na Premier League inglesa, um oásis de afluência e liquidez diante dos desérticos orçamentos do clubes brasileiros. Estão também os stakeholders da Hernane Brocador Inc., zelando pelos interesses do próprio Hernane e dos seus empresários, agentes, parentes e aderentes. Do outro lado da mesa está o Flamengo e seu já tradicional déficit operacional que há décadas colore de vermelho vivo nossos livros-caixa.
Ora, é só dar um confere nos saldos em conta das partes para se ter a certeza absoluta de que não existe a menor possibilidade dessa operação de compra e venda não chegar a um bom termo. Salvo uma improvável e temerária recusa de Hernane em se transferir para os Emirados Árabes o Flamengo simplesmente não tem bala para impedir que o negócio se concretize. Sem esquecer que os 3 milhões de euros aos quais o Flamengo tem direito no rolo seriam um reforço de caixa mais do que providencial em um ano em que não há a menor previsão de desaperto no cinto. Muito pelo contrário.
Agora, veja o lado do Hernane. Por mais que ame o Mengão e se sinta em casa na Gávea e no Maracanã, ele não pode simplesmente virar a cara para a oferta que pode significar a sua independência financeira. Só ele é que sabe como era duro o osso que roeu até conseguir ser o artilheiro do Brasil em 2013. Ele e sua galera, que o apoiaram enquanto ele subia vagarosamente a escadinha em direção à laje, sabem perfeitamente que o futebol é momento e que nada garante que ofertas melhores surjam no futuro. A hora é essa e o cavalo encilhado não costuma passar duas vezes. Minha opinião é de que Hernane está 100% a fim de ir embora. No que ele está 150% por certo.
Mas para a diretoria do Flamengo as porcentagens de certeza não devem ser as mesmas, porque em anexo ao polpudo checão de Petroeuros existe um alto custo político. Não é fácil vender o artilheiro do time às vésperas da mais importante competição do clube em 2 anos. Uma decisão que não granjeia qualquer popularidade. A torcida não quer nem saber o que essa grana vinda das areias escaldantes pode significar no combalido orçamento do Flamengo. A torcida quer ver gol e título, não importam os meios empregados para tal. E não ficará nada satisfeita se a tarefa de substituir o Broca D’Or na Libertadores seja delegada ao recém chegado e já controvertido Alecsandro.
Administrar é tomar decisões, baseando-se não apenas no está acontecendo agora, mas, principalmente, no que essa decisão significará no médio e no longo prazo. Por melhor que seja a oferta é um tremendo risco abrir mão de um artilheiro identificado com a torcida e em grande fase. Pensar apenas no dinheiro numa hora dessas é um erro primário.
Mas, por outro lado, não há a menor garantia de que em 2014 a bola vá continuar entrando depois de tocar as canelas ungidas do Brocador e nem de que ele venha a ser a grande estrela da Libertadores. Como recusar uma proposta de 3 milhões de euros e continuar se olhando no espelho quando se deve mais de 600 milhões de reais na praça? Como se vê, há muita incerteza e muitas imponderabilidades na ingrata função de administrar a paixão de tantos. Não gostaria de ser o cara que vai bater esse martelo.
Mas seja quem for há que tomar cuidado redobrado com as ideias brilhantes para a utilização da grana que pode entrar no caixa. Pegar o dinheiro da venda de Hernane para comprar metade de Elias me parece ser roubada. É como vender a flecha pra comprar um arco, negócio de português. Entendo que nos atuais valores pedidos pelo Sporting o custo do Elias está acima das nossas possibilidades e não me parece ser coisa de boa administração desprezar um principio gerencial básico só porque apareceu um dinheiro inesperado.
Sofremos bastante em 2013 por subordinarmos nossas ambições em termos de elenco aos estritos limites do nosso fôlego financeiro. Seria uma espécie de traição abandonar uma cultura administrativa pé no chão apenas um ano depois de implanta-la só porque vamos jogar a Libertadores. Se o Flamengo está no alto da pirâmide alimentar tem obrigação de enxergar mais longe que os outros. Vencer a Libertadores 2014 seria muito importante, mas muito menos importante do que jogar a Libertadores de 2015, 2016 e 2017.
O mundo gira, a fila anda e o Flamengo já sofreu perdas mais sentidas e não precisou fechar as portas e nem se apequenar. Se para que amanhã o Flamengo ocupe seu lugar de direito no futebol mundial tivermos que abrir mão hoje do Brocador, do Elias, do Adryan ou de qualquer outro talento, que assim seja. Boa sorte para todos. O Flamengo tem que vir sempre em primeiro lugar. Com ou sem dinheiro.
Mengão Sempre
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Rubro-negro bem vestido, me ajuda a acabar com os perebas no time do Flamengo. Entra logo no sócio torcedor.

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