Sexta-feira, dia 25 de maio de 2001, por volta de 22h. Às vésperas do segundo e decisivo jogo pela decisão do Campeonato Carioca contra o Vasco, Pet não seguiu para a concentração do Flamengo. Irritado com o fato de a diretoria não ter cumprido a promessa de pagar dois de um total de oito meses de salários atrasados, o sérvio decidiu abandonar o clube a menos de 48 horas da decisão.
Pet ligou para o amigo Wilson de Souza, conhecido como Wilsão, torcedor do Flamengo e vizinho do gringo em um condomínio na Barra da Tijuca (Zona Oeste do Rio). Os dois foram jantar. No cardápio, o amigo do jogador usou a torcida rubro-negra para fazer o então camisa 10 mudar de ideia.
- Estava em casa, toca o telefone e do outro lado da linha era o Pet, chateado, nervoso. Ele me falou: ‘Meu querido, não vou jogar mais, vou sair do Flamengo’. Eu perguntei se ele estava maluco. Como assim não ia jogar a decisão?! Ele disse que ia embora, que acertou uma coisa com o Flamengo, prometeram um acordo e não cumpriram – recordou Wilsão.
Amigo de Pet, Wilsão sabe que quando o sérvio bate o pé é difícil fazer com que mude de opinião. Foi preciso agir com a emoção para quebrar o gelo do jogador.
- Nos encontramos na pizzaria que hoje é dele. O Pet bateu o pé firme, disse que ia embora, que voltaria para o seu país. Eu perguntei: 'E a torcida do Flamengo, como fica nessa história? Nem sei quanto você ganha, Pet, mas sabe quanto muitos torcedores do Flamengo recebem por mês?! As pessoas saem 3h da manhã de casa, num trem lotado, marmita debaixo do braço para segurar um dinheirinho para no domingo ver o Flamengo jogar, ver o camisa 10. Esse camisa 10 é você. Não é qualquer um'.
Wilsão, Pet e as respectivas esposas choraram na mesa do restaurante. Depois de algumas horas da tática de convencimento do amigo, o jogador foi para a concentração, já no início da madrugada de sábado, véspera do segundo jogo da decisão com o Vasco.
- Não sei se foi sorte dele, do Flamengo ou minha, o Pet ter me ligado naquele momento. Na conversa, ficamos emocionados, ele pegou o carro e foi para a concentração. Até hoje a diretoria encrenca um pouco com ele, engraçado isso, né?! Para alegria da Nação, ele voltou e jogou o que jogou. Deu passe para Edílson, fez o gol. Ele jogou pelo amor à torcida. Pet é um cara sortudo, e tudo ele faz bem.
Wilsão se sente no direito de tirar uma casquinha na comemoração pelos 10 anos do gol do tricampeonato:
- Disse que ele poderia fazer um gol sem querer, de qualquer jeito, mas que entraria para a história do Flamengo. Foi muita emoção no momento da falta, era como se eu tivesse chutado a bola com ele. Depois do jogo, o Pet me ligou para comemorarmos juntos. Quando nos encontramos, ele deu um abraço, me levantou e disse: ‘Muito obrigado, você que colocou na minha cabeça para jogar aquela partida’. Me senti um campeão naquele dia, mas não adiantava eu falar se não fosse a habilidade dele.
Ainda hoje, em churrascos e peladas entre amigos, Wilsão cisma em imitar a cara de Pet quando acompanhava a trajetória da bola, e a comemoração do gol, quando o sérvio se jogou de costas no gramado do Maracanã.
- Brinco com ele: ele bateu na bola, virou o rosto, acompanhou a bola, fez um gesto com a boca, saiu correndo e se jogou para trás. No dia seguinte, estava sentindo dores. Até hoje, imito ele fazendo aquele gol, ele ri e diz: 'Sou bom mesmo'.
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