Pense em qualquer jogador hoje no seu time. Será que ele vestiria a camisa do clube e entraria em campo para disputar uma partida ou um campeonato inteiro apenas por amor, sem receber nenhum centavo? Ao ser perguntado sobre o seu salário, Kleber Pereira, ex-atacante de Santos, Internacional, Atlético-PR, Vitória e outros grandes clubes, que atualmente defende o vermelho e preto da bandeira do Moto Club-MA, surpreendeu.
- Hoje, eu jogo apenas por amor - disse, após a pergunta ter sido repetida.
Por amor, apenas. Nada de dinheiro para continuar jogando futebol. Mas isso foi trabalhado durante toda sua carreira. Não foi uma aposta da noite para o dia. Kléber conseguiu guardar e investir certo. O principal investimento foi em bens imóveis pelas cidades por onde passou. O atacante tem propriedades em Santos, Porto Alegre e São Luís.
- Meu irmão sempre me ajudou a gerenciar essa parte da minha carreira. Eu vejo hoje jogadores que não se programaram e acabam passando por necessidade depois que pararam de jogar. Graças a Deus, comigo não foi assim - disse Kléber.
Títulos e consagração: do Brasil ao México
Foi no Moto Club a iniciação profissional de Kléber Pereira. Naquela época, era conhecido apenas como Kléber. Após algumas partidas por uma competição amadora, vestindo a camisa do Cruzeiro de Anil, clube de São Luís, dirigentes do Papão contrataram o atacante em 1996.
Porém, antes de brilhar no Moto, Kléber jogou no Náutico e no Sion, da Suíça. No clube suíço, foi campeão nacional na temporada 1996/1997. Em 1998, retornou ao clube maranhense e foi artilheiro da Série C, marcando 25 gols.
A boa campanha o levou para o Atlético-PR no ano seguinte. No Furacão, Kléber diz ter vivido os melhores momentos de sua carreira.
- O Atlético (Paranaense) também é meu time de coração. Tenho muito carinho pelo clube. Lá, foi meu melhor momento. Fomos campeões brasileiros em 2001. Foi marcante porque foi algo inédito. Lá, falavam que apenas o Coritiba tinha esse título, e a gente conseguiu dar essa alegria ao torcedor - relembrou Kléber Pereira.
No Furacão, Kléber marcou época. Ficou de 1999 a 2002. Editou grande dupla de ataque ao lado de Alex Mineiro. Acabou fazendo 124 gols e se tornando o terceiro maior artilheiro da história do clube. Depois, foi para o México. Jogou no Tigres, Veracruz, América-MEX e Necaxa. Por lá, também foi campeão da Concacaf e do Campeonato Mexicano.
No retorno ao Brasil, assinou contrato com o Santos e viveu outro grande momento em sua carreira. Foi vice-artilheiro do Paulistão 2008 e artilheiro do Brasileirão no mesmo ano (acompanhe vídeo ao lado com todos os gols de Kléber Pereira no Brasileirão 2008). Sua saída do clube alvinegro também foi marcante. No intervalo do último jogo pelo Brasileirão 2009, anunciou que não continuaria no Santos.
Em 2010, acertou com o Internacional, mas sua passagem pelo Colorado não teve nada a ser lembrado. Em seguida, teve seu nome ventilado pelo Nordeste. O Ceará chegou a tentar sua contratação para a disputa da Série A, mas o atacante acabou chegando mesmo a um acordo com o Vitória. No clube baiano, Kléber Pereira viveu um período de escassa utilização e sentiu que era tempo de repensar.
- Infelizmente, só joguei uma partida no Vitória. Foi complicado lá pra mim. Fiquei chateado por não ter tido oportunidade para jogar lá. Acabou não dando certo - disse o jogador.
O retorno para casa: hora de cultivar os amores
Ao fim de 2010, o Vitória foi rebaixado para a Série B. Kléber Pereira se desligou do clube e, como ele mesmo disse, voltou para o Maranhão para 'resolver umas coisas'. O retorno para São Luís se transformou em um hiato na carreira do jogador.
Kléber começou a pensar se era mesmo a hora de parar de jogar futebol. O ano anterior tinha sido frustrante para o atleta e ele estava mais preocupado em descansar do que voltar à rotina de treinamentos, jogos e competições.
Foi assim durante o primeiro semestre de 2011. Uma pausa na carreira e a distância dos gramados de futebol. Propostas, segundo ele, não faltaram. Kléber disse que vários clubes, principalmente do México, o procuraram. Do Brasil, chegou a receber proposta para disputar a Série B pelo São Caetano. Porém, nenhuma delas vingou.
- Eu não queria compromisso nenhum. Não tinha cabeça pra isso. Eu estava parado e não queria me envolver ainda com futebol de novo - explicou Kléber.
No entanto, dirigentes do Moto Club o procuraram. O time havia feito um Estadual fraco no primeiro semestre, enquanto o maior rival, o Sampaio Corrêa, sagrou-se campeão. Kléber viu no clube de coração a chance de voltar a ter prazer com o futebol.
Aos 36 anos, voltava ao Papão para disputar a Copa União - a segunda competição mais importante do Maranhão e que dá uma vaga para a disputa da Copa do Brasil do ano seguinte. No contrato, o atacante viria para disputar este título pelo clube, mas acabou fazendo mais. Kléber utilizou sua influência e convidou dois jogadores para atuarem a seu lado no clube maranhense: Pires, que jogou com ele no Atlético-PR, e Abuda (ex-Corinthians), seu companheiro de ataque no momento.
No Papão, ele não tem mordomias ou estrelismo. Pelo contrário, prefere ser tratado como os outros companheiros: treinar, concentrar e ser escalado como qualquer outro.
- Independentemente de estar no Moto ou em qualquer clube, você tem que ser profissional. Claro que em um clube grande há mais responsabilidades, mas eu tenho o mesmo tratamento aqui. Faço tudo normal como os outros - informou o jogador.
Na sua partida de reestreia com a camisa rubro-negra, Kléber marcou um dos gols que deram a vitória do Papão do Norte sobre o Cordino, por 2 a 1. A competição começou em agosto, e o atacante é o artilheiro do time, com três gols. No entanto, o Moto Club não conseguiu chegar às semifinais do 1º turno da Copa e, agora, tem que esperar o início do 2º turno.
Nesta nova fase da vida, a válvula de motivação para Kléber continuar atuando é mesmo o amor. E não só dentro de campo. O atacante pôde se reaproximar de velhos hábitos, locais, e, principalmente, de sua família.
- Todos os dias pela manhã eu vou lá na casa dos meus pais para tomar café com eles. Não abro mão disso - afirmou o jogador, que voltou a se dedicar mais à família, e agora, depois de 15 anos de matrimônio, pensa em ser pai.
Adeus rubro-negro
A mesma dedicação que teve durante toda a carreira e mostra hoje com sua família o atacante quer repetir no Moto Club, mesmo depois de deixar o futebol. Kléber Pereira ainda não sabe exatamente o que vai fazer depois de pendurar as chuteiras, mas quer continuar ajudando o time.
Amigos e familiares bem que tentam fazer com que o jogador continue na ativa, mas Kléber parece determinado a se aposentar no fim deste ano.
- Muita gente achava que não estava na hora de parar, pela forma como eu estou jogando, correndo, treinando. Estou em forma e bem. Todos queriam que eu jogasse mais dois ou três anos, mas agora eu quero viajar com minha esposa e a família, descansar e depois pensar no que vou fazer - disse o atacante.
Mas, como bom rubro-negro, Kléber deve jogar no Moto até o fim do ano. Além disso, ainda quer uma despedida no outro time do coração: o Atlético-PR.
- Quero fazer um jogo festivo de despedida. Adoro o Atlético, a torcida ,e tenho grandes amigos lá. Vou ainda combinar direito com eles e espero que dê certo.
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