18 de mar. de 2011

Clássico dos Milhões vira o 'Clássico da Casquinha' em cima de Obama

O tradicional Clássico dos Milhões, que há algum tempo nem tem despertado tanta paixão nos gramados entre os torcedores de Flamengo e Vasco, ganhou um toque especial nos últimos dias fora das quatro linhas. A presidente Patrícia Amorim articulou, com a diretoria rubro-negra, a entrega da camisa rubro-negra ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, assim que o chefe de Estado desembarcar de helicóptero no estádio da Gávea, sábado, na sua visita ao Rio de Janeiro neste fim de semana. Mas o grande rival contra-atacou com um golpe de mestre. O presidente Roberto Dinamite acertou com o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes, ambos vascaínos, que a camisa cruz-maltina estará nas mãos do ícone mundial bem antes, quando ele for recebido pelas autoridades na Cidade Maravilhosa.




Na tarde desta sexta-feira, o Fluminense também anunciou que quer entregar a camisa tricolor para o presidente americano. A luta de Fla e Vasco pelos flashes e pela capa dos jornais e sites na frente do rival segue intensa e ganhou mais um competidor. Agora, é o "Clássico da Casquinha" dos clubes populares em cima do homem mais poderoso do planeta. Dinamite ainda não confirmou que estará com Sérgio Cabral e Eduardo Paes no momento em que o presidente receber a terceira camisa do Vasco. O clube, o primeiro grande clube no Brasil a aceitar negros, entre 1923 e 1924, fez questão de estampar o feito para presentear o negro mais ilustre. No lado esquerdo do peito da camisa, há a imagem de uma mão espalmada em preto e branco. Na gola, estão escritas as palavras "Inclusão" e "Respeito", em inglês, para que Obama entenda o significado dos símbolos. A esposa, Michelle, as filhas e a avó queniana do presidente americano, que ainda vive no Quênia, na África, também receberão camisas personalizadas.

Segundo Leandro Ramiro, gerente de marketing da Penalty, fornecedora de material esportivo do Vasco, a entrega da camisa a Obama será mais uma etapa de confirmação do simbolismo criado para o novo modelo que, por ser preto e ter as palavras “inclusão” e “respeito” na gola, faz uma alusão ao movimento feito pelo clube em 1924, quando permitiu que negros jogassem no time de futebol.




- Para toda marca, é importante uma ação de visibilidade como esta. Mas sempre dentro de um contexto pertinente. A camisa 3 do Vasco resgata uma homenagem à inclusão das minorias. Entregar essa camisa a Obama é traduzir para o presente o que aconteceu em 1924 – afirmou o gerente.

Procurado pela reportagem, o departamento de marketing da Olympikus, fornecedora de material do Flamengo, preferiu não se pronunciar sobre a importância da entrega da camisa a Obama. De acordo com informações da assessoria de imprensa, a ação é exclusiva do clube, por isso não há motivos para argumentos da empresa.

À luz do marketing esportivo, há quem considere o clássico pelo espaço nos meios de comunicação uma disputa sem fins lucrativos - economicamente falando - e sem sinal maior de status para o clube em caso de triunfo.

- São os famosos 15 minutos de fama da camisa. A foto é superpoderosa, mas tem curta duração. Não aumenta o status da camisa nem o valor da marca. E ninguém irá à rua comprar a camisa do Flamengo ou do Vasco por causa do Obama. Ele, certamente, nem vai vesti-la. Pode, no máximo, segurá-la. Mesmo assim, a Casa Branca costuma ser muito rigorosa nesses casos. Nem sei se isso acontecerá - afirmou o gerente de comunicação da Nike, Mário Andrada e Silva, que lembrou de passagem parecida com o presidente Obama no ano passado, quando o então presidente Lula entregou-lhe na Conferência da ONU camisa da Seleção Brasileira autografada pelos jogadores.

Madonna 'casaca'




Naquele episódio, Mário Andrada considerou o contexto até mais relevante, por tratar-se do presidente brasileiro entregando uma das marcas nacionais mais conhecidas no exterior ao chefe de Estado mais poderoso. De qualquer forma, com lucro ou não, Flamengo e Vasco prometem aquecer o fim de semana carioca com a mais nova polêmica. E os dois times já viveram histórias saborosas com outras grandes personalidades.

Na sua primeira turnê no Brasil, a popstar americana Madonna, durante a apresentação no Maracanã, em 1993, vestiu uma camisa rubro-negra, para deleite de seus torcedores. Dezesseis anos depois, o Vasco deu o troco: em nova passagem pela cantora no Rio para outro show, virou capa da primeira revista do Vasco. A foto era de Madonna segurando a camisa cruz-maltina. O grito de casaca ecoou em São Januário.

Ozzy x Iron Maiden


No Rock in Rio de 1985, o lendário Ozzy Osbourne também vestiu no palco a camisa rubro-negra e levou à loucura os torcedores que estavam presentes para ouvir os antigos sucessos da banda Black Sabbath cantados pelo astro em seu show na carreira solo. Mas se teve roqueiro rubro-negro, teve também banda pesada vascaína... Ano passado, os metaleiros do Iron Maiden, em mais uma de suas muitas excursões pelo Brasil, posaram com camisas de facção de torcida organizada do Vasco que homenageia o grupo nos bandeirões.

Ainda na música, o Flamengo marcou um golaço quando Frank Sinatra, na sua viagem ao Rio para o show inesquecível no Maracanã, em 1980, posou erguendo a camisa rubro-negra. No mesmo ano, o Papa João Paulo II, também no Rio, fez dobradinha. Mas, dessa vez, segurando uma bandeira vermelha e preta em tamanho miniatura.

O Vasco investiu em ídolos da bola. Ao saber que o astro francês Thierry Henry, carrasco do Brasil na Copa de 2006, na Alemanha, cantarolava o hino cruz-maltino na concentração do Arsenal, clube onde atuava, o então vice-presidente de futebol, José Luís Moreira, não pensou duas vezes: foi até Londres entregar um kit completo do clube para o jogador, que o vestiu, com orgulho, para felicidade dos vascaínos. Agora, Roberto Dinamite sonha em ver Obama como o mais novo ilustre cruz-maltino.

- Essa camisa é a história do Vasco, tem uma mensagem social muito importante. Não é só um pedaço de pano, vai muito além, entramos de cabeça na luta pela igualdade racial e social. O Vasco foi um pioneiro nesta área e nunca vai deixar de ser.

* Colaborou Rafael Cavallieri

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