23 de ago. de 2012

Meu Jogo Inesquecível: Fla x Grêmio 'matou o papai' do Sorriso Maroto


No dia 22 de maio de 1997, uma quinta-feira, o cantor Bruno Cardoso chorou a perda de um título, mas ganhou um Sorriso. Assim mesmo, com a letra “s” maiúscula. Quem repete os refrões da música-chiclete “Assim você mata o papai”, tema dos personagens Leleco (Marcos Caruso) e Tessália (Débora Nascimento) na novela "Avenida Brasil", nem imagina, mas tem que agradecer à final da Copa do Brasil entre Flamengo e Grêmio há 15 anos. Explica-se. Até aquele dia, Bruno e Fred, dois dos criadores do grupo, estavam brigados e só fizeram as pazes pelo amor ao Rubro-Negro. Três meses depois, os dois uniram-se a Cris (pandeiro), Vinícius (teclado) e Sérgio (violão) para formar o grupo de pagode Sorriso Maroto.
- É claro que o gol do Pet contra o Vasco (na final do Carioca, em 2001) foi marcante, mas um jogo que não sai da minha memória é aquele da final da Copa do Brasil contra o Grêmio. Acabou 2 a 2, e o Flamengo perdeu o título no Maracanã. Matou o papai. Por outro lado, esse jogo teve um fato curioso que está ligado à história do Sorriso Maroto. Naquela época, eu não falava com o Fred. Estávamos brigados. No entanto, queríamos ir ao jogo, mas não tínhamos companhia. O fanatismo falou mais alto e pensei: "Vou lá falar com esse moleque para irmos ao jogo!". Tive de descer do salto. Como nós conhecíamos pessoas ligadas às torcidas, arrumamos ingresso. Perdi o troféu, mas voltei a ter um grande amigo. Poucos meses depois, em setembro, o grupo se formou – explicou Bruno.
Bruno Cardoso, vocalista do Sorriso Maroto (Foto: Divulgação/Site Oficial)Bruno Cardoso, vocalista do Sorriso Maroto, demonstra seu amor pelo Flamengo (Foto: Eduardo Peixoto)
O cantor e Fred, atual percussionista do Sorriso, eram dois dos 95.125 pagantes que assistiram ao duelo no Maracanã. Dois dias antes, o Flamengo arrancou um empate por 0 a 0 no Olímpico. Voltou ao Rio envolto na bolha de otimismo da iminência de um título nacional. O grande trunfo era a dupla de ataque formada por Sávio e Romário. Os dois mal se cumprimentavam fora dos campos, mas o estilo de jogo deles casava e funcionava.
Mas a minoria gaúcha festejou primeiro. Aos seis minutos, João Antônio recebeu de Carlos Miguel, driblou Fabiano entre as pernas e chutou no canto esquerdo de Zé Carlos. A virada no placar tornou-se necessidade, e a aflição de Bruno nas arquibancadas aumentou quando Sávio saiu machucado. Porém, o substituto Lúcio precisou de dois toques na bola para empatar, aos 30. Ele dominou dentro da área e bateu cruzado com a perna esquerda: 1 a 1.
Romário apareceu com precisão aos 41. Ele cabeceou no travessão e aproveitou o rebote de peixinho para colocar o Flamengo à frente e celebrar ao hit das arquibancadas na época: “Ah, eu tô maluco.”
 
Bruno Cardoso, vocalista do Sorriso Maroto (Foto: Divulgação/Site Oficial)Fred (à esquerda) e Bruno no show do Sorriso
Maroto (Foto: Vitor Branco/Site Oficial)
O Baixinho deixou o Flamengo pela porta dos fundos no fim de 1999, com 204 gols e apenas três títulos – Estaduais de 1996 e 1999 e Copa Mercosul de 1999. Bruno critica a cobrança excessiva sobre um jogador e compara à própria performance nos palcos:
- Não adianta querer justificar o que o cara recebe de salário no desempenho dele. Ele não é uma máquina. Eu convivo um pouco com isso. Tenho rinite, problema nas costas... Mas as pessoas tratam você como mercadoria. Acham que você tem que estar feliz sempre. Esquecem que existe uma pessoa ali. O Love foi chutado do Palmeiras de uma forma absurda. O Roberto Carlos, do Corinthians. Como pode chegar a esse ponto?
O Grêmio assegurou o título e o silêncio da maioria do Maracanã aos 34 minutos do segundo tempo. Roger cruzou da esquerda, a bola desviou na zaga e sobrou para Carlos Miguel empatar e garantir a taça da Copa do Brasil no critério gol fora de casa. Frustração para Bruno. Mas pelo menos poupou a voz do cantor da rouquidão nos ensaios seguintes.
- O gol matou o papai de tristeza. A situação foi triste pelo título que o Flamengo deixou escapar. Aliás, o Flamengo é rei de fazer essas coisas. Tenho medo quando está nas decisões. Ele sai do eixo em jogos que não pode, principalmente em mata-mata. Falta experiência nesses jogos. Quando tem que matar o jogo, o Flamengo sucumbe. Minha maior tristeza foi essa. Depois teve o Santo André, o América do México... – afirmou o vocalista do Sorriso.
Sucesso nos palcos

Quinze anos depois do título perdido, Bruno celebra o sucesso profissional. Recentemente, o Sorriso Maroto lançou o DVD gravado na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, festejando os 15 anos da banda, e comemora as músicas estouradas nas rádios. Além de “Assim você mata o papai”, o hit “Se eu te pego, te envergo” alçou o grupo a outro patamar no mercado.
O gol matou o papai de tristeza. A situação foi triste pelo título que o Flamengo deixou escapar. Aliás, o Flamengo é rei de fazer essas coisas."
Bruno, do Sorriso Maroto
O repertório predominantemente romântico ganhou uma pegada mais dançante. O resultado apareceu. Cachê turbinado e exposição muito superior na mídia. Nesta semana, o grupo se uniu a Michel Teló no clipe da música “É noís fazê parapapá”.
- O Sorriso Maroto era conhecido como “o grupo de pagode romântico”, “o mais romântico do Brasil”. Mas não era só isso que queríamos. Somos jovens, temos outras ideias e podemos, além do romântico, entrar em outra área. E assim foi feito com “Assim você mata o papai” e “Se eu te pego te envergo”. É uma fase incrível do grupo. Se antes eu atingia 50 mil, hoje atinjo um milhão – disse Bruno, de 31 anos.
Crítico com o clube que ama e acompanha de perto mesmo na pesada rotina de 25 shows por mês, Bruno sugere que, assim como o Sorriso, o Flamengo se reinvente. Ele admitiu que nunca teve motivação para escrever uma música em homenagem ao Rubro-Negro. Quando questionado se havia um verso do repertório do Sorriso que resumia a ligação com o clube, recorreu à música “Em suas mãos”.
Bruno Cardoso, vocalista do Sorriso Maroto (Foto: Divulgação/Site Oficial)Bruno Cardoso fez duras críticas à adminitração do Flamengo nos últimos anos (Foto: Eduardo Peixoto)
- “Amor é pra sentir, não pra entender”. O Flamengo é puro coração. Ele tem resultados, mesmo fazendo tudo errado fora de campo. Como pode o clube não conseguir explorar bem o marketing? Tem muita gente amadora lá dentro. O clube não tem estimulado seus torcedores a ir ao estádio. Não tem dado o orgulho de bater no peito e provocar os rivais. Se eu tivesse nascido uma década antes, veria o Flamengo dos sonhos. Talvez assim eu faria um caminhão de músicas. Tenho vontade de fazer, mas nunca fiz, pois o clube não tem dado motivo para eu mostrar essa paixão. Não temos mais ídolos fabricados em casa, como o Santos fez Robinho e Neymar recentemente – lamentou.
FLAMENGO 2 X 2 GRÊMIO
Zé Carlos, Fábio Baiano, Júnior Baiano, Fabiano e Athirson; Jamir, Maurinho, Evandro e Nélio (Iranildo); Romário e Sávio (Lúcio).Danrlei, Arce, Rivarola (Luciano), Mauro Galvão e Roger; Otacílio, João Antônio, Emerson e Carlos Miguel; Paulo Nunes (Djair) e Rodrigo Gral (Marcos Paulo).
Técnico: Sebastião Rocha.
 
Técnico::Evaristo de Macedo.
 Gols: João Antônio (GRE), aos 6, Lúcio (FLA), aos 30, e Romário, aos 41 minutos. No segundo tempo, Carlos Miguel, aos 34 minutos.
Cartões amarelos: Mauro Galvão, Otacílio e Rodrigo Gral (GRE).
 
Data: 22/05/1997. Local: Maracanã, Rio de Janeiro (RJ). Competição: Copa do Brasil. Árbitro: Wilson Souza de Mendonça (PE). Público: 95.125 pagantes.

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