ndrade foi vencedor como jogador e também ganhou seu nome no Flamengo como técnico. Conquistou seis Brasileiros (cinco pelo Fla), a Libertadores e o Mundial, e se tornou um super campeão. Mas nos últimos meses o sucesso na carreira foi substituído pela fé no jogo mais dramático que já enfrentou: a batalha pela vida. No fim do ano passado, ele foi internado e ficou mais de dois meses no hospital, sendo 15 dramáticos dias na UTI.
Após uma artroscopia no joelho esquerdo, no dia 18 de dezembro, procedimento cirúrgico simples, uma série de complicações transformou a vida dele. Passou a encarar cada dia como uma final de Copa do Mundo. Teve trombose e depois uma embolia pulmonar, que o deixou em situação delicada. Volante e um exímio marcador quando jogava, Andrade teve de superar adversários que não o deixaram em paz. O problema é que quando se livrava de um, aparecia outro para derrubá-lo. Mas a força prevaleceu. No dia 6 de março, o maior glória já conquistada pelo eterno camisa 6 da Gávea. Ele deixou a clínica curado e desde então faz fisioterapia no Ninho do Urubu, para recuperar o joelho esquedo, que ficou em segundo plano devido aos diversos problemas de saúde que passou no período.
Andrade se emocionou ao relembrar o drama pessoal. Com lágrimas nos olhos, ele lembrou dos momentos em que se pegou pensando em como a vida dá voltas na solidão de um quarto de hospital. Voltar a andar, mesmo que de muletas, já foi um grande avanço para ele, que garantiu estar "feliz da vida" com o recomeço.
- Foram quase três meses internado. Fiquei 15 dias na UTI, mas na minha cabeça eram quatro. Não lembrava. Nesse tempo você reflete sobre a vida e aprende a dar menos valor a coisas materias. Apesar de todo o sofrimento, foi importante, vivi uma experiência grande. Hoje sou outra pessoa. Foi a pior sensação que já tive. Um dos médicos disse para mim: "não queria passar 10% do que você passou". Está superado. Diante disso, o que tenho no joelho não é nada. Estou no lucro. Sei que daqui a pouco eu vou estar caminhando sem muletas.
Tudo começou no dia 24 de dezembro. Seis dias após uma artroscopia, Andrade aproveitou o sol da segunda-feira natalina com a família, em casa, para entrar na piscina e fazer alguns exercícios. O objetivo era adiantar a fisiotrerapia. À noite, sentiu muitas dores no local. No dia seguinte procurou o médico e prontamente foi encaminhado ao hospital. Até que no dia 27 ele foi internado por conta de uma inflamação. Passou o reveillon internado e pedindo para que o pesadelo acabasse logo. Naquela altura do campeonato, o drama estava só começando.
Além do joelho, ele teve trombose e uma embolia pulmonar, e só saiu do hospital no dia 6 de março. Ainda recebeu o convite do vice de futebol do Flamengo, Wallim Vasconcellos, e do diretor de futebol do clube, Paulo Pelaipe, para fazer a fisioterapia no clube. Nada melhor do que terminar o tratamento "em casa". Ele agradeceu o carinho dos dirigentes e afirmou que só pôde utilizar as dependências do clube devido à mudança de gestão, já que o relacionamento com a ex-presidente Patricia Amorim não é dos melhores até hoje. Agora, diariamente, ele vai ao Ninho do Urubu fazer fisioterapia.
Com certeza não me trataria com a outra diretoria. Essa mudança acabou me aproximando novamente do Flamengo"
Flamengo
- Com certeza não me trataria com a outra diretoria. Essa mudança acabou me aproximando novamente do Flamengo. São pessoas de corações flamenguistas e querem o melhor para o clube. Tinham dois anos que não vinha aqui e não sabia como estava o CT. Depois que chegou essa nova diretoria, estive na Gávea com o Wallim e o Pelaipe e me chamaram para usar o clube para me cuidar, e até insistiram. Achei que ia me sentir melhor porque aqui é a minha casa. Antigamente eu ia à Gávea e saia de lá deprimido, hoje a coisa mudou e me sinto bem.
Após o título do Campeonato Brasileiro de 2009 pelo Flamengo, quando também foi eleito o melhor treinador da competição, Andrade não conseguiu emplacar na carreira de técnico. Com poucos convites no mercado, ele fez trabalhos modestos no Brasiliense, Paysandu e no Boavista. No fim do ano passado, um convite do recém promovido Quissamã o colocaria novamente no mercado do futebol carioca, porém a doença impediu o acerto.
- Tive um convite do Quissamã e até um dos diretores esteve no hospital me visitando. Eu falei para ele que não tinha condição de assumir nenhum compromisso e que precisava cuidar da minha saúde. Depois tudo se agravou. Teve um clube menor de Fortaleza que me procurou também, mas a minha saúde está em primeiro lugar.
Desejo de voltar ao Fla até em outra função
O amor pelo Flamengo é escancarado. Foi lá que viveu as maiores glórias como jogador e técnico. Foi campeão dos Brasileiros de 1980, 82, 83 e 87 como jogador, da Libertadores e do Mundial, em 1981, e o Brasileiro de 2009, como técnico. Além disso, trabalhou como auxiliar durante anos. Apesar de ainda ter desejo de trabalhar como treinador, Andrade conta que sonha voltar ao Flamengo, mesmo que seja em outra função.
- Tenho vontade de trabalhar de novo no Flamengo. É um clube maravilhoso e a minha vida foi aqui dentro, tenho quase 30 anos de Flamengo. Se amanhã ou depois eu tiver a oportunidade de ser útil em alguma outra função, eu gostaria. Hoje existe um treinador que é o Jorginho, uma pessoa séria e até jogamos juntos em 1987, quando fomos campeões da Copa União. Torço por ele. Agora o foco é na minha saúde. Depois se pintar algum convite aqui ou em outro lugar e tiver condições, eu voltarei a trabalhar na beira do campo ou em outra função. Estou aberto para isso.
Apoio de Zico, Júnior e ex-companheiros
Para Andrade, mais do que títulos, ficaram os amigos da geração vencedora do Flamengo. Ele contou que muitos dos jogadores que atuou ao lado dele mantiveram contato preocupado com a saúde dele.
- Todos me ajudaram. O Zico e o Júnior me ligaram dando força, o Adílio e o Júlio Cesar estiveram no hospital duas vezes, e o Delaci e o Cláudio Adão também foram lá. Todos eles mostraram a preocupação de ter um amigo em um momento difícil. Nesse momento que a gente vê os amigos que temos - agradeceu.
Mas foi na família que ele mais se apoiou. Se quando jogava o grito da torcida o empurrava para as vitórias, nesse momento o silêncio de uma oração falava muito mais do que qualquer palavra.
- A minha família foi fundamental. Eles ficaram o tempo todo comigo. Minha esposa e meus filhos se revezaram para ficar comigo no hospital. Isso foi o mais importante. Agradeço a todo mundo, os médicos, enfermeiros e todos que me ajudaram. Teve a mão de Deus para eu sair dessa.
* Raphael Bózeo, estagiário, sob a supervisão de Eduardo Peixoto
Nenhum comentário:
Postar um comentário