Carol Portaluppi relembra momentos com o pai (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
De um lado da mesinha de chá, a garota. Do outro, o garoto. Namorados. Conversam, são amigos, se divertem, vão ao shopping juntos, têm planos para o futuro, devem se casar. Em toda brincadeira de boneca, na infância de grande parte das meninas, a Barbie sempre teve seu Ken. Ou a Polly Pocket - para as mais jovens - sempre teve seu Rick. Não no caso de Carol Portaluppi. Na hora da brincadeira, seus brinquedos se misturavam. A sua boneca era namorada de um jogador de futebol. Sendo mais específica: ele vestia a camisa do Fluminense e respondia por Renato Gaúcho. Uma versão, claro, de plástico e bem reduzida do modelo real.
- As minhas amigas tinham os namorados das Pollys e eu tinha o meu pai... que era o namorado da Polly - relembra Carol, de quando tinha cerca de sete anos e escolheu por vontade própria tornar aquele boneco "mini-craque", presente recebido pelo pai, o par perfeito para as suas bonecas, sem criar nenhuma outra personalidade para ele: - E o boneco era o Renato mesmo! Eu colocava os dois juntos dentro do carrinho, brincava, levava para passear...
As minhas amigas tinham os namorados das Pollys... e eu tinha o meu pai
A relação entre seus bonecos é apenas uma das muitas lembranças que Carol conserva. Mesmo não tendo o pai tão presente na sua infância, uma vez que os compromissos do futebol insistiam em os separar, a estudante de comunicação social guarda com carinho todas as memórias da época. A pedido do GloboEsporte.com, Carol Portaluppi abriu o seu baú. Recolheu materiais antigos. Reviveu histórias. Contou o significado por trás de fotos, por trás de presentes. E o Renato mini-craque namorado da Polly Pocket é apenas um deles.
São fotografias de quando criança, fotografias de quando adolescente. São peças de roupa da época de bebê, como um bababor e um sapatinho, comprados pelo pai e que se tornaram "xodó" da família. São bichinhos de pelúcia, como o "leão pilantra", comprado em um semáforo por Renato para dar de presente à filha Carol. Ou ainda um coração apaixonado de Dia dos Namorados, também comprado pelo técnico para presentear a jovem, então com 13 anos, e fazê-la vivenciar a data - com o pai, claro, nunca com um namorado de verdade. São recordações aos montes, espalhadas pela casa, reunidas em um único sofá.
Carol mostra a versão 'mini-craque' de Renato Gaúcho (Foto: André Durão / GloboEsporte.com)
O 'Rei do Rio' não sabe nadar
Distribuída pelas prateleiras, armários e paredes, uma série de fotografias não deixa dúvidas de a quem pertence o apartamento. São imagens da infância, da adolescência, da juventude... Quase 20 anos de uma relação eterna retratados e emoldurados. Algumas, mais especiais, recebem lugar destacado. Como no quarto do pai "babão", para lembrar sempre da sua garotinha, hoje, já um mulherão.
São fotos em festas, ou apenas em saídas de família, em restaurantes, ou somente dentro de casa. Porém, um local em específico é frequente como paisagem entre as imagens espalhadas na residência Portaluppi. A praia.
Nada mais natural, afinal, trata-se da casa do "Rei do Rio", do campeão do futevôlei, do fã das areias e da orla carioca. Nunca foi incomum encontrar registros de Renato Gaúcho nas praias do Rio de Janeiro. Normal, portanto, que os tenha junto da sua filha, também dentro do seu apartamento.
Um detalhe, porém, poderia passar despercebido a quem vê de longe a sua desenvoltura, como de um nativo, por Ipanema ou Copacabana. Acontece que o "Rei do Rio" não sabe nadar. E já passou por alguns apuros no mar, incluindo aí a filha Carol. Palavras da própria. Relato que inicia, claro, com a exibição justamente de uma foto na praia. Da filha quando pequena em cima de uma prancha de bodyboard, totalmente inutilizada tempos depois, uma vez que não havia quem a acompanhasse no mar.
Carol revela: Renato Gaúcho não sabe nadar (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
- Essa foi a primeira vez que ele (Renato) me deu uma prancha, em Búzios. Ele não sabe surfar, nem nadar, nem nada. Mal entra no mar. E eu estava com a maior cara de desesperada aqui (apontando para a imagem). Ele cismou que ia me ensinar a surfar, mas nem entrar no mar ele conseguia. A prancha, claro, acabou ficando totalmente inútil, mal usei. Olha a minha cara de pânico, tipo 'pai, e agora? Que é eu para fazer?'! - conta, complementando que a expressão daquela imagem acabou se espalhando por todas as outras, já que "tomar um caldo" acabou se tornando frequente nos programas em família: - Nós já tomamos cada 'caixote'... Que eu realmente fiquei traumatizada... Era daqueles das pessoas pegarem a minha cabeça e a dele na areia depois, para ajudar. E ele morrendo de vergonha. Eu, criança, mal entendia, achava que tava me distraindo, brincando. Tadinho, ele precisava entrar na natação, mas agora não dá mais, já tá velho....
Mas, se Renato não sabe nadar e, mais, chega até a ter medo do mar, então como construiu parte da sua imagem de forma tão fidedigna e tão intimamente ligada com essa paisagem do Rio? Carol também explica:
- Ele tenta entrar no mar... Ele vai lá, toma um 'banho de gato', dá uma disfarçada, joga uma água no corpo depois do futevôlei, dá uma mergulhada rápida, tampa o nariz e já levanta com cara de desespero... Se ajeita sem ninguém ver, disfarça e sai do mar com pose de gostosão. Aí fica tudo tranquilo (risos). Ele vive na praia, mas realmente morre de medo do mar.
Tradição nas festas de Ano Novo
Todo 31 de dezembro é sabido que haverá festa na cobertura Portaluppi. A data é quase 'sagrada' na família. Todos os anos, Renato abre a sua casa, recebe os amigos e se torna anfitrião. Carol, claro, o acompanha. O Ano Novo é o feriado do pai. O Natal, o da mãe. Há quase 20 anos, o mesmo se repete. Um ritual ainda acompanha a dupla nas horas que antecedem a meia-noite e naquelas que a sucedem.
- É tradição já fazer a festa de Ano Novo aqui em casa. A gente sempre desce pra praia, eu pulo 49 ondas, que é para dar sete vezes mais sorte, jogo as flores para Iemanjá, rezo, choro, ele me abraça, diz que me ama, eu digo para ele, ele canta, me chama para cantar também... - explica.
Uma destas festas teve um gostinho um pouco mais especial para Carol. Na virada de 2011, a jovem de então 16 anos pode tomar seu primeiro gole de champanhe em uma festa de família. Segundo ela, um feito inédito, já que o treinador não permite o consumo de álcool. O acontecimento foi registrado pelas câmeras, que mostram os dois de branco, segurando uma taça à beira da piscina.
- Foi a primeira vez que ele deixou eu dar um gole de champagne de álcool em um Ano Novo. Foi algo inédito. E era um gole e olhe lá. Ele já dizia: 'Você não pode mais beber nada, um gole só tá bom'. Beber perto dele é algo que não existe - relembra.
Carol Portaluppi, a filha de Renato Gaúcho (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
Coleção de camisas e relação com torcida
O armário de Carol Portaluppi podia ser até uma vitrine de loja de artigos esportivos, tamanha a quantidade de itens relacionados ao futebol que a filha de Renato Gaúcho possui em casa. A grande maioria, presentes do próprio pai. Outros tantos, dos clubes. Alguns ainda chegam a ela por meio de torcedores. O fato é que a estudante guarda tudo com muito carinho.
Clube do seu coração, o Grêmio é quem conta com mais objetos. Afinal, é no tricolor gaúcho que o ex-atacante é o maior ídolo. São inúmeras camisetas, titulares e reservas, personalizadas com o seu nome ou não, atuais ou retrôs. Também há espaço para mochilas, canecas, chaveiros, casacos, meiões e até luvas, para deixar Carol "preparada para entrar em campo".
Uma vez me jogaram uma cueca na cara! Foi um choque tão grande, que fiquei parada, pensando: 'Meu Deus do céu, por favor, isso não pode tá acontecendo'
Em termos apenas de camisetas, Carol guarda uma verdadeira coleção. Há até uma peça do Roma, onde Renato jogou entre 1988 e 1989. Vasco, Bahia, Flamengo, Fluminense... Outros clubes que ocupam as prateleiras do seu quarto. A grande maioria das camisas da casa, aliás, são de posse da filha, uma vez que o ex-jogador conserva apenas aquelas que ele mesmo usou, seja na época de atleta, seja na época de treinador.
A relação com o futebol por meio do seu pai a torna muito ligada também às torcidas dos clubes comandados por ele. Nos momentos de amor e nos de ódio. Ao mesmo tempo em que recebe elogios e mensagens de apoio, são enviados também algumas centenas de xingamentos. Algo que ela tenta "administrar".
- Tem gente que passa muito dos limites. Uma vez, em um treino aqui no Rio, não vou me lembrar quando foi, mas me jogaram uma cueca na cara! Quando jogaram, foi um choque tão grande, que eu fiquei parada, pensando: 'Meu Deus do céu, por favor, isso não pode tá acontecendo'. E não era lá uma cueca muito saudável, né... - conta, completando: - Tem torcedor que perde a linha. Na internet, vejo coisas pornográficas. Eu tento ignorar. Tem muita gente que traz a raiva que sente pelo meu pai, para mim. Tipo a raiva pelo gol de barriga. Eles trazem isso para mim, e eu não tenho nada que ver com isso! Tem gente que gosta de mim por causa do meu pai e tem gente que também não gosta por causa dele... Vamos administrando e, na medida do possível, levando sempre com bom humor.
Os ensinamentos de Renato
As lembranças da relação com Renato Gaúcho não estão somente materializadas. A maioria está mesmo é guardada no coração. Muitas se mantêm no seu comportamento atual, afinal, foram conselhos e ensinamentos de vida para alguém que estava recém aprendendo a lidar com o mundo. Hoje, relembra quem é a partir daquilo que tanto ouviu em casa.
ESPECIAL Carol Portaluppi (Foto: André Durão / Globoesporte.com)
A alimentação saudável é uma delas. Fã dos exercícios físicos - algo que também acrescentou a sua rotina devido ao modo de vida do pai -, Carol Portaluppi balanceia a saúde com boas refeições, sempre variadas.
- Meu pai me ajudou muito com a minha alimentação. Sempre que a gente saía ou estava perto um do outro, ele falava de comida saudável. Como de tudo hoje, e não como fast food, fritura, essas coisas... Ele sempre frisou muito isso - diz.
A forma como se portar com relação às roupas e em frente às pessoas é outra:
- Ele também ensinou a me preservar com relação às roupas.. Quando não estou de saia longa ou de calça, tenho um toque quase que é de colocar uma almofada em cima da perna (para evitar mostrar demais). E isso é algo que ele sempre dizia: 'Carol, põe uma almofada na perna!'. Acabei pegando a mania de fazer. Ele sempre tentou me passar mensagens positivas sobre todos os assuntos possíveis. E sempre foi um pai presente, apesar dos compromissos da profissão.
Sejam dicas de comportamento ou registros em fotografias, bichinhos de pelúcia ou roupinhas de bebê, camisetas de clubes ou presentes aleatórios, as lembranças com Renato Gaúcho são todas especiais para Carol. Os mínimos detalhes da relação, por vezes, tão distante devido ao futebol, são todos conservados na memória, com carinho. Momentos que poderiam ser apenas mais um, mas que aumentam ainda mais o amor entre os dois.
- Todos os momentos que tive com ele na minha infância foram muito marcantes para mim. Por exemplo: fomos uma vez só na vida no cinema, para ver 'Procurando Nemo'. Parece bobo, mas foi uma das coisas mais maravilhosas que aconteceram na minha vida. Poder ir no cinema com o meu pai, comprar pipoca, tomar uma coca, ver um filme com ele... Dentro da sala do cinema, as pessoas pediam para tirar foto com ele... E, mesmo assim, ele foi comigo. Me marcou muito... - finaliza, deixando seu baú entreaberto, pronto para acrescentar novas memórias, a qualquer momento.
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