Até que enfim o Natal passou, deixando aquele rastro inconfundível de farofa, papel de presente e remorsos provocados pela oniomania induzida. Enquanto constatava horrorizado o quanto é significativa a quantidade de rubro-negros que se confessaram molhadinhos com a ameaça, hoje felizmente afastada, de que o malemolente coreógrafo Robinho de Jesus, há anos enganando os trouxas na Europa, viesse a envergar profissionalmente o nosso invencível e impoluto Manto Sagrado encontrei na caixa de entrada esse admirável relato do leitor Marcelo Caju que agora compartilho com vocês no mais puro e tradicional espírito natalino.
O email do Marcelo me provocou um questionamento interessante e bem de acordo com a época. Que Natal é esse que a moderna sociedade de consumo anda celebrando? Quem é o grande homenageado da comilança? JC, Papai Noel, Roberto Carlos, Ricardo Eletro? Será que não estamos vendendo nossa idolatria muito barato?
Marcelo Caju
20 dez (6 dias atrás)
20 dez (6 dias atrás)
para blogdoflamengo
Fala Arthur
Fala Arthur
Rapaz, esse é um relato de um flamenguista realizado…São 04h10min aqui em Porto Alegre e estava a uma hora atrás na porta do Hotel Sheraton esperando nosso rei Zico chegar do “jogo das estrelas”. Sou rubro-negro, porém agora mais realista e menos fanático, sofrendo menos com as inúmeras lambanças dos dirigentes amadores. Morando aqui no sul a mais de 10 anos, já fui à Argentina acompanhando o “Mais querido” nas suas pelejas internacionais. Caxias do Sul, Criciúma e Floripa foram outras cidades próximas que já fui acompanhar o vermelho e preto.
Pois bem, estava saindo do supermercado quando ligo o rádio para ver o placar do jogo das estrelas e escuto que o nosso ídolo maior estava em campo… Cara, eu não soube o que fazer… Cheguei a casa na corrida, vasculhei na internet e localizei o hotel que todos estavam hospedados. Peguei minha camisa do Flamengo da Adidas dos anos 80 e uma caneta. Sai de casa e segui para o hotel. Fiz plantão desde as 23h e nada… Pensei em ir embora, mas não era qualquer um, era Zico, e não podia perder essa oportunidade. Era aquele mesmo que imaginava jogando na voz de Waldir Amaral e Jorge Curi. Foi mais 40 anos de espera, e talvez a única oportunidade na vida em ver o Galinho…Algumas vezes tive alguns planos anteriores de vê-lo no CFZ, mas sempre dava uma zebra. Mas agora não, ele entraria naquela porta e não sairia dali por nada… Foram chegando algumas vans trazendo os jogadores, uns conhecidos e outros famosos… Zidane, Hierro, Roberto Carlos… Mas, sendo bem sincero, eu não queria nada com eles, nem tirei foto e nem nada… Estava ali apenas pelo nosso Zico.
O Alex (Soneca) ex-Palmeiras, hoje no Coritiba, havia chegado ao hotel antes e saiu para jantar com uns amigos. Uma boa parte dos torcedores que estavam na porta tiraram fotos com ele. Porém, quando ele veio na minha direção, eu o cumprimentei e perguntei se o Zico estava hospedado ali. Ele não entendeu e eu repeti de novo. Ele disse que sim, embora eu pressentisse que o Alex esperava que eu pedisse um autografo dele. Coitado. Hahahaha. Então, lá pelas 02h40minh chega outra van, e dela saiu o Márcio Atalla, que deve ter vindo como personal trainer do Galinho. E logo depois ELE…Caraca..Arthur, minhas pernas tremiam…Tudo que eu tinha gravado para falar com ele foi esquecido…Não sabia que fazer e dizer. Chamei-o meio no impulso e mostrei a minha camisa. Ele veio calmamente na minha direção. Pedi para assinar, mas na verdade nem sabia o que falar. Deu branco cara. Incrível. Ele colocou meu nome e pedi para tirar uma foto. Antes de ir, lembrei-me de uma das coisas que havia gravado.
“Obrigado por tudo que fizeste pelo o Flamengo”
Talvez ele nem tenha escutado, devido a outros torcedores que tiravam fotos, e ele foi extremamente paciente dando atenção para todos. Nem eram rubro-negros. Talvez apenas eu estivesse ali como uma pequenina fração da nossa imensa torcida. Muitos nem o viram jogar, ou quem sabe, nem tinham ideia da emoção que eu estava passando naquele momento. Algo inexplicável, sem saber dizer o porquê que uma figura tão carismática com essa capacidade de convergir uma paixão enorme por um clube.
Voltei para casa radiante, parecendo que havia conquistado algo que muitos não conseguiram, ou que muitos tentaram e não conseguiram… É o meu presente de Natal… Nestes tempos de vacas magras e de “vai curintian”, somente quem é rubro-negro para entender o que significa o que foi o Flamengo da era Zico. Pode forjar qualquer pesquisa, podem nos rebaixar, humilhar ou nos roubar, mas com certeza ninguém apagará essa emoção vivida hoje.
Paixão não se compra….rss!
Abraço. Marcelo Caju – Porto Alegre RS
Mengão Sempre
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