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Após dar os primeiros passos no futebol na Ilha da Madeira, Cristiano Ronaldo rumou para o continente com um convite para fazer um período de testes no Sporting de Lisboa aos 12 anos. A aprovação no exame revelou o que o mundo descobriria anos mais tarde: um jogador com um talento fora de série. Na capital, o prodígio teve de superar a solidão, a adaptação ao novo estilo de vida e o “bullying” de seus colegas das categorias de base por causa de seu sotaque.
Tínhamos muitas saudades de casa, choramos muitas vezes"
Fábio Ferreira, amigo de Cristiano
Os primeiros anos em Lisboa foram complicados, mas a saudade de seus familiares foi preenchida com a dedicação ao futebol e com o apoio dos amigos do Centro de Estágio de Alvalade, como Fábio Ferreira, companheiro de Ronaldo na base.
- Fomos colocados no mesmo quarto e na mesma escola. A partir daí começamos uma bela parceria. Éramos muito unidos.Tínhamos muita vergonha por causa dos nossos sotaques, eu era de Algarve e ele da Madeira. O Sporting pagava três passagens por ano para visitarmos nossos parentes. Tínhamos muitas saudades de casa, choramos muitas vezes, mas sempre colocamos nossos objetivos à frente disso tudo. A nossa distração era a bola, era jogar futebol - disse o ex-jogador do Sporting.
A vida escolar deixou de ser compatível com as ambições futebolísticas de Ronaldo. Desta forma, a família e o clube chegaram a um acordo para o jogador abandonar os estudos e dedicar-se apenas ao futebol. Dono de um talento evidente, o “Xora”, como foi carinhosamente apelidado pela facilidade com a qual se chateava com os companheiros de time, passou a ser um líder em campo ainda muito novo.
E foi justo nessa época que o jogador marcou o gol mais bonito de sua vida. Pelo menos é o que acha Aurélio Pereira, coordenador da base do Sporting na época e homem responsável por “descobrir” CR7.
- Ele tinha 15 anos mais ou menos e fomos jogar uma partida contra o Estrela Amadora. Ele recebeu uma bola no meio de campo, viu o goleiro adversário adiantado, bateu por cobertura e marcou um golaço. Na minha opinião, esse foi o mais bonito de todos. Se tivessem uma fita com esse gol gravado, gostaria de vê-lo novamente. Nessa época – por volta de 16 anos -, ele já ia subir para o profissional, mas o departamento médico do clube detectou que sua estrutura física ainda não era adequada para treinar com a equipe principal. Mas era questão de tempo – salientou.
Cristiano queria ser o melhor e, para isso, trabalhou muito.
- Estava determinado a vencer. Uma vez, Cristiano arrumou uns pesos e começou a treinar seus dribles com aquelas coisas presas nas pernas para quando chegasse no jogo, seus movimentos ficassem mais rápidos. Ele trabalhou duro, mas certamente sua força psicologica o ajudou a progredir – salientou Paulo Cardoso, ex-técnico do jogador nas categorias de base.
A estreia como profissional
Aos 17 anos, Cristiano Ronaldo já era a maior referência da base do Sporting. Na temporada 2002/2003 foi totalmente integrado ao time principal pelo técnico Lazlo Boloni. A estreia oficial, porém, aconteceu na pré-eliminatória da Liga dos Campeões, contra o Inter de Milão, em 14 de agosto de 2002. Com a camisa 28, Ronaldo saiu do banco de reservas para dar seus primeiros passos rumo à história, e a torcida do Sporting aguardava ansiosa para testemunhar o nascimento de seu mais novo ídolo. No entanto, a atuação foi discreta. E a partida terminou empatada em 0 a 0.
- Era um menino inteligente. E quando subiu para o profissional já tinha muita maturidade. Isso não foi supresa. O que me surpreendeu foi a facilidade com que driblava. Os jogadores gostaram muito dele pelo fato de ser muito respeitador. Mas ele também demostrou muita coragem, porque se quisesse uma vaga na equipe ia ter que trabalhar duro. Tínhamos acabado de erguer o troféu do Campeonato Português da temporada 2001/2002 – lembrou Boloni.
Depois de alguns dias, Cristiano produziu seus primeiros gols. Em jogo válido pelo Campeonato Português, o Sporting bateu o Moreirense por 3 a 0, com direito a dois do craque, os primeiros do então camisa 28 como profissional.
Chamando a atenção de Ferguson
Em 6 de agosto de 2003, data de inauguração do novo estádio de Alvalade, o Sporting tinha pela frente um amistoso contra um adversário de peso: o Manchester United. Cristiano Ronaldo já era muito conhecido em Portugal.
Era um menino inteligente. E quando subiu para o profissional já tinha muita maturidade"
Lazlo Boloni
Um dia antes da partida, o empresário do jogador, Jorge Mendes, e o clube britânico assinaram um pré-contrato que levaria o jovem para a Inglaterra um ano depois. Mas o desempenho de Ronaldo no jogo mudou completamente os rumos da negociação.
- O Alex Ferguson já tinha o interesse de levá-lo para o Manchester United e inicialmente, pelo que me lembro, queriam pagar cerca de € 5 milhões (cerca de R$ 12,5 milhões) por ele. Só que nesse jogo, o Cristiano fez uma grande exibição. Vencemos por 3 a 1. Foi espetacular! O Ferguson viu de perto a qualidade do menino e depois o United triplicou a proposta, o que antecipou a transferência dele - disse Lazlo Boloni, lembrando que na primeira e única temporada pelo Sporting, CR7 marcou apenas cinco gols em 31 partidas.
Na época, mesmo com os boatos de que essa teria sido a transferência mais cara da história do Sporting, a venda do jogador só rendeu pouco mais de € 8 milhões (cerca de R$ 19,7 milhões) aos cofres leoninos. O motivo? A GestiFute – empresa de Jorge Mendes, empresário de CR7 - detinha 10% do passe de Ronaldo, tendo, por isso, recebido € 1,5 milhões (R$ 3,5 milhões) com a negociação. Além disso, o Sporting tinha um fundo de jogadores - First Portugueses Football Players Fund - que era dono de 35%.
A chegada na Inglaterra
Uma semana depois de brilhar com a camisa do Sporting diante do Manchester United, Cristiano Ronaldo foi apresentado oficialmente pelos Red Devils, em Old Trafford, junto com o brasileiro Kleberson. Pentacampeão mundial com a Seleção em 2002, o atual jogador do Bahia era a grande estrela. Já Ronaldo tinha 18 anos e não passava de uma promessa. Embora quisesse a camisa 28, a mesma com a qual apareceu profissionalmente pelo Sporting, o jovem recebeu de Alex Ferguson a mítica camisa 7 do United, e, portanto, teria a responsabilidade de suceder George Best, Bryan Robson, Eric Cantona e David Beckham, todos lendas no clube britânico.
- Chegamos para ser os coadjuvantes de uma equipe repleta de grandes jogadores. Eu era um pouco mais velho, mas a euforia de nós dois era igual. No dia da apresentação, ficamos confinados em uma sala de reuniões. Ele não parava de falar sobre a atuação dele no amistoso contra o Manchester. Falamos bastante sobre a emoção de estarmos vivendo aquele momento único nas nossas carreiras. Mas eu jamais poderia imaginar que ele chegaria onde chegou - salientou kleberson.
A estreia de Ronaldo pelos Red Devils ocorreu no dia 16 de agosto de 2003 contra o Bolton (vitória de 4 a 0), pelo Campeonato Inglês. Aos 15 minutos do segundo tempo, o camisa 7 entrou no lugar de Nicky Butt e teve tempo suficiente para mostrar todo seu repertório. Na partida, Ronaldo deu três assistências, sofreu um pênalti e deixou os torcedores completamente eufóricos com sua atuação. Nascia um novo ídolo no Teatro dos Sonhos.
- Eu não estava em campo. Nessa época, estava voltando de férias e treinando para readquirir a boa forma. Ele entrou muito bem nesse jogo. O Cristiano Ronaldo é um cara que tem qualidades incomuns - habilidade, talento e força física. O futebol inglês sempre careceu de jogadores com o estilo dele. E, por isso, fez um grande sucesso lá - analisou Kleberson.
Confira nesta quarta-feira a terceira parte do especial na qual o pentacampeão Luiz Felipe Scolari, técnico da seleção portuguesa em 2003, dá a primeira chance para Cristiano Ronaldo na equipe da Terrinha.
* Sob a supervisão de Marcos Felipe
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