17 de ago. de 2012

Uma década de CR7: os primeiros e difíceis passos do craque no futebol


Header Cristiano Ronaldo 10 anos de carreira (Foto: infoesporte)
Ao todo, foram 305 gols em 564 partidas oficiais, 12 títulos e muitos recordes. Esse é um breve resumo da trajetória de Cristiano Ronaldo. Dono de um currículo invejável, o jogador mais caro da história (o Real pagou € 94 milhões por ele em 2009) completa no dia 14 de agosto dez anos como atleta profissional. E para explicar essa década de sucesso, o GLOBOESPORTE.COM conta a partir desta segunda-feira, por meio de relatos do próprio jogador e comentários de quem o conheceu de perto, a trajetória do camisa 7 desde seus primeiros dribles na Ilha da Madeira, passando pelo começo difícil na base do Sporting, a ascensão no Manchester United - e a consequente chegada na seleção portuguesa – até o o estrelato no Real Madrid.
Cristiano Ronaldo criança (Foto: Arquivo Pessoal)Cristiano Ronaldo aos três meses de idade
(Foto: Arquivo Pessoal)
Os primeiros passos
Em 1985, às 10h20m do dia 5 de fevereiro, no hospital Cruz de Carvalho, em Funchal, na Ilha da Madeira, nasceu o mais novo dos quatro filhos da cozinheira Maria Dolores e do jardineiro José Diniz Aveiro. Depois de Hugo, Elma e Cátia, Dolores se inspirou no nome do então presidente americano, Ronald Reagan, para batizar o filho caçula. O primeiro nome, entretanto, foi ideia da tia.
O pai de Cristiano Ronaldo também era funcionário do Clube de Futebol Andorinha, time do bairro, e convidou o capitão da equipe para ser padrinho do menino. Fernão Sousa não sabia, mas teria um papel fundamental na vida do garoto.
A familia de CR7 vivia em uma das áreas mais humildes da Ilha da Madeira: na Quinta do Falcão, 27 A, na freguesia de Santo Antônio do Funchal. E, foi ali, na porta de casa, onde tudo começou. Ainda muito pequeno e franzino, Cristiano Ronaldo deu os primeiros passos no futebol.
- Eu e a bola sempre fomos melhores amigos. Tive uma boa infância, claro que com muitas travessuras, mas um período do qual guardo boas lembranças e não me envergonho de nada - afirmou Cristiano Ronaldo.
Eu e a bola sempre fomos  amigos. Tive uma boa infância, claro que com muitas travessuras"
Cristiano Ronaldo
Aos poucos, o talento do menino começou a chamar a atenção da vizinhança. Quando Ronaldo tinha seis anos, chegou aos infantis da equipe do bairro. O CF Andorinha, cuja sede ficava a poucos metros de sua casa, entrou na vida de Cristiano por sugestão do primo Nuno, que já jogava pelo clube. José Manuel Bacelar, presidente da agremiação, relembra como foi essa época.
– Eu fui treinador do time por muitos anos e tive o prazer de ter ao meu lado o pai dele, meu grande amigo. Nessa época, usávamos um campo de uma escola para realizar os treinamentos. E foi justamente nesse período que o Cristiano começou a nos acompanhar. Ele já dava mostras do que poderia ser. Para nós, enquanto torcedores, o fato dele ter começado aqui é motivo de orgulho.
Cristiano Ronaldo CR7 no time do Andorinha (Foto: Arquivo Pessoal)De perfil, CR7 (primeiro em pé da direita para esquerda) posa com o time do Andorinha (Arquivo Pessoal)

Logo, as histórias sobre o garoto se espalharam por toda a Ilha da Madeira. E com apenas dez anos, despertou a cobiça dos dois maiores clubes da região: Marítimo e Nacional. Embora tivesse simpatia pelo primeiro, os representantes do time faltaram a uma reunião na sede do Andorinha e o destino do jogador foi o Nacional.
Cristiano Ronaldo carteirinha Andorinha (Foto: Arquivo Pessoal)A primeira carteirinha de federado de Cristiano Ronaldo no Andorinha (Foto: Arquivo Pessoal)
Cristiano Ronaldo criança (Foto: Arquivo Pessoal)Cristiano Ronaldo recebe prêmio (Arquivo Pessoal)
A fama do jovem chegou aos ouvidos de Fernão Sousa, que tinha se transferido para o Nacional e era o responsável pelas categorias de base do clube. Fernão decidiu ver de perto se o que o povo estava falando era verdade. E ainda teve uma surpresa.
- Um treinador de futebol do Nacional veio conversar comigo e me falou sobre um jogador que estava aparecendo no Andorinha. Fiquei curioso. E então resolvi ver de perto. Não passava pela minha cabeça de que o menino talentoso que todos falavam era meu afilhado. Fiquei encantado. Tinha muita garra, ambição e não gostava de perder. Era sinal de que ia arrebentar.
Ralando na base
Fernão decidiu levar Ronaldo para o Nacional. A transferência foi concretizada com o pagamento de um valor simbólico de € 500 (R$ 1,2 mil).
- O acerto foi muito difícil. Mas o fato de eu ter trabalhado muitos anos no Andorinha e ser padrinho favoreceu o Nacional. Conversei com a mãe dele e chegamos a conclusão de que o Nacional era a melhor opção.
Cristiano Ronaldo nacional (Foto: Arquivo Pessoal)Cristiano Ronaldo posa para foto com o time do Nacional (Foto: Arquivo Pessoal)
O ano era 1995: Ronaldo tinha dez anos e foi campeão logo em sua primeira temporada pelo novo clube. Ele já era um astro na Ilha da Madeira. Pedro Talhinhas, ex-treinador de Cristiano Ronaldo, destacou as qualidades do jovem.
Cristiano Ronaldo no Nacional (Foto: Arquivo Pessoal)Cristiano Ronaldo ainda sem penteados ousados
na base do modesto Nacional (Arquivo Pessoal)
- Ele era um menino acima da média. Tinha um grande potencial. A facilidade de driblar com as duas pernas era impressionante. Os dribles eram sempre em direção ao gol. Para ter ideia, eu era treinador dele no infantil, mas ele já era titular do time de iniciantes - de meninos com 13 e 14 anos. Ou seja, bem mais velhos. E, mesmo assim, já se destacava.
O Nacional era pequeno para um talento que crescia tão rápido. O clube devia € 25 mil (cerca de R$ 50 mil) ao Sporting de Lisboa por causa de um jogador chamado Franco. Na época, o presidente Rui Alves decidiu que Cristiano iria para Lisboa, caso a dívida fosse perdoada. E ficou resolvido que, na Páscoa, o jovem faria um teste na capital. Era tudo ou nada.
Ele era um menino acima da média. Tinha um grande potencial"
Pedro Talhinhas, ex-técnico de CR7
No dia 17 de abril de 1997, o técnico Osvaldo Silva e Paulo Cardoso, seu auxiliar, o receberam. Cristiano Ronaldo foi colocado para atuar contra meninos mais velhos e deixou todos de boca aberta com seu enorme potencial.
- O Cristiano jogou na minha equipe. Ele recebeu a bola e saiu fintando os meninos. Eu e o Oswaldo nos olhamos e nos pergutamos: o que é isso? Eu nunca tinha visto na vida um jogador daquela idade com tanta qualidade. Os próprios colegas do time também ficaram encantados e disseram: “Treinador, o madeirense joga bem heim” (risos). Era inacreditavel! – contou Paulo Cardoso.
O madeirense voltou para casa e Aurélio Pereira, coordenador de futebol juvenil do Sporting, teve a difícil missão de convencer a direção do clube de que o jovem valia € 25 mil (cerca de R$ 50 mil).
- O meu amigo Marques Freitas, presidente do núcleo leonino na Ilha da Madeira, disse que tinha um menino muito talentoso. Naquele momento, Deus me iluminou e pedi para que o trouxesse. Quando vi o Cristiano em campo, fiquei muito entusiasmado pela enorme vontade que demonstrava. A troca não era uma coisa aparentemente sensata, mas pedi para que o Simões de Almeida, administrador de finanças do clube, aprovasse a contratação. Inicialmente, ele não acreditou no pedido. Afinal, era um menino de 12 anos. Até hoje, o Sporting jamais pagou um valor semelhante (€ 25 mil) por um jogador de 12 anos (risos).
Confira nesta terça-feira o segundo capítulo da série na qual Cristiano Ronaldo faz sua estreia como profissional com a camisa do Sporting.
*Sob a supervisão de Marcos Felipe

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