4 de abr. de 2011

Thiago Neves prepara comemoração para a torcida: ‘Algo para marcar’

Thiago Neves deixa o gramado do Engenhão sob aplausos da torcida do Flamengo. Levando-se em conta o passado tricolor do meia, a cena já foi considerada pouco provável, mas tem se tornado rotina. Foi assim no último sábado, após a vitória por 2 a 0 sobre o Duque de Caxias. Foi assim, por exemplo, na vitória por 2 a 1 sobre o Vasco, jogo em que o camisa 7 fez o primeiro gol dele no ano. Hoje, tem quatro, vice-artilheiro do time atrás de Ronaldinho, Wanderley e Deivid, que têm cinco cada (veja o vídeo com os quatro gols de Thiago Neves em 2011).





Naquele 30 de janeiro, aliás, os torcedores do Fla provocaram os cruzmaltinos com gritos de “Créu”, comemoração que Thiago Neves tornou famosa – e polêmica – num Fla-Flu de 2008. Na época, ele defendia o Fluminense. Um tempo em que a relação com os jogadores rubro-negros sempre esquentava em campo.

- Nunca fui ameaçado por jogador nenhum do Flamengo na época. Provocação sempre teve, desde o começo. Se eu caísse no chão, vinham, falavam alguma coisa. Até o Willians (hoje companheiro). Mas eram coisas de jogo, você não quer perder um Fla-Flu de jeito nenhum.

Assim como Ronaldinho, Thiago ainda não teve uma atuação brilhante. Ele reconhece que, ao menos por enquanto, isso não será possível. Mas uma coisa é certa:

- Correr, eu vou correr, mesmo não jogando bem.

Thiago está entre os jogadores que mais correm no time do Flamengo. Segundo o preparador físico Antônio Mello, às vezes de forma até desnecessária. Em média, são cerca de 13 km por jogo. Foi a forma que ele encontrou de dizer à torcida que quer fazer sucesso no clube da Gávea.

- Cheguei meio nervoso, com o pé atrás, não com o clube, mas sabendo que a torcida iria me cobrar.

O meia sabe que está só na primeira parte do caminho, que o título da Taça Guanabara não é suficiente, mas faz um balanço positivo dos três primeiros meses no clube. Acompanhado da esposa tricolor Marcella e da filha Maria Carolina, de sete meses, Thiago esteve na redação do GLOBOESPORTE.COM para uma entrevista exclusiva. Além da relação com a maior torcida do Brasil, o jogador falou sobre amadurecimento, do aprendizado com Ronaldinho, rivalidade e família. E mais: está preparando uma comemoração musical especial.

Abaixo, o internauta confere os principais trechos da conversa.

Qual o balanço que você faz desse começo no Flamengo?

Cheguei meio nervoso, com o pé atrás, não com o clube, mas sabendo que a torcida iria me cobrar. Não conhecia ninguém, tinha receio de jogar mal, mas tinha uma coisa na minha cabeça: correr, eu vou correr, mesmo não jogando bem. Sempre vou me esforçar. A torcida do Flamengo é assim: mesmo que você não esteja bem em campo, se mostrar vontade, os torcedores incentivam e apoiam. Achava que ia demorar um pouco mais para as coisas acontecerem. O time já está encaixando, ficando certo. Fomos campeões da Taça Guanabara.

A torcida do Flamengo é diferente?

É, sim. Os torcedores apoiam, fazem pressão, mas sempre estão presentes. Quando cheguei, existia uma desconfiança, mas estou fazendo de tudo para acabar com isso.

Você falou que o Ronaldinho vê todo mundo correndo e quer correr também. Esse foi um dos motivos que o Flamengo defendeu para não contratar o Adriano. Se chegasse um jogador que não se dispusesse a fazer isso, o ambiente do grupo talvez ficasse abalado?

Não. Não tem isso. O Ronaldo às vezes quer voltar, quer marcar, só que eu digo a ele para não voltar. Temos de ter um cara que segure bem a bola na frente. Se for um jogador da frente, tudo bem. Mas se fosse alguém de trás não daria. Você vê como o Willians corre. Mas não chegaria a abalar (a volta de Adriano). Haveria uma conversa. (Nota: a entrevista com Thiago Neves foi realizada antes do anúncio de Adriano no Corinthians)

Mas e a questão de não ir a treino? Como os jogadores encarariam isso?

Fica um negócio chato. Todo mundo chega no horário e acontece de uma pessoa não chegar. Tem de entender também o que está acontecendo fora de campo. Tem gente que tem problema. O Diego Maurício teve um problema ou outro, outra vez chegou atrasado porque acordou tarde. Acontece. Para chegar ao Ninho, às vezes tem um trânsito ali perto que incomoda. Se sair dez minutos atrasado de casa, vai chegar depois da hora. As obras ali atrapalham muito (na Estrada dos Bandeirantes). No caso do Adriano, se viesse, perceberia que todo mundo está chegando no horário, está cumprindo. Tenho certeza que ele cumpriria, pelo compromisso com os jogadores. Todo mundo cobraria dele.

O que já deu para aprender com o Ronaldinho?

Acho que todo mundo tem de ficar de olho nele. É um jogador que está olhando para um lado e sabe tudo o que acontece na frente. Eu falo isso para o Deivid, para o Wanderley, para os caras que jogam no ataque. Às vezes, ele está virado para a defesa, mas tem a facilidade de colocar o companheiro na cara do gol. Você acha que ele não está te olhando, mas pode ficar tranquilo que a bola vai chegar. Tem uma visão de jogo difícil de encontrar em outro jogador. Acho que o Ganso (do Santos) nisso também é um fenômeno. Para nós está sendo bom ter um craque como o Ronaldo no nosso time. Claro que às vezes ele cansa, todo mundo cansa, está com 31 anos. Mas temos procurado ajudar na marcação para quando ele receber a bola ficar bem para fazer uma jogada, gol, uma bola parada. É isso o que queremos dele, que fique mais paradinho, não marcando tanto. Eu volto um pouco mais para que com a bola no pé ele decida.

Você se arrepende de alguma coisa na carreira?

Eu tive várias experiências no Paraná, quando eu subi para o profissional. Até mesmo no Fluminense, aquela situação com o Palmeiras (quando assinou um pré-contrato com o time paulista sem comunicar ao Fluminense). Nesse caso foi onde ganhei dez anos de experiência. Ali falei que não poderia acontecer mais. Comecei a andar mais na linha, a pensar mais nas respostas. Depois daquilo, fiquei mais tranquilo, passei a pensar mais antes de falar, falava muita besteira. Em 2008, foi quando eu realmente cresci na minha carreira dentro e fora de campo. Esse episódio me ajudou muito.

E a importância da família nisso?

É tudo para mim. Minha família, minha mulher, minha filha agora. Chego em casa e, apesar de cansado com treinos, jogos e viagens, fico com minha filha e tiro tudo de ruim, o mau humor. Esse apoio está sendo muito importante para mim no Flamengo. Como vocês sabem, minha mulher é tricolor. Quando eu chego em casa, conversamos sobre o Flamengo, sobre o que ela achou. Sempre recebo uma força, ela conhece alguns jogadores. Ela torce por nós e me ajuda muito.

Sua mulher foi ao Fla-Flu com a camisa do Fluminense. Depois do jogo, em casa, qual foi o comentário dela?

Para ela foi bom, porque o time dela não perdeu (jogo terminou empatado em 0 a 0). Foi tranquilo. Ela até comentava que na hora em que o Fluminense pegava na bola ela torcia. Quando eu pegava na bola, ela também torcia. Foi bom, foi legal, ela torceu com camisa, com as amigas dela que são tricolores. Não vejo problema nenhum. Vai torcer na Libertadores, comprou pacote, mas fica na parte dela. Quando chega na parte do Flamengo, ela fica tranquila.

Se aquela bola que você chutou e o Berna pegou no ângulo entrasse, ela ia comemorar?

Ela ia comemorar, mas não sei se pularia. Ela disse que ia torcer normalmente. Se fizesse gol, ela faria uma carinha, um biquinho, mas ia gostar.

Você ainda torce pelo Fluminense?

Eu torço pelos meus amigos, e tenho vários lá. No jogo contra o Fluminense eu encontrei o roupeiro Denilson, fazia muito tempo que eu não o via. E outros também. Torço para o Fluminense se dar bem, mas contra o Flamengo é claro que não. Mas o Fluminense foi um clube que me ajudou muito. Torço para que se dê bem na Libertadores, que cresça mais ainda, mas que o Flamengo esteja um pouco acima.

Algumas histórias entram para o folclore do futebol. Histórias de bastidores. O caso que você levou o carro na oficina do Luiz Alberto e teria passado cheque sem fundos, a fuga sem pagar o pedágio... São coisas engraçadas que nunca ouvimos da sua boca.

Do Luiz Alberto foi sacanagem dele. Ele falou que ia sacanear. A do pedágio foi verdade, mas o cara deu mole também. Estava sem nada para pagar o pedágio, quebrado na hora. Aí o cara falou para passar e esperar para não fazer muita fila. Passei e fiquei parado para preencher uma folha. Aí esperei cinco, dez minutos. O cara entrou na sala e nada de voltar. E eu com horário. Decidi não esperar, não. Meti o pé e não esperei. Só que ficaram sabendo, caiu na boca do Renato (Gaúcho, técnico do time na época) e me ferrei.

Na época de maior rivalidade com o Flamengo, da comemoração do “Créu”, os jogadores do Flamengo não pronunciavam nem o seu nome. Como era dentro de campo? Te provocavam muito, ameaçavam de alguma forma? Já teve algum encontro com eles fora de campo?

Nunca fui ameaçado por jogador nenhum do Flamengo na época. Provocação sempre teve, desde o começo. Se eu caísse no chão, vinham, falavam alguma coisa. Até o Willians. Mas eram coisas de jogo, você não quer perder um Fla-Flu de jeito nenhum. Até no último clássico dei uma pegada no Emerson, que é meu amigo. Isso aí acaba. Um dia você está aqui, no outro ali. Provocação fora de campo nunca existiu comigo e nunca vai existir. Não se sabe o dia de amanhã. Estava no Fluminense, estou no Flamengo, um dia posso estar no Vasco, Botafogo. Quando acaba o jogo, todo mundo é amigo de novo.

Hoje você faria diferente na hora de comemorar ou repetiria o "Creú"?

Não sei. Sobre comemoração eu não sei. Não quis provocar o Flamengo. Mas eu sempre vou comemorar quando fizer um gol. Estou bolando uma comemoração, mas não vou provocar ninguém. Vou continuar fazendo a minha. Só estou vendo uma boa e ainda não achei uma legal. Estou pensando em algo para marcar a torcida do Flamengo, mas até agora não está encaixando uma música. Escuto música direto, esses funks malucos (risos), mas não consegui uma dança legal.

Você é um cara bem sincero, né?

Sou, não levo nada para casa. Se chegar em casa sem falar o que eu queria, desconto na “nega”. Falo tudo logo para não ter problema em casa.

Esse Flamengo tem muito a crescer ainda? Tem muita gente falando que ainda não deu espetáculo, mas se espera isso quando se tem Ronaldinho e Thiago Neves no time.

Claro que todo mundo quer ver o Gaúcho e o Thiago dando espetáculo. Mas vai ser difícil acontecer. Nosso time é muito objetivo. Você não vê o Ronaldo dando uma caneta. Uma hora ou outra ele tenta, mas não vê ele fazendo graça. Eu também sou objetivo, e é isso que a gente quer. Queremos ganhar os jogos por 2 a 1, 1 a 0. E é o que o Vanderlei quer também. O torcedor entende isso. O que tem de fazer é dar uma reforçada no nosso grupo, que tem bons jogadores, mas ainda faltam algumas peças. Na hora que chegar mais gente, aí vai ficar bom, pode ser que aconteça o espetáculo. No momento, não é a hora certa. Queremos ganhar os dois turnos para ficarmos mais tranquilos. Aí começa o Brasileiro e pode ser que aconteça.

Temos visto grandes times sendo formados. No âmbito nacional você vê o Flamengo de que forma?

Vejo o Flamengo no topo. São grandes times. Cruzeiro tem um time muito forte, entrosado, o Grêmio. Mas esse ano o Flamengo vai brigar bonito. Precisa de mais umas peças que todo mundo vê que ainda faltam. Mas com o elenco que tem, bate de frente com todo mundo, com certeza. Para segurar vai ser complicado, dentro ou fora de casa. Tanto faz.

Você está com 26 anos, teve experiência fora do Brasil, voltou para o Fluminense e saiu outra vez. Tem vontade de tentar jogar no exterior novamente?

Eu queria tentar de novo. Eu não joguei. Só passei pela Alemanha (pelo Hamburgo). Queria ter a experiência de jogar na Espanha, na Itália. Agora não penso nisso. Quero ficar mais um tempo aqui, tomara que o Flamengo faça uma força para que eu fique mais alguns anos. Estou feliz, estou na minha casa, queria curtir minha filha. Não penso em sair tão cedo.

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