Eles saíram, rodaram o mundo, e encontraram a casa reformada. A edição de 2011 da principal competição do país tem como atrativo o retorno de nomes de impacto, como Ronaldinho Gaúcho, Luís Fabiano, Liedson, Juninho Pernambucano. Isso sem falar em outros cotados para voltar, como o zagueiro Juan, do Roma, e o meia Diego, do Wolfsburg. Todos terão de se adaptar a algumas peculiaridades do 'novo' Brasileirão. Nos pontos corridos daqui, clubes de tradição são rebaixados, favoritismos não se confirmam, a surpresa dá as caras rodada sim, rodada também. Basta dizer que há seis campeões diferentes em oito anos do novo formato.
Ronaldinho Gaúcho, por exemplo, acostumou-se a estar na parte de cima da tabela na Espanha e na Itália. Depois de ser campeão espanhol duas vezes pelo Barcelona, além de jogar em uma pequena parte da recente conquista do Milan, o jogador disputará pela primeira vez uma competição brasileira com formato europeu. Em 2000, no último Brasileirão que disputou, seu Grêmio chegou até a semifinal depois de se classificar em décimo lugar na primeira fase. Uma recuperação que o modelo atual não permite. Hoje, chegar a novembro fora da zona da Libertadores com a camisa de um grande clube significa cobranças.
Neste ano, Ronaldinho defenderá um clube que é o retrato das oscilações típicas do Brasileirão. Campeão em 2009, o Flamengo lutou contra o rebaixamento até a penúltima rodada de 2010.
Para se ter uma ideia do choque que o astro enfrentará, nas taças erguidas pelo Barça nas temporadas 2004/2005 e 2005/2006, o Real Madrid era o único rival na luta pela conquista, como quase sempre. O terceiro colocado – respectivamente Villarreal e Valencia – não chegou nem perto de ameaçar. A diferença para esses “coadjuvantes de luxo” foi de 19 pontos em 2005 e 13 pontos em 2006. Um abismo que no Brasil só aconteceu uma vez nos pontos corridos, na primeira edição, quando o Cruzeiro alcançou 100 pontos contra 87 do Santos e 78 do São Paulo.
No ano passado, só dois pontos separaram o campeão Fluminense do terceiro colocado, o Corinthians (65 a 63). Em 2009, o Flamengo ergueu a taça com 67 pontos, dois a mais que Inter e São Paulo. Ronaldinho se diz confiante para encarar o equilíbrio da competição.
- Hoje em dia sou um dos mais velhos do grupo, é um momento diferente na minha carreira. E voltei ao Brasil com o objetivo de conquistar títulos. Vivo a expectativa de poder ajudar o Flamengo a fazer um excelente Campeonato Brasileiro como foi no Carioca - comenta, referindo-se ao recente título invicto.
Pentacampeão francês pelo Lyon, Juninho Pernambucano é outro que terá pela frente uma competição quase irreconhecível. O meia deixou o Vasco logo depois da conquista do Brasileiro de 2000, o quarto do clube. Com a mudança na contagem da CBF e os resultados dali em diante, o Vasco atualmente está atrás de Palmeiras (8), Santos (8), Flamengo (6) e São Paulo (6), além de ter a companhia do Corinthians na lista dos que têm quatro. Enquanto o Reizinho brilhava na França, São Januário se afastou das conquistas. Juninho tenta ajudar a mudar o incômodo retrospecto do clube nos pontos corridos. A melhor colocação foi o sexto lugar em 2006.
Em 2008, o Vasco foi rebaixado. Juntou-se ao grupo dos campeões nacionais que mudaram de divisão ao longo dos oito anos de pontos corridos – Bahia, Guarani, Grêmio, Corinthians, Coritiba e Atlético-MG foram os outros que sofreram.
Assim como Ronaldinho, Juninho está otimista para o desafio maior do que aquele que encontrou na França e no Qatar.
- Tecnicamente, o futebol brasileiro é muito melhor. O jogador que não gostar de treinar vai perder ritmo e sofrer com essa dificuldade. Mas não é o meu caso. Sempre gostei de treinar e o mais importante não é a quantidade de treinos, e sim a qualidade. Se você perguntar para quem trabalha comigo, todos vão dizer que eu posso jogar no futebol brasileiro. Mas o ideal é esperar e não falar antes - comenta.
Mudanças além da questão técnica
Além das reviravoltas na classificação ano a ano, as estrelas encontrarão um campeonato mais caro. Liedson, Juninho, Ronaldinho e Luís Fabiano deixaram o país numa época em que o maior salário nacional era o de Romário, que ganhava pouco mais de R$ 500 mil no Vasco em 2000 – valor que diminuiu para cerca de R$ 300 mil na transferência para o Fluminense. Hoje, quase todos os grandes clubes possuem pelo menos um jogador neste patamar. Fred, Neymar, Kleber, D’Alessandro, Felipe...não faltam exemplos de milionários da bola pelo país.
A administração, no entanto, ainda é de terceiro mundo. As dívidas crescem ano a ano. Passivos trabalhistas aumentam no ritmo das cobranças por resultados. Mas, às vezes, contratações certeiras salvam um ano. Foi o caso de Adriano no Flamengo em 2009. O atacante fez 19 gols na campanha do título. O Fluminense campeão de 2010 também estava longe de ser um time barato.
Pressionado depois da eliminação na Libertadores, o Corinthians investiu alto. Sem Adriano, machucado, o principal nome é Liédson. O atacante é outro iniciante no novo modelo de Brasileirão. Pegou só o começo da mudança de formato. Depois de ajudar o Flamengo a escapar do rebaixamento com 14 gols em 2002, foi seduzido por melhores perspectivas no Corinthians, vice-campeão naquele ano. Mas sua trajetória no Brasileirão de 2003 durou pouco. Foram 18 jogos e 10 gols. Partiu rapidamente para o Sporting. Nos sete anos de Campeonato Português, não foi campeão. Mas se manteve sempre entre os quatro primeiros. Um desempenho que, no Brasil, seria considerado invejável. Aqui, nenhum clube conseguiu se manter no topo de 2003 a 2010.
De todos os medalhões que voltam, Luís Fabiano é o mais "experiente" no modelo. Jogará no time do insatisfeito Rivaldo, outro sem conhecimento de causa quando o assunto é Brasileirão por pontos corridos. Já o Fabuloso tem uma breve história para contar neste formato. Com 30 gols, foi vice-artilheiro em 2003. Depois, transferiu-se para o Porto depois de cinco gols em oito jogos no primeiro turno da edição de 2004. Na época, o São Paulo ainda se preparava para virar a potência do tri em 2006/2007/2008. Agora, o atacante retorna com a responsabilidade de recuperar o prestígio do Tricolor, que ano passado ficou pela primeira vez fora da zona da Libertadores.
- Salvador eu não sou. Ninguém ganha sozinho. Conta com a ajuda de todos. Venho para contribuir e para fazer gol, que é o que eu sei fazer - comenta o Fabuloso
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