1 de dez. de 2012

Filho de vendedor ambulante, Ganso do Piauí é convidado para jogar no Fla


Francisco Matheus  (Foto: Náyra Macêdo/GLOBOESPORTE.COM)Francisco Matheus treinando no Bariri, em Teresina
(Foto: Náyra Macêdo/GLOBOESPORTE.COM)
Ele tem 13 anos, é canhoto, joga como meia e desfila elegância pelos gramados - e campinhos de terra batida! - de Teresina. Considerado o melhor jogador piauiense da sua categoria, comparado a Paulo Henrique Ganso e treinado sob o comando do ex-goleiro Toinho (campeão brasileiro pelo São Paulo em 1977), Matheus pode ser o craque do futuro do Flamengo. Convidado para defender as categorias de base do rubro-negro carioca em 2013, o garotinho magro e de pele queimada que se acostumou a brilhar no Piauí está de malas prontas para o Rio de Janeiro.
Prestes a realizar o sonho de defender o clube de coração, Matheus contou com a ajuda do seu principal fã para chegar às categorias de base do Flamengo: Osvaldo Mouura, vendedor ambulante em Teresina e pai do meia que atende pela alcunha de Ganso do Piauí. Foi Osvaldo, por exemplo, que pediu ajuda aos amigos para custear o sonho do filho de ser jogador de futebol profissional.
Contando com a solidariedade dos amigos próximos, Osvaldo e Matheus desembarcaram em outubro deste ano na Gávea, quando o jovem meia foi recrutado para participar da peneira nacional do Flamengo.
- Pedi ajuda. Os exames médicos são caros. As passagens áreas, a hospedagem... Tudo é muito caro. Graças a Deus temos muitos amigos, que sempre ajudam como podem – conta Osvaldo.
Fãs na Gávea
Carlos Noval, diretor executivo das categorias de base, com o time de juniores do Flamengo (Foto: Janir Junior / GLOBOESPORTE.COM)Carlos Noval, diretor das categorias de base do Fla
(Foto: Janir Junior / GLOBOESPORTE.COM)
Na capital carioca, a joia do futebol piauiense foi submetida a testes no mirim. Depois de impressionar entre os mais novos, os treinadores do clube rubro-negro acharam que o pequeno e tímido jogador poderia ser testado também na categoria infantil. Ele tirou as duas avaliações de letra.
- Ele chegou para fazer teste no mirim, e gostamos. Decidimos avaliá-lo no infantil, e ele foi muito bem também. Por isso, pedimos o retorno dele em março - revela Carlos Noval, diretor da base do Flamengo.
Israel Falcão, coordenador das categorias de formação do Flamengo e responsável por avaliar Matheus na peneira nacional, também se empolga com a possibilidade de contar com o jovem piauiense na base rubro-negra.
- Ele teve um período curto com a gente, mas foi o suficiente para identificarmos o seu principal diferencial, que é a qualidade técnica. É um garoto de muitos recursos, domina bem todas as funções dentro do futebol, é versátil e muito habilidoso. Se ele mantiver o que apresentou para a gente, ele vai fazer parte do grupo do Flamengo.
Entusiasmado com o futuro de Matheus no Mais Querido, o coordenador das categorias de formação do Flamengo lembra que o "Ganso do Piauí" só não ficou no clube quando fez o teste em outubro porque, além de ter chegado no final da temporada, ainda não possuía a idade mínima exigida pela legislação brasileira para esse tipo de deslocamento.
- Ele seria aprovado no mirim se tivesse chegado antes do fim do ano. Mas em janeiro ele faz 14 anos e, se ele retornar em março, já vai ter todos os suportes oferecidos pelo clube. Aqui, ele vai ter acompanhamento odontológico, psicológico, assistência médica, alimentação, hospedagem, além do contrato de formação que vai fazer com o Flamengo.
Apesar da empolgação com a qualidade técnica de Matheus, Israel Falcão prefere ser cauteloso quando o assunto é a comparação com Paulo Henrique Ganso, que deixou o Santos e acertou com o São Paulo recentemente.
- Essas comparações são delicadas, pois podem se voltar contra o atleta caso ele não evolua e não venha a crescer até chegar ao patamar ao qual foi comparado.
Pai, olheiro e patrocinador
O primeiro olheiro de Francisco Matheus foi o pai, o vendedor ambulante e também ex-jogador de futebol amador Osvaldo Moura. Ele usou a sua experiência de 22 anos para analisar as qualidades técnicas do filho. Osvaldo jogou no Campo do Bariri, mais tradicional campo de futebol amador de Teresina e celeiro de grandes craques do futebol piauiense,
- Ele era diferenciado desde pequeno – conta.
A história de Matheus é parecida como a de tantos garotos que sonham com a profissão de jogador de futebol. Nasceu em Teresina, com um ano foi embora junto com o pai para Brasília em busca de melhores condições de vida e lá começou a jogar futebol. Jogando “travinha”, teve seus primeiros contatos com a bola. De volta a Teresina cinco anos depois, ele se destacou entre os outros garotos da sua idade. Foi quando o pai decidiu que era hora de buscar o sonho dos dois.
Quando Matheus completou oito anos, Osvaldo o matriculou na escolinha do São Paulo implantada em Teresina. Mesmo com as dificuldades de deslocamento, pois o centro de treinamento funciona na zona rural da capital piauiense, o pai conseguiu manter o filho em atividade sob a supervisão do time tricolor paulista por dois anos.
Rapidez de Falcão e visão de jogo de Kaká
Durante esse período, Osvaldo conta que Matheus foi bem avaliado, recebeu promessas de que teria uma oportunidade no clube paulista. Como nada se concretizou, Matheus mudou de escolinha: foi para a Uchôa, tradicional na capital piauiense por destacar atletas para clubes do Nordeste. Ao lado de casa, Matheus treina diariamente no campo do Bariri, sob o comando de Toinho, ex-goleiro piauiense, campeão brasileiro pelo São Paulo em 1977 e bicampeão paulista.
Francisco Matheus e o treinador Toinho 2 (Foto: Náyra Macêdo/GLOBOESPORTE.COM)Matheus e o treinador Toinho, goleiro campeão pelo São Paulo (Foto: Náyra Macêdo/GLOBOESPORTE.COM)
- Tecnicamente, ele é o melhor do Piauí. A maior virtude dele é ser canhoto, mas também tem o raciocínio rápido, o drible curto, chega bem na área e bate bem também - comenta o treinador, que teve oportunidade de conviver com jogadores como Falcão (craque da seleção brasileira de futsal) e Kaká (meia do Real Madrid e da Seleção).
Toinho não poupa elogios a Matheus e até o compara a esses dois jogadores.
- Ele tem a rapidez do Falcão. Corre, passa e pensa rápido como ele. Matheus também veio do futsal. Ele também lembra o Kaká pela visão de jogo e pelo próprio jeito de correr e fazer as movimentações em campo – argumenta o treinador.
Sonho em prestações
Vagner Love no treino do Flamengo (Foto: Bernardo Monteiro / VIPCOMM)Vagner Love em ação no treino do Flamengo
(Foto: Bernardo Monteiro/VIPCOMM)
Motivação para realizar o sonho de ser jogador de futebol profissional e poder começar no Flamengo, Matheus não poderia ter maior. Ele é flamenguista de coração. Com os pés no chão, mesmo sabendo que muitos profissionais avaliam bem o seu talento, ele deixa transparecer a preocupação de poder não dar certo, e comemora o que já conseguiu até aqui.
- Eu posso não conseguir ir. Aí, não vou poder mostrar o que sei, o que eu estou treinando. Mas quando eu fui ao Rio de Janeiro, fiquei feliz em conhecer a Gávea e mais feliz ainda por ter conseguido tirar uma foto com o meu maior ídolo, que é o Vagner Love – conta Matheus, com os olhos brilhando por ter vivido essa experiência ainda mais distante para um jovem jogador amador que mora no Piauí.
Vágner Love, no entanto, não é sua única inspiração. Nem tirar foto com ele é seu maior sonho.
- Admiro muito o Messi, o Neymar, o Ganso e o Lucas. Quero um dia jogar pela seleção brasileira.

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