No ano de 1984, o renomado diretor italiano Sergio Leone lançava o clássico "Era uma vez na América" nas telas de cinema. O filme pode ser resumido como um acerto de contas violento - e até poético - baseado na história de amigos que cresceram juntos em Nova York. Passaram a praticar o crime, se tornaram gangsters e depois inimigos devido a uma traição do passado que deixou cicatrizes perdidas pelo caminho. Neste 8 de fevereiro, começa um outro roteiro de ajuste de contas na América. Do Sul. A sétima arte é trocada por outra, a da bola, na Taça Libertadores. Os protagonistas são os clubes brasileiros. Cruzeiro, Grêmio, Fluminense, Internacional e Santos sonham em se redimir com seus torcedores e a caixa registradora.
Quatro deles - Cruzeiro, Santos e a dupla Gre-Nal - terão a chance de, com a taça, igualarem-se ao tricampeão São Paulo na hegemonia brasileira da competição, que está longe de se aproximar dos dividendos dos clubes europeus na conquista da Champions League, por exemplo. Mas o triunfo abre portas. Quando começar a rolar a bola nesta quarta-feira, com Fluminense x Argentinos Juniors, às 22h, no Engenhão, pelo Grupo 3, no primeiro duelo Brasil x Argentina - a outra partida será Deportes Tolima-COL x Guaraní-PAR -, inicia também a luta pela volta olímpica da remissão.
O GLOBOESPORTE.COM acompanha a partida do Flu em Tempo Real e apresenta aqui um Guia da Libertadores para você, internauta, saber tudo sobre os 32 clubes divididos em oito grupos de quatro equipes na primeira fase. Os dois primeiros de cada chave se classificam para a segunda. A partir daí, o sistema será de mata-mata, com jogos de ida e volta, até a finalíssima. O campeão ganhará passaporte para o Mundial de Clubes, que este ano voltará a ser disputado no Japão. Um estímulo e tanto.
- A Libertadores não é o melhor produto do mundo. A motivação de vencer é mais pelo emocional do que o racional. Mas a exposição é importante. Quem for campeão e souber criar ações paralelas de marketing, vai valorizar a marca, aumentar a torcida. Se você construir o projeto, vale muito a pena. Mas o Mundial é a cereja do bolo - afirmou um dos bambas do marketing esportivo, Amir Somoggi, diretor da Esporte Total da Crowe Horwath RCS.
Amir cita o exemplo da Champions League, que rende ao campeão europeu 40 milhões de euros - R$ 91,3 milhões -, sem contar a bilheteria.
- Se ficar nas oitavas, o clube sai com 20 milhões de euros (R$ 45,6 milhões). O campeão da Libertadores 2011, descontando os gastos, vai faturar uns R$ 12 milhões. O pacote com o Mundial poderá render, no máximo, para os clubes sul-americanos, entre R$ 20 milhões e R$ 25 milhões.
Mais importante do que o caixa no fim do ano será, segundo Amir, a maior fidelização com o torcedor, o prestígio pelos títulos. Na verdade, é disso que mais estão precisando os clubes brasileiros neste momento. Os cinco que brigam para conquistar a América têm muitas contas a acertar com seus fiéis seguidores dentro de campo. E terão, como fortes concorrentes, os argentinos Estudiantes e Vélez Sarsfield, que contam com astros como Verón e Martínez, além de outros times perigosos e de tradição, como LDU, Universidad Católica, Peñarol, Independiente...
Blog Futebol Argentino: veja como chega cada clube nesta Libertadores 2011
Fluminense e Cruzeiro
Mas os clubes brasileiros entram fortes na competição e com contas a ajustar. O Fluminense, por exemplo, que estreia nesta quarta, ainda vive a alegria de ganhar um Brasileiro após 26 anos de espera. Mas o torcedor não esconde a frustração por não ter ainda a Libertadores na sala de troféus. O clube bateu na trave em 2008, quando perdeu, nos pênaltis, para a LDU, num Maracanã com festa preparada para o título inédito.
Até o atual treinador tricolor, Muricy Ramalho, tetra brasileiro, confessa que lhe falta um Sul-Americano. Participou quatro vezes seguidas e foi vice em 2006, para o Inter, quando treinava o São Paulo. O time contratou Rafael Moura, o He-Man, e Araújo para o ataque, além de Edinho e Souza para o meio-campo. Deco e Emerson, por enquanto, são as baixas do time no início da competição. Depois do Argentinos Juniors, clube argentino que revelou Maradona para o mundo mas não oferece grande perigo este ano, o clube enfrentará Nacional-URU e América do México.
Outro que também contratou foi o Cruzeiro. Bicampeão em 1976 e 1997, a Raposa não conseguiu até hoje, no entanto, conquistar o Mundial de Clubes. Fora que, com o tri da Libertadores, o clube fará companhia ao São Paulo como o brasileiro mais vezes campeão. O técnico Cuca perdeu para o Santos o lateral-direito Jonathan, mas ganhou o atacante paraguaio Ortigoza.
Além dele, o time contará com o zagueiro paraguaio Victorino, o volante Leandro Guerreiro e o atacante André Dias, entre outros. Com a eliminação do Corinthians, o Grupo 7 até que deu uma aliviada. Não é mais o da morte, mas tem Estudiantes (ARG) - primeiro adversário, em Belo Horizonte, no dia 16 -, o Deportes Tolima (COL) e o Guaraní (PAR).
Dupla Gre-Nal
No Grupo 2, mais fácil - enfrentará Junior Barranquilla-COL, Oriente Petrolero-BOL e León Huánaco-PER - , o Grêmio, bicampeão em 1983 e 1995, é outro que precisa fazer um acerto de contas com o torcedor. Passou bem pelo Liverpool na Pré-Libertadores, mas ainda vive a ressaca da perda da queda de braço com o Flamengo para ter Ronaldinho Gaúcho. Além de tudo, perdeu o artilheiro do Brasileirão, Jonas, para o Valencia, da Espanha. O tricampeonato sul-americano seria uma volta por cima. A diretoria conseguiu o gringo argentino Damián Escudero e Carlos Alberto, ex-Vasco, para o meio-campo, Vinicius Pacheco, ex-Fla, para o ataque, e o zagueiro Rodolfo. O Tricolor Gaúcho estreia no Olímpico dia 17, contra o Oriente Petrolero.
Quem também precisa se redimir com sua torcida é o grande rival do Grêmio, o Internacional. A decepção pela eliminação do Mundial para o modesto Mazembe não sai da cabeça dos colorados. Só o tricampeonato e a consequente volta para o Mundial de Clubes podem redimir o fiasco. E a diretoria não economizou para reforçar o time: contratou mais dois jogadores argentinos de expressão, o volante Bolatti e o atacante Cavenaghi, além de Zé Roberto, ex-Vasco.
Com quatro hermanos - Guiñazu, Bolatti, D'Alessandro e Cavenaghi -, o Colorado espera pôr sangue quente em campo para ser tri. A estreia será no dia 16, contra o Emelec, no Equador. No Grupo 6 ainda estão o Jaguares-MEX e o Jorge Wilstermann-BOL.
Santos
A torcida também espera muito do Santos este ano. O Peixe deu alegrias em 2010, com a conquista da Copa do Brasil e do Paulista com direito a show de Neymar e Ganso. Ainda por cima, se deu bem com a decisão da CBF de unificar os títulos nacionais, dando a hegemonia de oito brasileiros, ao lado do Palmeiras. Mas quem não viu Pelé, Coutinho & Cia. conquistarem a América e o mundo em 1962-63 está ansioso em ver o clube novamente neste topo. Além do mais, se conseguir a façanha da dobradinha, o time praiano será top em tudo no futebol brasileiro.
Para isso, a diretoria conseguiu de volta o meia Elano, ex-Galatasaray-TUR, fora os reforços do volante Charles, ex-Lokomotiv Moscou-RUS, e o lateral-direito Jonathan, ex-Cruzeiro. Junto com a garotada - o clube conta com as voltas de Arouca e Ganso, se recuperando de contusões -, eles têm tudo para conseguir o tricampeonato. O time estreia dia 15, fora de casa, contra o Deportivo Táchira-VEN, pelo Grupo 3, que tem ainda o Cerro Porteño-PAR e o Colo Colo-CHI. Na Libertadores 2011, a previsão é de muita emoção.
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