O título invicto deste ano apaga as frustrações que Vanderlei Luxemburgo viveu na Gávea em 1991 e 1995, mas não deixa o treinador imune a críticas. Sem derrotas, o Flamengo assume status de campeão incontestável. Mas o desempenho da equipe ainda está longe de ser unanimidade. Em concorrida entrevista coletiva nesta segunda, no Hotel Windsor, na Barra da Tijuca, numa área com o sugestivo nome de salão Imperial, o treinador se mostrou aliviado com a conquista. Sabe que, pelos reforços contratados, havia a cobrança por um futebol mais encantador. Mas a pressão pelo título era maior.
- Futebol bonito só quem pode jogar é o Santos, que todo mundo gosta, de magia. Outro é o Cruzeiro, que está há sete anos junto. O Flamengo tem que fazer um futebol de resultados, pois se isso não acontecer, vem muita porrada. Numa sequência, podemos dar espetáculo.
O modelito de Vanderlei chamou a atenção: camisa social, calça jeans, e sandália de borracha. Assim como o futebol do time, pode não parecer muito bonito. Mas o pisante era da badalada marca Prada. Quando falta beleza, vai na grife mesmo.
- O Flamengo não teve atuações brilhantes, mas foi um time equilibrado, consistente, sabendo como jogar com adversários fortes. As coisas acontecem com planejamento. Começamos a ganhar o Carioca quando eliminamos os dois jogos de volta pela Copa do Brasil (Murici e Fortaleza). Agora, com o título carioca, vamos ter dois fins de semana livres. Esse título foi muito importante, um marco na história do Flamengo, que se divorciou da Gávea para ficar no Ninho do Urubu. Já criamos uma pequena estrutura para o atleta trabalhar, ter onde tomar café da manhã, descansar. É preciso ter uma relação profissional, com estrutura e ordenados em dia. Começa a era da estrutura, do profissionalismo.
Horas depois de o Flamengo conquistar o título, o presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou a morte de Osama bin Laden. A notícia tomou conta do noticiário mundial, mas Luxemburgo estava com a cabeça longe. Para ele, a taça rubro-negra era a única coisa relevante.
- Importante para mim que sou flamenguista é a conquista do título. Osama era procurado, causou muitas mortes no mundo, assim como o Saddam Hussein. Independentemente da concorrência de espaço na mídia, não sei se matar é maneira de recuperar alguma coisa - afirmou Vanderlei, que também garantiu seu espaço no noiticiário:
- Todo mundo queria falar comigo, então marquei coletiva para atender todos e depois aproveitar com a família.
Confira os principais tópicos da entrevista:
Adriano
Nas outras vezes em que estive aqui, briguei muito. E um profissional tem que brigar mesmo por melhores condições de trabalho. Na época, estava tudo atrasado, prêmio, salário, não tinha bola para treinar. Ainda contava com o Romário e o clube não pode nunca depender da boa vontade do jogador. Precisa ter sua estrutura para não ficar refém. Ele tem que trabalhar e ser cobrado por isso. Não contratar o Adriano foi uma decisão muito dura, mas tenho uma linha de conduta profissional. Em 1995, com o Kléber Leite na presidência, disse que o Flamengo não ficaria órfão do Romário. Dizem que o Adriano é excelente pessoa, não o conheço, mas o seu passado aqui, com fatos concretos, não cabia. O Flamengo não vai ficar órfão de um jogador novamente, como não vai ficar do Ronaldinho. O Flamengo é que a razão de ser.
A importância do goleiro Felipe
Precisava de um goleiro e o Felipe se encaixava. O goleiro de um time tem que ter a bola do jogo. Ele tinha uma história boa no Corinthians, mas existia resistência da Patrícia e do Michel (Levy, vice de finanças). Mas quem define é a comissão técnica. Expliquei que, para o projeto, era importante começar com um grande goleiro. O Flamengo está sendo bom para ele e ele está sendo bom para o Flamengo.
Thiago Neves
Ainda falta alguma coisa. No Fluminense, ele era muito mais agudo, chegava com mais frequência na cara do gol. Em função do estilo, ele precisa se ajustar ainda um pouco na marcação e chegar mais na frente.
Expectativa sobre Ronaldinho Gaúcho
Quando o Flamengo contratou o Ronaldinho Gaúcho, acharam que a gente teria o maior time do mundo. Isso leva tempo. Uns se adaptam mais rápido do que os outros. O ser humano é movido sempre por alguma situação. Se tiver um objetivo na vida, vai chegar. O Flamengo precisa dar condição para que ele busque isso.
Erros do Vasco nos pênaltis
O mais importante não é o batedor. Muitos títulos que foram conquistados assim mostram que os grandes cobradores perdem. O Zico perdeu (Copa de 1986). O segredo é o goleiro. Dida, Bruno e Felipe são grandes pegadores, inibem o adversário, que tentam tirar um pouco mais, pois se bobear perde. Isso dificulta e faz com que ele o jogador chute para fora.
Flu como exemplo
Um campeão se constrói nas derrotas. Aquela sequência de vitórias do Fluminense para evitar o rebaixamento em 2009 deu um amadurecimento muito grande para eles poderem ser campeões no ano seguinte. O Flamengo passou um pouco por isso ano passado e já deu uma resposta.
Críticas
Convivo muito bem com isso. A opinião externa tem interesses diferentes. Passei um tempo me preparando para entender como isso funciona. Existe uma competição entre analistas e técnicos, discutindo se eu acertei ou não. Existe um técnico dentro de campo, com uma responsabilidade, e outros fora que têm um compromisso com seus ouvintes e leitores. Acho graça em uns, outros, não. O que precisa prevalecer é o seu pensamento.
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