15 de ago. de 2012

Lembra Dele? Ex-xodó do Fla, Roma, 'clone' de Romário, vira empresário


Foi por causa da semelhança física com o atacante Romário que o jovem Paulo Marcel ganhou apelido quando começou a aparecer nas escalações do Flamengo. Virou Roma, uma espécie de abreviação do nome do craque que, após a conquista da Copa de 1994, passou a vestir a camisa rubro-negra. Hoje, aos 33 anos, Paulo Marcel Merabet aparenta timidez, mas é solícito e receptivo ao entrar em seu escritório em um edifício comercial de luxo em Belém. 
Roma chegou ao Flamengo no fim de 1997, próximo de completar 19 anos, para fazer parte do time de juniores. Nascido e criado na capital do Pará, o garoto acabava de dar um grande passo na vida. Mas, assim como muitos meninos que vão tentar crescer na carreira longe de casa, é preciso um diferencial para se destacar, mesmo na base de um grande clube do Brasil. No caso do atacante paraense, a semelhança física com Romário, na época o grande ídolo rubro-negro, foi fundamental para que fosse notado.
– Só me ajudou. Me comparar com um mito do futebol, um dos maiores atacantes de todos os tempos, é uma coisa que ainda me dá muito orgulho. As pessoas começaram a me olhar diferente e notar o meu futebol – relembra.
Apesar dos convites para continuar nos gramados, ele diz que parou de jogar para se dedicar ao mundo dos negócios, aos estudos e, claro, à esposa Amanda e às filhas Marcella e Rafaella.
ex-atacante Roma trabalhando como agente de jogadores (Foto: GLOBOESPORTE.COM/PA)Vida de escritório: Roma vira empresário e agente de jogadores (Foto: GLOBOESPORTE.COM/PA)
Autor de um dos gols que livraram o Fla do rebaixamento em 2001 (relembre no vídeo acima), Roma virou empresário, agente de jogadores de futebol e passou no vestibular para Direito em uma faculdade particular da capital paraense. Filho de Marneide Merabet, desembargadora do Tribunal de Justiça do Pará, e irmão de David, também advogado, Roma quer seguir os passos dos familiares e atuar na área do Direito Desportivo, que ele considera carente em Belém. 
Ex-atacante Roma com sua esposa Amanda e filhas Marcelle e Rafaela (Foto: GLOBOESPORTE.COM/PA)Roma com sua esposa, Amanda, e as filhas
Marcelle e Rafaela (Foto:GLOBOESPORTE.COM/PA)
– Vivo com minhas economias de banco e tenho uma loja de bijuterias em um shopping. Também estou com um projeto de gestão esportiva. Já temos algumas parcerias com empresas conhecidas do ramo – explicou Roma, que tem, entre os jogadores já contratados por sua empresa, o goleiro Paulo Rafael, do Paysandu, e o meio-campo André Mensalão, ex-Tuna Luso e atualmente no Guarany de Sobral.
Seguindo o exemplo de Ronaldo Fenômeno, detentor da 9ine, Roma quer ser referência na área esportiva em toda a Região Norte agenciando a imagem e a carreira de atletas. Em paralelo, ele pretende montar um projeto social em Marapanim, município no nordeste do estado, distante cerca de 130km de Belém – onde o pai desenvolve atividades politicas.
Com o Baixinho, nenhum jogo oficial
Apesar de contemporâneos de clube, a dupla de baixinhos nunca realizou uma partida oficial. Isso porque Roma só subiu para o time profissional em 2000, quando Romário já havia deixado a Gávea e retornado ao Vasco após 11 anos.
– Infelizmente, nunca jogamos juntos em partidas oficiais, mas treinamos várias vezes quando eu ainda era dos juniores. Ele me dava orientações, dicas de como bater melhor na bola. O Romário sempre me ajudou bastante, mesmo tendo poucas oportunidades de conviver com ele. Pouco antes de subir ao time profissional, teve aquela confusão, e ele foi dispensado do clube – explicou Roma, se referindo ao fato de Romário ter sido flagrado em uma casa noturna em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, logo após a vitória do Juventude por 3 a 1 sobre o Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro de 1999, o que culminou com a rescisão do contrato do atacante pelo então presidente Edmundo dos Santos Silva.
Ex-atacante Roma com o lateral Alessandro, do Corinthians (Foto: GLOBOESPORTE.COM/PA)Roma com o lateral-direito Alessandro, do Corinthians. Eles foram companheiros no Flamengo (Foto: Arquivo pessoal do jogador)
Uma carreira que começou nas quadras
Roma é fruto da base do futsal do Remo, apesar de ser torcedor do Paysandu. Foi no Ginásio Serra Freire, em Belém, que ele passou parte de sua vida, dos dez aos 16 anos. Até que, próximo de completar 17 anos, Adail Braga, então diretor do Flamengo, de férias em Belém, estava assistindo a um jogo da final paraense de futsal e o convidou para fazer um teste no Rio de Janeiro. Seria a “prova” que mudaria, de vez, a vida do jogador.
Chegou um sheik na Gávea falando que queria me levar e pagava bem para eu passar um mês lá e disputar um jogo, a final do Campeonato do Sultão. Cheguei lá e marquei o gol do título do time. Ganhamos por 2 a 1, e até hoje, estou na história do clube."
Roma, ex-atacante do Flamengo
– Ele gostou de mim e do Toninho. Fomos campeões naquela partida (pelo Remo), e ele nos convidou para fazer um teste na Gávea por um período de 15 dias, no inicio de 1998. Daí, fizemos e passamos. Ficamos morando na concentração do Flamengo, no Morro da Viúva. Só que, infelizmente, o Toninho sentiu saudade da família e voltou para Belém. E eu continuei no meu sonho. Desde então, fiquei no sub-17 – explicou.
E lá se foram o primeiro, segundo e terceiro anos para, enfim, aparecer a primeira oportunidade de crescimento no clube carioca. Em sua última temporada como jogador da base, Roma foi um dos destaques da equipe rubro-negra que conquistou o título de campeão carioca da categoria, taça que fazia cinco anos o clube não ganhava. Como recompensa, a diretoria subiu alguns jogadores para o profissional, entre os quais os atacantes Reinaldo e Lê, o lateral-direito Alessandro, o zagueiro Juan, o goleiro Júlio Cesar e o próprio Roma.
Ex-atacante Roma com as camisas de Flamengo e Pumas (MEX) (Foto: GLOBOESPORTE.COM/PA)Roma faz pose com as camisas de Flamengo e do
Pumas, México (Foto: GLOBOESPORTE.COM/PA)
Em 2000, sem chance no profissional e na condição de reserva de Reinaldo, o jogador foi emprestado para o Mogi das Cruzes (SP), onde se sagrou artilheiro do Campeonato Paulista da Série A-3, com 11 gols. As boas atuações lhe renderam propostas da Ponte Preta, Palmeiras B e Guarani, mas ele retornou ao Fla para jogar ao lado de alguns medalhões como o capetinha Edilson, o meio-campo Denilson e o volante Vampeta, que havia sido envolvido numa troca com o atacante Adriano.
– O Flamengo pretendia, com o (técnico) Carlinhos, ser campeão, mas não foi bem planejado. Não deu certo, e o time foi quase rebaixado em 2000. Em 2001, o Zagallo assumiu e já foi bem melhor para mim. Tive muita chance e me agreguei entre os quatro atacantes. Comecei como reserva, mas assumi a condição de titular, e fomos tricampeões do Carioca com o gol do Pet. Nesse time tinha o Rocha, volante que jogou pelo Paysandu, e o Dida, atualmente no Remo – lembrou.
O ano seguinte, em 2002, também foi bom para o jogador. Entre os companheiros de ataque estava Liedson, que acabou de retornar ao Flamengo este mês. No comando, Zagallo saiu para a entrada de Carlos Alberto Torres, outro treinador que deu muitas oportunidades ao paraense. Mas foi em 2003 que Roma partiu para o mundo. Ele foi negociado com o Jeanbuk Hyndai, clube da Coreia do Sul, onde jogou durante um ano e meio como titular absoluto e marcou mais de 15 gols na temporada.
– Tinham três brasileiros jogando comigo lá. É um país legal, mas com uma cultura estranha. Comer cachorro não foi muito agradável, mas eles acham que tem muita proteína. A dificuldade com a língua também foi outro ponto complicador. Tínhamos um intérprete. No mais, o nível de vida lá era muito bom – comentou.
Da Ásia, o atacante seguiu para a Europa e foi parar na Bélgica, no Lokeren, clube da primeira divisão administrado por investidores. O objetivo era fazer um bom campeonato e despertar o interesse de clubes maiores, mas o frio, que chegava a -10º C, deixou o sonho distante. O contrato, que era de dois anos, se resumiu a oito meses. Para piorar, Roma teve uma lesão. Ele pediu para sair e foi emprestado ao Pumas, do México, onde disputou a Taça Libertadores e marcou dois gols.
roma flamengo (Foto: Agência Estado)Roma comemora gol pelo Flamengo: altos e baixos
na Gávea (Foto: Agência Estado)
– Morei na Cidade do México. Cidade boa e clima bom. Estrutura do clube excelente, com CT próprio. Cidade incrível. Joguei o primeiro semestre, e no segundo, só fiquei treinando porque o período de inscrição (para o campeonato nacional) já tinha acabado. Fomos eliminados nas oitavas da Libertadores.
Do México, ele retornou à Europa, dessa vez para jogar no Belenenses. Em Portugal, o time do brasileiro conquistou o vice-campeonato da Taça de Portugal sob o comando de Jorge Jesus, resultado que garantiu vaga na Copa da Uefa. A renovação não veio, e ele voltou ao Brasil. Passou três meses no Santa Cruz e foi negociado com o Etnus Achrans, do Chipre. Como o elenco cipriota tinha mais estrangeiros do que o permitido, Roma foi emprestado ao Partizan Tirana, da Albânia, mas ficou apenas três meses no Leste Europeu.
A partir daí, a peregrinação por clubes menores começou. Roma jogou no Ituiutaba, atual Boa Esporte, Brasiliense, Águia de Marabá, Macaé, São Cristovão e, por último, Bragantino-PA.
Um título em apenas um jogo
Uma história curiosa que Roma gosta de lembrar foi quando o atacante, em 2002, foi emprestado pelo Flamengo ao Al-Nars, de Omã, para disputar apenas uma partida: a final da Copa do Sultão. Com quatro meses de salários atrasados no clube do Rio, o jogador foi procurado por um diretor que perguntou se ele tinha interesse em receber um bom dinheiro.
– Chegou um sheik na Gávea falando que queria me levar e pagava bem para eu ir passar um mês lá e disputar um jogo. Só a final da Copa do Sultão. Fui, e no outro dia, ele pagou ao Flamengo e a mim adiantado. Cheguei lá e marquei o gol do título do time. Ganhamos por 2 a 1, e até hoje eu estou na história do clube. Eles tentaram me contratar, e o Flamengo não me liberou – contou.
Além da Copa do Sultão, o jogador ganhou um tricampeonato carioca, a Copa dos Campeões e a Copa Mercosul, com o Flamengo, a Supercopa da Coreia do Sul,, com o Jeanbuk Hyndai, e o Campeonato Paraense da segunda divisão, com o Bragantino-PA.
roma flamengo juninho paulista (Foto: Agência Estado)Roma disputa bola com Juninho Paulista em clássico contra o Vasco (Foto: Agência Estado)

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